De imigrante ilegal morando em abrigo, santista se torna advogada de famosos nos Estados Unidos

Filha de um vendedor de livros e uma professora de escola pública, a advogada santista Flávia Santos Lloyd, 44 anos, nunca imaginou que hoje teria um portfólio de clientes como Ivete Sangalo, Marco Pigossi, Virgínia Fonseca, Zé Felipe, Neguinho da Beija-Flor, Mumuzinho, Carlinhos Maia, Leo Fuchs, Rafinha Bastos, entre outros brasileiros famosos. Em entrevista para A Tribuna, ela conta que sempre sonhou em estudar fora do país, até que aos 20 anos entrou pela primeira vez em um avião rumo aos Estados Unidos.

“E estou aqui até hoje, esse é o meu lugar. Eu sempre sonhei com isso, mas nunca pensei que seria uma realidade. Quando criança eu andava pelos corredores da biblioteca do Centro Cultural Brasil Estados Unidos e sonhava em conhecer esse mundo”, conta.

Na época, a jovem cursava letras pelo Universidade de São Paulo (USP) e ganhou uma bolsa para estudar inglês por e ano na Golden West College, na Califórnia, através de programa de Estudos Internacionais.

“Vim de uma família muito simples, tudo foi sempre com bolsa. Mas mesmo sem os recursos financeiros meus pais sempre me incentivaram a ler, estudar e eu sabia que o estudo é que iria me tirar daquela vida”, afirma.

Após concluir o período no inglês, Flávia conta que não queria voltar ao Brasil e começou a fazer outros cursos para permanecer no país estrangeiro, chegou a estudar Jornalismo por dois anos, mas sem dinheiro para continuar pagando as taxas, pensou em voltar para a terra natal.

Mas nesse momento sua vida mudou de cabeça para baixo, quando descobriu que estava grávida de um namorado. Ela chegou a casar com ele após a descoberta, mas o relacionamento não deu certo. Sem ter onde morar e com o bebê recém-nascido, ela acabou ficando em um abrigo para sem-teto.

“Esse foi o momento mais difícil da minha vida até hoje, mas que sempre dá um norte. Quando as coisas estão ruins, eu penso assim, ‘pior que aquele momento não pode ser’, então consigo seguir em frente”, comenta.

Volta por cima
Para se manter nos Estados Unidos, ela chegou a trabalhar como faxineira e babá, até conseguir dinheiro para regularizar seus documentos e conseguir um lugar para morar. Sua vida começou a melhorar quando conseguiu um emprego em um escritório de advocacia como recepcionista. Com um emprego fixo ela voltou a estudar, fez bacharelado em Comunicação, mestrado em Relações Internacionais e doutorado em Direito.

“Chegou um ponto na minha carreira que eu estava advogando e dando aula para um curso preparatório da Ordem dos Advogados dos Estados Unidos, mas não estava conseguindo administrar os dois empregos, era mãe solteira, meu filho precisava de atenção, então decidi abrir uma salinha (para continuar advogando) e dando aulas. Eu imaginava que essa seria minha vida”, conta.

Mas com o passar do tempo, os clientes foram aumentando e cada vez clientes cada vez mais renomados. “Foi uma sensação surreal, como é que pode essa pessoa (famosos) estar falando comigo, mera Flávia. Eu fico chocada toda vez que algum famoso me contrata”, diz.

Atualmente a advogada tem quatro escritórios ativos: em Newport, Beverly Hills, San Diego e em Orlando.

Família
Além de ter construído sua carreira profissional, foi fora do país que ela também construiu sua família. Sem perder o jeitinho brasileiro de ser, foi em uma balada que ela conheceu o marido americano. “Era o aniversário de uma amiga de uma amiga. Como boa brasileira que sou, fui mesmo sem conhecer ninguém e meu marido foi convidado da mesma maneira, só conhecia o DJ da festa. E foi assim que eu conheci meu marido”, conta rindo.

Desse relacionamento nasceu Benjamin, que hoje tem 3 anos de idade. “O novo integrante da família foi bem planejado. Foi uma decisão por idade, já estava com 41 anos, então ele veio para revolucionar, porque eu já pensava que tinha acabava a fábrica de filho”, explica.

Quanto ao filho mais velho, Lucas, ela explica que faz questão de incentivar ele da mesma maneira que seus pais a incentivaram. “Ele está trilhando seu caminho, não seguiu meus passos na área jurídica, mas acabou de se graduar em Educação Física e foi aceito em um programa de mestrado na área”, conta orgulhosa.

O restante da sua família continua na Baixada Santista e, sempre que pode, ela volta para visitá-los. Apesar da distância, nunca perdeu o contato e nem deixou de lado a terra onde nasceu.

“Eu sou muito próxima deles (família), apesar de estar longe, é a minha raiz, é meu povo. Mesmo longe fisicamente sempre falo com eles, os acompanho. Apesar da distância eles estão no meu coração”, afirma.