O anúncio de que a Ford vai encerrar a fabricação de automóveis no Brasil surpreender os proprietários de modelos da montadora americana da Baixada Santista. Eles temem eventual falta de peças de reposição e desvalorização dos preços de revenda dos automóveis. A saída da gigante do motor foi informada nesta segunda-feira (11), e vai resultar na demissão de cinco mil trabalhadores, calcula sindicato da categoria.
A eventual desvalorização dos seminovos está baseada na lei de oferta e procura. E acontece sempre que um modelo é descontinuado (quando deixa de ser produzido).
O Sindicato Nacional da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios avalia que alguns motoristas não vão manter seus veículos após o fim da produção nacional. E, isso, pode ocasionar excesso de oferta no mercado e desvalorização dos preços de revenda. A entidade acredita que os modelos novos, que serão produzidos no exterior, podem ter os preços elevados, dada a escalada do dólar e valor de frente.
Dono de um Ford Ka 2018, o marceneiro autônomo João Alberto de Souza teme perder dinheiro na hora de revender o veículo. “Ainda estou pagando o carro. Meu plano era trocar por um modelo mais novo no fim do ano. Agora, não sei se vendo agora ou espero quitar”, afirma ele, que é morador de São Vicente.
Ele também relata medo de que alguma peça quebre. “Eu uso o veículo a trabalho. Então, cada dia parado significa que não vou ganhar”. O autônomo não é o único nessa situação. A universitária Carmen Ferreira é dona de um Fiesta 2012. “Até hoje não passei nenhum problema (com o carro), mas nunca se sabe quando uma peça vai dar defeito. Se isso aconrecer, o que farei:”.
Em nota, a Ford descarta tal cenário e garante que “sua rede de concessionários e continuará oferecendo assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia”. Na Baixada Santista, são três pontos de revenda em Santos, Praia Grande e Guarujá,
Setor
O anúncio da montadora americana surpreendeu políticos e o setor produtivo. Até o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) comentou a decisão de encerrar as atividades em solo nacional. Segundo ele, a indústria automotiva “puxa” a cadeia de fornecedores. Com o fechamento das plantas nacionais, o temor é que seja um duro golpe para a produção industrial brasileira.
No país desde 1919, a Ford já obteve R$ 20 bilhões em incentivos fiscais, calcula o governo federal. A produção será interrompida imediatamente em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), com a fabricação de algumas peças continuando por alguns meses para sustentar os estoques para reposição. A unidade da Troller em Horizonte, no Ceará, vai operar até o quarto trimestre deste ano. As vendas de EcoSport, Ka e T4 continuarão só até o fim dos estoques.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a decisão da Ford é um sinal de alerta para o Congresso e as três esferas de governo “sobre a necessidade de aprovar, com urgência, medidas para a redução do Custo Brasil”.
Já a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) disse não comentar a decisão da gigante do motor norteamericana.