Pessoas com deficiência sofrem mais na pandemia e vivem sequelas da quarentena

Isolamento social causou impacto intelectual e físico para elas e também afetou famílias

Por: Nathália de Alcantara  -  26/08/21  -  11:38
 Renata Mendes do Nascimento, 43 anos, dona de casa do bairro Bom Retiro
Renata Mendes do Nascimento, 43 anos, dona de casa do bairro Bom Retiro   Foto: Arquivo Pessoal

O isolamento social na pandemia teve impacto em toda a sociedade, mas ainda mais nas pessoas com deficiências intelectual e física e suas famílias. Na retomada presencial das atividades de instituições voltadas a esse público na Baixada Santista, sequelas do distanciamento foram notadas e ainda são trabalhadas, inclusive com parentes.


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O presidente do Conselho das Pessoas com Deficiência de Santos (Condefi), Francisco José Moreira da Silva Júnior, sentiu essa realidade dentro de casa. “Tenho uma filha autista severa não verbal e sei que não sairá alfabetizada da escola, mas ela perdeu a socialização do ambiente escolar, que era fundamental”.


Segundo ele, houve uma desorganização da rotina e isso impactou diretamente a vida de mães, pais e filhos.


“Muitas mães, que costumam ser sozinhas, pois os pais normalmente vão embora nesses casos, sofreram muito. E se a mãe não está bem, a criança também não estará bem”, diz Silva, chamando a atenção para o assunto na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla.


A diretora clínica da Casa da Esperança, Maria Lúcia Leal dos Santos, explica que esse período de mudança na rotina fez com que apenas não houvesse ganho na linguagem. No entanto, com relação à parte motora, houve regressão. A entidade atende 250 pessoas, de recém-nascidos até 18 anos.


“Vemos que todos conseguiram reverter essa situação com o retorno presencial. Mas, se não tivéssemos voltado, as pessoas seriam muito afetadas.”


Ela comenta, ainda, que o comportamento das crianças mudou muito. “As crianças brincaram menos e, com isso, existe menos estimulação na linguagem e nos quadros motores. As famílias que optaram por não voltar assim que se podia tiveram mais dificuldades, pois não têm a mesma habilidade de manuseio que um terapeuta”, explica Maria Lúcia.


A presidente da Mensageiros da Luz, Edna Daguer, também percebeu que a pandemia trouxe impactos muito grandes. “Nós estamos sentindo um estresse muito grande e as crianças também. Algumas delas tiveram, inclusive, depressão por estarem acostumadas com a rotina de escola, os amigos e atividades”, menciona.


Na entidade, que atende 30 pessoas de 2 a 63 anos, estão sendo realizadas atividades com a intenção de socializar novamente os atendidos. “Queremos que eles sintam a vida de volta. Foi muito tempo, e muitos se fecharam.”


Perdas


Segundo a diretora pedagógica da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Santos (Apae), Rosângela Mara Cardoso Aquem Sion, o comportamento dos alunos de fato mudou. “Foi afetada, principalmente, a parte psicológica, com alguns alunos sendo tratados de forma diferenciada e encaminhados para especialistas, pois os pais vieram nos pedir ajuda”.


Com a retomada das atividades presenciais, ela relata melhora muito rápida. “Nossa maioria é autista, e eles precisam de rotina. Com um dia da semana de aula presencial não se tem isso”, argumenta Rosângela.


Outra questão a ser trabalhada foi a perda de familiares para a covid-19. “Temos casos específicos de pacientes que tiveram pai e mãe internados e, até, casos de morte”, explica a diretora da Apae, que tem 139 alunos de 4 a 52 anos com deficiência intelectual, Síndrome de Down e autismo.


De acordo com a diretora da escola do Lar das Moças Cegas, Marta Valdívia, a pessoa com deficiência visual é predominantemente tátil. “Fizemos adaptações para atendê-los adequadamente e estamos organizando o ritmo e a vida de cada um deles. A escola é social”, menciona.


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