Lojistas e trabalhadores da Baixada Santista vivem dilema do 'emprego x vida' na fase vermelha

Proteger a própria saúde e a da família ou garantir o ganha-pão. A Tribuna conversou com profissionais do comércio e setor de serviços

Por: Rosana Rife  -  05/03/21  -  10:27
Somente funcionarão os serviços essenciais durante os próximos 14 dias
Somente funcionarão os serviços essenciais durante os próximos 14 dias   Foto: Matheus Tagé/AT

Quem trabalha no comércio ou no setor de serviços vive um dilema após o Governo do Estado anunciar medidas mais rigorosas, que colocam as cidades na fase vermelha, a partir deste sábado (6): o medo de perder o emprego e a necessidade de proteger a própria vida e a dos familiares.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Com as alterações, que visam evitar um agravamento ainda maior dos casos  e mortes por covid-19, somente funcionarão os serviços essenciais durante os próximos 14 dias, em toda a Baixada Santista, seguindo as determinações estaduais. A notícia deixou o vendedor Dennis Guerra, 39 anos, preocupado.


“A gente fica apreensivo pela nossa segurança e da nossa família. Mas tem o lado econômico. Quem trabalha no comércio recebe comissão, então, o salário cai pela metade com o fechamento das lojas. É um dilema”.


O recorde de mortes no País, com o registro de quase 2 mil mortes na  quarta-feira (3), assustou a gerente de loja Danielle Oliveira Justino, 32 anos. “Tem morrido muita gente. Se não aumentarem a vacinação, o País vai acabar pela doença ou pela fome, porque a gente vai sofrer muito com novo fechamento. Dependemos disso”.


Ademar Ferreira de Jesus, 30 anos, atua como ambulante. Tem uma banca na Praça da República, no Centro,  e é com o dinheiro da venda de diversos objetos que paga o aluguel, a faculdade da mulher e as outras contas de casa.


“Não sei o que vou fazer. Ninguém estava preparado para um novo fechamento. O começo do mês é a melhor fase para as vendas. Com isso, devo ter um prejuízo de uns R$ 3 mil. É o dinheiro das contas”. 


Lojistas


Não são apenas os trabalhadores que estão apreensivos, comerciantes também temem  o futuro. Eles contam que ainda sentem reflexos do ano passado e parar agora será um novo desafio.


“Estou há 60 anos no setor e nem na época do governo Collor, com o confisco de dinheiro, foi tão difícil. Não sabemos para onde correr, porque o movimento despencou”, afirma o empresário Edison Gil, 83 anos.


O comerciante Sandro Sioufi de Sousa, 47 anos, conta que faz parte de um grupo de lojistas no WhatsApp e que vários deles falam que estavam em dificuldades antes mesmo da nova fase vermelha. “Muitos não estão conseguindo pagar as contas. Tem gente doente sem saber o que fazer e ficará mais complicado”.


Antes


Cabeleireira há mais de 15 anos, Bianca Arena Inocêncio, 31 anos, diz que passar por essa nova fase vermelha não será fácil. “A gente chegou num nível que se faz necessária essa paralisação para não ter um colapso na Saúde. Mas vai ser muito difícil. Só espero que passe logo”.


No início da pandemia, no ano passado, o auxílio emergencial foi ajuda e tanto para segurar os tempos em que o salões tiveram de ficar fechados, conta. Agora, ela não sabe como será.


“Foi grande ferramenta de ajuda para o profissional liberal porque, com salão fechado, a renda não entra. Então, ajudou a pagar o aluguel, dívidas, a manter a vida e ele foi arrancada da gente. Nosso movimento não voltou 100% e acredito que, por um longo período o auxílio não vai voltar”.


Bianca diz ainda que fica indignada com a atitude das autoridades. Na avaliação dela, eles deveriam ter tomado uma atitude antes. “Os índices de ocupação das UTIs no pós-eleição estava em 59%. Na alta temporada, em 63% e agora que está em 47%, na Baixada, e ocorre esse alarde todo. Por que lá atrás não fizeram esse meio que lockdown. Tudo isso poderia ter sido evitado”.


Fiscalização


Lojistas e trabalhadores cobram do Poder Público mais fiscalização em relação a aglomerações, pessoas circulando sem máscaras e festas clandestinas. “Nós estamos pagando o preço por conta de pessoas que não têm consciência”, diz Gil.
“Nós seguimos todos os protocolos de segurança. Trabalhamos direito e somos penalizados pela falta de conscientização dos outros. É preciso fiscalizar tudo isso”, acrescenta Sousa.


Explicação


A Prefeitura informou, em nota, que desde o início da pandemia de covid-19, a Guarda Civil Municipal (GCM) e equipes da Secretaria de Finanças (Sefin) fiscalizam as regras em vigor para o enfrentamento ao coronavírus em toda a Cidade, seja em estabelecimentos comerciais, praças, vias públicas, orla da praia e eventos clandestinos. O que resultou em 13.329 orientações da GCM para uso de máscara e 684 multas.


O Município informa ainda que a Guarda Municipal e Secretaria de Finanças continuam a apoiar a fiscalização do toque de restrição, que na fase vermelha passará a ser das 20h às 5h. A população pode denunciar irregularidades e eventos clandestinos pelo 153.


Logo A Tribuna
Newsletter