Presidente de construtora fala sobre otimismo no setor

José da Costa Teixeira é o primeiro de uma série de entrevistas sobre construção civil

Por: Da Redação  -  07/12/19  -  20:56
José da Costa Teixeira, diretor-presidente da Construtora Macuco
José da Costa Teixeira, diretor-presidente da Construtora Macuco   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

Economia estável, inflação baixa, crescimento de 0,6% no PIB do terceiro trimestre. O caldo de boas notícias na área econômica tem levado um ar mais otimista ao setor da construção civil. Depois de alguns anos de ritmo mais lento nos novos lançamentos e de compasso de espera não só pela recuperação da economia, como de flexibilização de leis que dificultam a expansão em algumas áreas de Santos, empresários da Cidade já planejam o que será dos próximos anos.


José da Costa Teixeira, diretor-presidente da Construtora Macuco, inicia a série de entrevistas que A Tribuna vai fazer nas próximas semanas com os empresários do setor. Há 38 anos no mercado, a Macuco já construiu e entregou mais de 2.600 unidades, ou 512 mil metros quadrados, o equivalente a 72 estádios do Maracanã. Teixeira divide a gestão da construtora com os filhos Matheus e Lucas e trabalha para entregar a Santos nos próximos anos todos os empreendimentos iniciados ou em projeto, mas namora os municípios vizinhos onde, segundo ele, as travas para construir são menores.


As últimas notícias da área econômica animam a construção civil?


Animam, claro, mas eu não trabalho com base na economia. Se você se preocupar com a economia você para. Eu não tenho essa preocupação de lançar ou deixar de lançar alguma obra porque a economia está assim ou assado.


Se a economia não altera o planejamento da sua construtora, o que o senhor diria que preocupa então?


O que mais nos preocupa aqui em Santos, especificamente, é a queda do poder aquisitivo das pessoas. Porque nós não estamos gerando emprego em Santos. Somos uma cidade turística que não é turística. E somos a cidade do contra. Aqui todo mundo é contra tudo. Temos lá o Emissário Submarino que poderia ter uma roda-gigante, um parque, uma atração qualquer, mas nada pode. Se você quer fazer alguma coisa no Centro está cheio de travas.


O Centro de Santos não é atrativo para a construção por conta dessas barreiras?


A gente está numa linha do não. Quem tombou esse Centro Histórico e criou tanta limitação não imaginou que um dia precisaria mexer no Centro para ampliar o poder de construção de Santos. O Centro tem toda a infraestrutura pronta. É uma outra cidade. Criou-se um monte de empecilho e hoje ninguém tem coragem de desatar esse nó. Se um dia destravarem o Centro, teremos uma outra cidade para fazer que já está pronta em termos de infraestrutura.


E se não houver esse “destravamento” e essa tomada de consciência, o que o senhor prevê para daqui cinco, dez anos?


A cidade para. As cidades vizinhas estão muito mais à frente. Praia Grande não tem um entrave. Então, o que vai acontecer? Vai ser muito melhor construir fora. Os terrenos estão acabando. Não temos nenhum bairro novo para criar. Não temos mais para onde expandir.


E a Zona Noroeste, não é uma opção?


Sim, mas antes a Prefeitura deveria investir na Zona Noroeste. As obras na entrada de Santos, com melhorias de acesso aos bairros da ZN, têm potencial para expandir o desenvolvimento daquela região. Precisava fazer um investimento grande. A drenagem, por exemplo...


A tecnologia tem ajudado?


Olha, nós perdemos 60% do nosso tempo de trabalho com a burocracia: aprovar projeto, pedir Habite-se, bombeiro, fazer a vistoria, projeto de gás, projeto de fundação. Na nossa área, parece que ainda não entrou a tecnologia. O vai e vem de projetos e alterações ainda são presenciais nos órgãos públicos, na Prefeitura.


E qual o perfil do comprador de imóvel em Santos? Como a Macuco define para que público vai construir?


Até algum tempo atrás, lançávamos projetos de R$ 600 mil pra cima. Agora, já estamos construindo para baixo desse valor. Há muitas pessoas idosas vindo morar aqui e que não têm dinheiro para imóveis mais caros. Estamos lançando prédios com apartamentos menores, na faixa de R$ 450 mil, que foi o que mais vendemos este ano.


A notícia de que o PIB do terceiro trimestre ficou em 0,6% e pode ser que eleve a previsão do PIB de 2019 anima o consumidor?


Sim, com certeza. Se o País cresce, o clima melhora e anima o consumidor. Esta semana, vendi um apartamento para um casal de jovens médicos que me disse: “olha, eu só tô comprando esse apartamento à vista porque acredito nesse presidente”. Eu ainda cutuquei: você não acha que ele fala muita bobagem? “Mais besteira do que os presidentes petistas falaram impossível”, me disse o casal. “E ele não fala besteira. Ele fala o que pensa e o que é verdade. É que dói para muita gente. Nós acreditamos nele, porque ele não vai roubar”. Foi o que o casal me disse.


Algumas pessoas diziam que, embora tivessem dinheiro, não iriam comprar imóvel enquanto o País não desse sinais de mais estabilidade. O senhor acha que isso começa a mudar?


Claro. Cada vez que sai uma notícia ruim, o comprador se retrai.


Comprar imóvel para investir ainda é um bom negócio?


Sim. Hoje, na Macuco, nós temos mais renda de aluguel do que da construtora. É um excelente negócio, desde que você compre em um lugar valorizado ou que vá valorizar. Quem quer comprar para investir não pode escolher o imóvel mais barato. Ele tem que comprar um produto que seja sempre procurado. E, para isso, tem que ter qualidade e infraestrutura, sim, mas em um lugar bom da cidade.


E como vocês fizeram para manter as vendas nesse período mais crítico da economia?


Quando percebemos que o cliente estava com dificuldade no banco, nós começamos a financiá-lo diretamente em até 140 meses. Essa facilidade fez a roda girar e eu não parar de vender.


E o futuro?


Os meus filhos, que vão assumir os negócios logo, logo, têm que ter coragem de expandir os negócios para outras cidades do Interior, como São Roque, Sorocaba. Aí sim, o futuro será bem promissor.


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