Indefinição marca cenário eleitoral em Santos

Em Santos, 19 partidos pretendem lançar um nome ou já possuem pré-candidatos a prefeito, mas pandemia atrasa alianças e acordos

Por: Sandro Thadeu & Da Redalçao &  -  14/06/20  -  13:58
Única certeza é que mandato de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) deixará Paço Municipal em 2021
Única certeza é que mandato de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) deixará Paço Municipal em 2021   Foto: Luigi Bongiovanni - 1/6/18

Em um momento de incertezas e dúvidas em razão da pandemia do novo coronavírus, a definição de candidaturas e alianças para as eleições de Santos está longe do fim. O cafezinho entre os políticos, as reuniões com filiados e os encontros para traçar cenários foram prejudicados pelo isolamento social. Ainda assim, 19 partidos pretendem lançar um nome ou já possuem pré-candidatos ao Executivo. Todos aguardam as convenções para bater o martelo.


Um ingrediente a mais de preocupação às direções das siglas nesse cenário afetado pela covid-19 é pensar em estratégias para manter vivo o interesse do cidadão pelo pleito, cuja data de realização ainda segue em aberto.


Originalmente, o 1º turno está marcado para 4 de outubro, mas pode ser adiado por algumas semanas. Cabe ao Congresso Nacional tomar a decisão. Se nada mudar, as convenções municipais para definir as candidaturas devem ocorrer entre 20 de julho e 5 agosto.


“A gente vive um misto de incertezas. A forma de buscar o eleitor vai ser muito diferente. Precisaremos criar um clima na Cidade para motivar a pessoa a sair de casa para votar”, afirmou o presidente do PV em Santos, Mario Bernardino.


No pleito de 2016, o índice de abstenção foi de 23,66% - ou seja, 80.094 pessoas não participaram desse processo. O pré-candidato a prefeito de Santos, o deputado estadual Kenny Mendes (PP) também tem essa preocupação e defende o adiamento das eleições.


Ele teme um esvaziamento do pleito, devido ao receio de muitas pessoas serem infectadas pela covid-19. Cita ainda que a manutenção do calendário original inviabiliza a ida às ruas para pedir votos.


Na avaliação da presidente municipal do PSDB, Renata Bravo, o contexto atual prejudicará muito o momento de colocar a campanha na rua para valer. “Todo mundo está acostumado a fazer esse corpo a corpo com os eleitores e a realizar reuniões com o povo. O grande desafio é convencer e sensibilizar as pessoas de forma virtual. Os partidos perdem com isso”.


Lives


Pré-candidato a prefeito pelo PDT, o médico Marcio Aurélio Soares explicou que, até sexta-feira, organizou 47 debates ao vivo, nas populares lives, com convidados e pré-candidatos a vereador. Essa foi uma forma encontrada para dar visibilidade à legenda e auxiliar no formulação do programa de governo.


O presidente do PCdoB santista, Thiago Andrade, explicou que há duas semanas o partido tem feito lives com filiados interessados em disputar uma vaga na Câmara e pessoas ligadas à sigla para tratar de temas relacionados ao Município.


“A nossa vocação é estar nas ruas, dialogando com os moradores. As discussões sobre a política municipal perderam velocidade e há uma grande dúvida de como fazer campanha durante a pandemia”.


Ignorar redes é um erro


“Quem não utilizou as redes sociais de forma adequada durante as eleições admite que errou muito. Isso ocorreu independente do partido e do perfil do candidato”. A afirmação é da cientista política e especialista em Políticas Públicas e Finanças pela Universidade de Chicago, Juliana Fratini.


Ela foi a responsável por organizar o livro Campanhas Políticas nas Redes Sociais: Como Fazer Comunicação Digital com Eficiência. Lançado em janeiro, a publicação da Editora Matriz traz vários artigos de marqueteiros, políticos e intelectuais de diferentes partidos e ideologias.


Juliana relembra que um exemplo negativo de uso das rede sociais ocorreu com o PT, em 2016. “O partido perdeu completamente a disputa no ambiente digital. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (que concorria à reeleição), disse que não acreditava nas redes para fazer campanha”. João Doria venceu a disputa no 1º turno.


Ele entende que a rede social não é um canal de mídia, mas um espaço que possibilta às cultivarem relacionamentos. Nessa linha, menciona o historiador italiano Luciano Canfora, que aponta que as discussões democráticas na Grécia Antiga eram feitas como se fossem um teatro - o que fez o intelectual chamar a democracia ateniense de “teatrocracia”.


“As pessoas querem construir imagens, evidentemente melhores do que costumam ser, o que é correto dentro da perspectiva do marketing político, mas é um teatro, um jogo de representação. O candidato vai construir esse relacionamento com eleitor nas redes, mas encenando muita coisa”.


Na visão da cientista política, ainda dá tempo para um pré-candidato correr atrás do prejuízo, mas alerta que outros já iniciaram essa construção há tempos. “Um investimento elevado para se fazer visto no ambiente digital não é sinônimo de conquista do público. A confiança só vem com o passar do tempo”.


Quem ganha e quem perde


O cientista político Marcelo Di Giuseppe acredita que a manutenção do 1° turno para 4 de outubro tende a beneficiar os prefeitos que buscam a reeleição e os nomes apoiados por eles. “O adiamento do pleito seria justo com a oposição, porque o governo não parou de tocar obras e apareceu bastante ao divulgar as ações na pandemia. Já a oposição não teve condição de andar nas ruas”. Sócio-proprietário Instituto de Planejamento Estratégico (Ibespe), Di Giuseppe explicou que as pesquisas feitas por ele apontam que os prefeitos que realizaram muitas lives nas últimas semanas tiveram uma melhora na imagem e os cidadãos passaram a conhecê-los melhor.


Convenções municipais serão palco de definições partidárias


Ao menos 19 partidos pretendem lançar um nome ou possuem pré-candidatos a prefeito de Santos. No entanto, o martelo só será batido nas convenções municipais. Até lá, é provável que ocorram alianças e acertos entre dirigentes estaduais e nacionais das siglas, que nem sempre agradam os diretórios locais.


A presidente do PSDB de Santos, Renata Bravo, afirmou que o partido lançará o ex-secretário municipal de Governo, Rogério Santos, para a sucessão de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Porém, o vereador Augusto Duarte disse pleitear a indicação da sigla.


Já o secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, que comanda o PSDB em São Paulo, afirmou que a ideia de o ex-prefeito João Paulo Papa concorrer só depende do ex-gestor. Papa não respondeu.
O responsável pelo PSB na Cidade, Benedito Furtado, citou que a deputada federal Rosana Valle poderá concorrer. Ela diz que tomará a decisão mais para frente. O auditor-fiscal da Receita Federal Elias Carneiro Júnior defende que a sigla tenha candidatura própria e também se coloca à disposição dos socialistas.


Cenários


Além de Duarte, a Câmara possui outros dois postulantes ao Palácio José Bonifácio: Antonio Carlos Banha Joaquim, que preside o MDB no Município, e o presidente do Legislativo, Rui De Rosis (PSL), cuja possível candidatura é vista com bons olhos pelo presidente estadual da sigla, o deputado federal Júnior Bozzella.


Três partidos de esquerda também já definiram os indicados para concorrer à Administração. São eles: Douglas Martins (PT), Guilherme Prado (PSOL) e Marcio Aurélio Soares (PDT). O PSTU pretende lançar alguém, mas o nome ainda está em aberto. 


Outros três partidos devem lançar pela primeira vez um nome para prefeito: Avante (Carlos Paz), Republicanos (Ariovaldo Feliciano) e Novo (João Villela). Também pretendem participar o deputado estadual Kenny Mendes (PP), Moyses Fernandes (PV), Tanah Corrêa (Cidadania) e Décio Couto Clemente (Pros). 


Alinhados com o presidente


Há ainda alguns pré-candidatos de direita e alinhados com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O mais conhecido é o desembargador aposentado e ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Sartori (PSD). 


Há mais três integrantes desse espectro político de olho no Executivo: Carlos Alberto de Sá Romano (DC), Luiz Fernando Lobão (PTC) e Marcelo Coelho (PRTB).


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