Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado nesta terça-feira

Data traz reflexão sobre o quanto é importante discutir o preconceito que ainda existe

Por: Sheila Almeida  -  20/11/18  -  14:12
  Foto: Reprodução

Faz 130 anos que se aboliu a escravatura e nesta terça-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra, militantes da causa ainda convidam gente de todas as cores a refletir sobre atitudes e educação – pilares essenciais à mudança no cenário do preconceito na região e no País.


Se há quem conteste a importância da luta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra números: a taxa de analfabetismo de pretos ou pardos em 2016 era de 9,9% diante 4,2% de brancos. O rendimento médio dos trabalhadores negros era de R$ 1.570,00 enquanto o de brancos era R$ 2.814,00. E o País tem maioria negra ou parda, pois, enquanto a taxa de ocupação de brancos era de 9,5% no último trimestre do ano passado, a de pardos chega a14,5%. Por isso, para especialistas, o objetivo da reflexão proposta hoje não é fazer o povo negro ser lembrado todos os dias, mas buscar que a cor da pele não cause mais diferenças.


Para o professor Otair Fernandes, doutor em Ciências Sociais e coordenador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Leafro/UFRRJ), “a realidade do Brasil ainda é herança do longo período de colonização europeia e do fato de ter sido o último país a acabar com a escravidão”, disse, em entrevista à Revista Retratos, do IBGE.


Apesar da importância histórica e social, o 20 de novembro não é um feriado em todo o País. Foi instituído oficialmente por meio da Lei Federal nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, mas nem todas as cidades aderiram ao feriado.


Júlio Evangelista Santos Júnior, advogado, militante do movimento negro, costuma dizer que todo dia será dia de consciência negra, enquanto a consciência humana continuar preconceituosa e racista.


Ele, que é presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra do Brasil e vice-presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB-Santos, explica que há 20 anos, quando o racismo começou a ser debatido com mais importância a partir da Conferência Mundial contra o Racismo, um binômio de atuação foi definido e têm dado certo, apesar de resultados virem lentamente.


“Quando se fala de enfrentamento se fala de promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo. Porque é preciso valorizar grupos historicamente excluídos, pensar todo o legado africano que a gente tem no Brasil de maneira positiva e não só com a escravidão e fazer do enfrentamento ao racismo uma discussão, até pela garantia da segurança pública”, conta, lembrando da menina de 11 anos apedrejada no Rio de Janeiro ao sair de um terreiro de candomblé.


Também presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Cubatão e coordenador geral do Projeto Educafro Regional Baixada Santista Núcleo Santos Valongo, Julio Evangelista conta que a educação também é importante. “Para levar a promoção da igualdade, humanizar quem teve historicamente menos direitos e menos acesso a esses direitos”.


União


Para a presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Vicente, Clarice Carmo, se os negros não se unirem, a luta contra o preconceito não vai avançar.


Sem aceitar vitimismo, ela explica que logicamente, quando alguém é atingido, a reação natural é o constrangimento, a coação. “Mas a omissão é prejudicial a todos nós”, diz ela, mãe de duas universitárias, pedagoga pós-graduada em Gestão Escolar e Inclusão que voltou à sala de aula e cursa Direito.


“Numa sala de aproximadamente 85 pessoas sou eu e mais ou menos uns cinco negros. Infelizmente o racismo vai acontecer sempre, mas se você estiver com a cabeça boa e preparada para enfrentar a situação, não abaixa a cabeça. Não permite que as pessoas te diminuam”, diz.


Para o presidente Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e de Igualdade Racial (CMDCN) de Santos, Ivo Miguel Evangelista Santos, o 20 de novembro também é dia de luta e resistência.


“Reverenciamos a pessoa de Zumbi dos Palmares e nos espelhamos para que possamos vencer a discriminação que ainda reina de forma endêmica no nosso País”, diz, apontando que é preciso lembrar de figuras históricas importantes nessa data. “E desmistisficar que o negro apenas foi escravo. Tivemos ícones importantes: Machado de Assis e Luiz Gama”.


Logo A Tribuna
Newsletter