Pesquisa aponta que 67% dos jovens da Fundação Casa têm histórico de crimes e delitos na família

Dados do IPAT também revelam que quase 20% não conhecem o pai, e 60,7% vivem só com a mãe

Por: Redação  -  03/10/21  -  09:26
Atualizado em 07/10/21 - 18:33
 Os internos apontam boa relação com a família, mas desestrutura repete modelos
Os internos apontam boa relação com a família, mas desestrutura repete modelos   Foto: Vanessa Rodrigues

Sete, em cada dez internos que atualmente cumprem medida de privação de liberdade na Fundação Casa têm histórico familiar que envolve prisão ou ato infracional.


Entre os que responderam que sim, na família tem exemplos de adultos ou adolescentes em conflito com a lei, foi perguntado quem havia cometido o crime ou delito. Um ‘irmão’ foi a resposta de 25,7% dos entrevistados, seguido pelo ‘pai’ (17,6%), ‘tio/tia’ (15,1%). A ‘mãe’ responde por 1,6% das respostas. Esses dados acompanham o verificado em 2017: irmão, 38,1%; tio/tia, 33,6%; pai, 20,6%. (veja mais no gráfico)


Os dados são melhor compreendidos quando se traduzem em depoimentos dos próprios jovens. “Lá onde eu moro quase todos os meninos tão no tráfico. Meu irmão já passou aqui pela internação também. Faz dois anos que não vejo ele. Quando ele saiu, eu entrei. E agora ele tá preso. Entrou na vida errada de novo. Já tem mais de 18”, diz um dos internos da unidade Peruíbe.


Avó, mãe

Nas falas dos adolescentes, a relação com a figura feminina da família parece ser mais forte. Não por acaso, quando perguntados quais são os ídolos que eles têm, a mãe é frequentemente citada.


Mas a presença da avó também é forte. “Eu fiz essa tatuagem pra homenagear a minha vó. Ela morreu de tumor. Ela cuidou de mim desde pequeno. Eu amava muito ela. Mas eu também amo muito minha mãe. Ela nunca desistiu de nós”, fala um dos internos de Mongaguá.


Outro adolescente, de 15 anos, diz que apanhou do pai quando ele soube que estava na “vida errada”, mas ele continuou traficando mesmo assim. “Ele falava pra mim: para com isso, vai pra igreja, mas eu queria ter o meu dinheiro. Então, mentia pra ele que ia sair pra tomar um lanche, mas ia era traficar mesmo”.


Durante a pandemia, as visitas dos familiares ficaram suspensas, mas todos os internos tiveram contato com os familiares por meio de videochamadas.


Repetição de modelos

“Muitos adolescentes repetem os modelos que viram na família. É o que eles aprenderam, é o que eles têm como referência. É utópico imaginar que vamos conseguir entrar na intimidade da família, então, é preciso fortalecer a escola e outros programas sociais. Mostrar outros valores a essa criança, a esse adolescente”, diz a juiza-auxiliar Natália Cristina Torres Antônio, da Vara da Infância e Juventude de Santos.


Para Edmir Santos Nascimento, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), é fundamental que existam programas que acompanhem as famílias dos adolescentes. “Nem sempre a família desse jovem que cumpre uma das medidas socioeducativas sabe como lidar com ele. É preciso haver um acompanhamento dessa família”.


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