Governo de SP atrasa pagamento a adolescentes do Jepoe

Jovens inscritos no programa de alistamento civil estão sem receber a bolsa de R$ 500

Por: Gabriel Oliveira  -  13/11/18  -  10:54

Programa criado e desenvolvido pelo governador Márcio França, candidato derrotado na corrida ao Palácio dos Bandeirantes, o programa de alistamento civil Jepoe (Jovens no Exercício do Programa de Orientação Estadual) está com pagamentos atrasados em São Vicente. Há adolescentes que não receberam a prometida bolsa-auxílio de R$ 500.


Empossado governador em abril, após Geraldo Alckmin renunciar para concorrer à Presidência da República, França lançou o Jepoe em julho, inspirado no Jepom, versão municipal que idealizou quando comandou São Vicente (1997-2004).


Dentre as 16 cidades beneficiadas está São Vicente, chefiada atualmente por Pedro Gouvêa, que está em sua primeira gestão à frente do Executivo.


No Jepoe, jovens entre 16 e 18 anos em situação de vulnerabilidade social participam de cursos e atuam nas ruas, com suporte a ações de segurança, orientações ao povo e atividades sociais.
O treinamento começou em 24 de agosto e a formatura dos participantes aconteceu em 22 de setembro. Hoje, 886 jovens fazem parte.


Apesar do trabalho de 4h diárias nas ruas, 192 adolescentes não receberam nenhum pagamento até hoje e os outros 694 só tiveram a primeira bolsa-auxílio depositada, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, que alega problemas no cadastro como causa do atraso.


Problemas


Uma empresária moradora do Itararé conta que o filho ainda não viu a cor do dinheiro. “Fui no Banco do Brasil e falaram que a data de nascimento dele estava errada. Estive na sede do projeto para resolver e, no mês seguinte, deu o mesmo erro”.


O jovem ainda não recebeu em nenhum dos três meses de projeto. “Eles alegam que o pagamento está na conta, só que, por erro da administração, os meninos não conseguem receber”.


Ela relata ainda que um dos monitores do Jepoe ameaçou que quem faltasse por conta do atraso nos pagamentos seria desligado do programa.


Uma doméstica moradora da Vila Margarida possui filho e sobrinho integrando o projeto e eles só receberam a remuneração de um mês. “Já fomos ao banco e dizem que não tem nada depositado”.


Segundo a mulher, um monitor disse que quem não estivesse satisfeito deveria pedir para sair.


Uma cabeleireira que mora no Jóquei Clube relata que, assim como nos casos de outros adolescentes, teve de corrigir o cadastro do filho para que o primeiro pagamento fosse realizado. Depois não caiu mais nada. “Meu filho ficou uns três dias sem ir porque desanimou. Os meninos trabalham e, no dia do pagamento, não têm dinheiro”.


O cenário não está claro e há divergência nas informações. Enquanto algumas mães garantem que houve pagamento em setembro, referente aos dias iniciais de projeto, o Governo do Estado alega que a primeira bolsa-auxílio só é devida a partir de outubro.


Continuidade


Para a filha de 18 anos de uma cuidadora de idosos da Vila Margarida, só caiu o primeiro pagamento. O entusiasmo da garota pelo trabalho virou frustração, ainda mais porque o governador eleito, João Doria, não deve dar continuidade ao projeto. “Eu acho um absurdo”.


Na campanha eleitoral, França falou muito do Jepoe como medida para combater a violência, já que os jovens carentes, ao terem uma ocupação, são menos suscetíveis a entrar para o mundo do crime.


Respostas


Responsável pelo Jepoe, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado alega que os atrasos são consequência de problemas nos cadastros dos participantes do programa e diz que as pendências serão regularizadas até o próximo dia 21.


Em nota, a secretaria aponta que os jovens têm direito, até agora, a dois pagamentos, sendo o primeiro em outubro e o segundo em novembro. Contudo, 192 jovens não receberam nada e os outros 694 só receberam até agora a primeira bolsa-auxílio.


A secretaria sustenta que “problema do cadastro por parte da Prefeitura/executora no sistema de pagamentos do Governo do Estado” causou os atrasos. “No processo mensal de atualização deste cadastro, não foram enviadas as informações solicitadas no prazo previsto, restando inconsistências que impedem o pagamento no banco”.


Segundo o Estado, as pendências no cadastro foram entregues no último dia 8 e encaminhados ao Banco do Brasil no dia seguinte. “Caso todos os cadastros estejam corretos, a regularização do pagamento será até 21 de novembro, considerando a semana de feriados prolongados à frente”.


Sobre as ameaças aos jovens, a secretaria declarou que “condena de forma veemente qualquer ação que não corresponda aos valores e às boas práticas exigidas para a execução do programa”.


Em nota, a Prefeitura de São Vicente repassa a culpa e diz que uma empresa contratada para gerenciar o projeto é a responsável pelo cadastramento dos bolsistas.


Conforme a gestão Pedro Gouvêa, os problemas foram resolvidos e “a administração aguarda a liberação da instituição financeira”.


Questionada pela Reportagem, a assessoria de imprensa do governador eleito João Doria não respondeu se manterá o programa ou não a partir do ano que vem.


Logo A Tribuna
Newsletter