Carlos Eduardo de Campos: “Esperamos envelhecer, sim, mas com qualidade de vida e muita saúde"

Biomédico e CEO do Laboratório Cellula Mater fala sobre o aumento da longevidade humana

Por: Da Redação  -  08/08/21  -  10:59
 “O corpo humano é uma máquina perfeita. Sendo assim, todas as engrenagens têm que funcionar de forma harmoniosa”, ressalta Carlos Eduardo Pires de Campos
“O corpo humano é uma máquina perfeita. Sendo assim, todas as engrenagens têm que funcionar de forma harmoniosa”, ressalta Carlos Eduardo Pires de Campos   Foto: Thiago D'Almeida/AT

Parte dos créditos pelo aumento da longevidade humana é fruto dos avanços de uma área que começa a ganhar visibilidade, a Biomedicina. Avanços na Biologia Molecular e na tecnologia permitem a ampliação do leque de exames diagnósticos e a precisão dos resultados. A importância do segmento cresceu na pandemia, com um leque variado de exames para identificar a presença do novo coronavírus, e tende a ficar ainda maior nos próximos anos, segundo o biomédico e CEO do Laboratório Cellula Mater, Carlos Eduardo Pires de Campos. Confira os principais trechos da entrevista.


A Medicina Diagnóstica evoluiu muito nas últimas décadas, permitindo ao médico chegar ao diagnóstico correto com mais assertividade. Que exames laboratoriais o senhor destacaria como imprescindíveis hoje e que representaram um grande avanço para a Medicina?


A evolução foi notável e constante. Eu me formei em 1989 e, recordando esses mais de 30 anos, chega a ser hilária tal evolução. Na década de 1970, os laboratórios de análises clínicas possuíam biotérios, para a criação de alguns animais utilizados no diagnóstico da gravidez, por exemplo, quando a mulher necessitava estar num atraso menstrual de mais de 15 dias. Hoje, através de uma pequena amostra de sangue, conseguimos obter tal resultado 24 horas após a possível fecundação. A evolução dos testes laboratoriais tende a acompanhar o imediatismo em que vivemos. Aposto muito na tecnologia em Biologia Molecular e no atendimento Point of Care, que nos fornece a especificidade e a sensibilidade dos testes necessárias para serem liberados com alta qualidade, assertividade e agilidade. Aposto também em exames que previnem algumas patologias e os que apontam a contaminação viral, algo tão latente em nossa sociedade nos últimos 20 meses.


E o que há em desenvolvimento nessa área e que estará disponível nas clínicas em curto ou médio prazo?


Em nossa área, fala-se muito em exames em Genética Clínica, prevenção e diagnósticos de doenças como Alzheimer. Atualmente, a maioria dos trabalhos científicos está focada na evolução do Sars-Cov-2 (causador da covid-19) e suas mutações. No estudo da Oncologia, já temos alguns exames que ajudam como ferramenta para auxiliar os clínicos, mas a evolução destes testes será atrelada ao avanço da Biologia Molecular, que está ligada à genética e, principalmente, à bioquímica, estudando e pesquisando estruturas específicas a partir do DNA e RNA e como essas interações se regulam ou de que forma respondem a determinadas patologias.


Fala-se muito em longevidade, e todos querem viver muito, mas com saúde. Podemos dizer que parte dessa longevidade é fruto do avanço da Biomedicina? Diferente de décadas atrás, podemos dizer que hoje há exames disponíveis para identificar boa parte das doenças mais comuns aos idosos?


A importância da longevidade é tão constante no mundo de hoje e perene em vários trabalhos científicos que o termo ‘qualidade de vida’ se tornou início de várias ações que requerem cuidados, como já citei algumas vezes. O corpo humano é uma máquina perfeita. Sendo assim, todas as engrenagens têm que funcionar de forma harmoniosa. O bem-estar físico, mental, psicológico, social e sexual integra um sistema de ações muito bem difundidos no atual projeto do Grupo Tribuna (Diálogos da Maturidade). Afinal de contas, nunca foi tão importante debatermos e nos prepararmos para um futuro que esperamos envelhecer sim, com qualidade de vida e saúde. A maioria das doenças mais frequentes nos idosos parte do sistema circulatório, por meio de doenças cardiovasculares como infarto, anginas e insuficiência cardíaca. Nos últimos anos, os avanços são evidentes. Há uma proteína da estrutura do músculo cardíaco denominada troponina, que atualmente dosamos em nossos laboratórios. Seus níveis conseguem nos dar informações, como marcador diagnóstico de alta sensibilidade e especificidade, para a lesão miocárdica. Tem ainda outras patologias frequentes em idosos, como as que afligem o aparelho circulatório e respiratório. Há um exame denominado D-Dímero ou Dímero D, que nada mais é do que uma substância resultante da degradação da fibrina, produzida pelo organismo para desfazer coágulos. Podemos também citar outras doenças com grande incidência em idosos, como câncer, enfisema, pneumonia, infecção urinária, osteoporose e diabetes. Todas as investigações apresentam grande potencial tecnológi-co na detecção e prevenção.


A população idosa da Baixada Santista crescerá mais de 80% nas próximas três décadas. O senhor considera que o campo para os profissionais da Biomedicina será ainda mais valorizado?


A maneira correta de agirmos é justamente nos prepararmos para essa situação, na qual queremos estar presentes. Estou com 53 anos, e não consigo me ver com 53 anos. Me lembro que quando tinha meus 15 anos, achava idosa uma pessoa com idade na faixa dos 50. O critério de idade mudou, com certeza acredito que conseguimos avançar 15 anos nessa avaliação. Me causa também muita surpresa encontrarmos senhores de 80 anos ativos física, mental e sexualmente. Me espelho neles. Tenho plena certeza que daqui alguns anos são será raro encontrarmos pessoas que passam dos centenários de vida. Muito motivador!


A Biomedicina já é uma área bem conhecida pelos jovens quando da escolha do futuro profissional?


Nos últimos anos, a Biomedicina ganhou um grande destaque nacional e internacional dentre as profissões da área da saúde. Atuo na Baixada Santista como delegado regional do Conselho Regional de Biomedicina (CRBM) desde 1995 e lembro que quando me formei, em 1989, o número de cursos universitários nessa área não passava de dez. Atualmente, são mais de 100. Temos que focar na qualidade deste ensino, e estamos também trabalhando para tal sucesso. Desde o início deste ano estou na Unisanta, como coordenador do curso de Biomedicina, e num curso novo já ultrapassamos 100 jovens matriculados.


Em quais outras áreas o biomédico pode atuar?


O biomédico está habilitado para atuar em diversas áreas, como acupuntura, citologia oncótica, análises clinicas, toxicologia, perícia criminal, bromatologia, microbiologia de alimentos, análises de solos, perfusão, gestão na saúde, imagiologia, radiologia, engenharia médica e vacinas, entre outras. A onda pandêmica colaborou para ascensão de vários profissionais de nossa área. Os segredos são, além do estudo constante, a atualização de informações e, acima de tudo, muita força de vontade. Particularmente, estudo há quase 50 anos, atualmente sou doutorando em Saúde Pública pela Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales (UCES), de Buenos Aires. Uma das minhas frases preferidas é que ‘o saber não ocupa espaço’.


A Saúde, de modo geral, foi muito valorizada na pandemia. No dia a dia da sua clínica, vocês sentiram isso por parte dos clientes?


Sim. A necessidade fez com que as pessoas se sentissem mais próximas ao laboratório. Em um período tão incerto, no qual todas as informações que tínhamos pareciam ser insuficientes, o laudo laboratorial era a única coisa concreta e certa. O Cellula Mater buscou constantemente trazer exames com maior especificidade e qualidade, o que nos abriu maior espaço e deu mais credibilidade no mercado de análises clínicas, tornando-se referência no assunto na região.


A clínica investiu, recentemente, na criação de espaços diferentes para públicos de variadas faixas etárias. Por que criar um espaço próprio para idosos e um espaço próprio para crianças?


Cellula Mater é pautado pelo atendimento humanizado e, com todo momento delicado que passamos, vimos a necessidade e a oportunidade de criar unidades especificas para esses públicos que demandam maior atenção. A unidade Vivva, além de oferecer estrutura totalmente voltada aos idosos, com pisos antiderrapantes, portas mais largas, poltronas na recepção e espaço de espera, conta ainda com atendentes especializadas. A unidade Kidds segue a mesma proposta, só que voltada a crianças de até 14 anos. O espaço é lúdico, com salas de coleta temáticas, Espaço Kidds, videogame, além de brindes e atividades lúdicas que amenizam o processo de coleta de sangue. Para nós, o resultado está sendo muito satisfatório. Seguindo essa sequencia humanizada, já estamos no processo de conclusão da unidade Cellula Mater Ella, destinada exclusivamente ao público feminino.


Hoje em dia, a qualidade do atendimento, seja em qual área for, é fator decisivo na hora de escolher um produto ou serviço. Como se trabalha isso em um lugar com tanto fluxo de clientes, como em uma clínica? Quais são as estratégias?


Nosso lema é ‘Laboratório Cellula Mater presente no momento em que você mais precisa’. Sobre o aspecto de lugar com grande fluxo de clientes, minimizamos este fato justamente segmentando o atendimento. Além disso, ainda dispomos de um serviço home care para agilizar e não juntar pessoas. Fizemos uma campanha interna, pedindo que os pacientes viessem apenas com um acompanhante. Na verdade, toda empresa, em qualquer setor, tem que estar antenada com as necessidades de seus clientes. O tripé qualidade, agilidade e empatia no atendimento traduz sempre o sucesso de uma organização.


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