Um comovente depoimento de uma aluna que sofreu violência muito tempo em segredo estimulou Nara Assunção, Marcia Okida e Raquel Alves, professoras dos cursos de Jornalismo e Produção Multimídia da Unisanta, a idealizarem o Observatório da Violência Contra Mulher, o Observatório Chega.
O trio trocou ideias e, depois, convidou alunas e ex-alunas para uma conversa. A iniciativa ganhou corpo, foi feito um evento de lançamento e criou-se um site para produzir conteúdo jornalístico e artístico, além de manter reuniões semanais, abertas a alunos e professores de todos os cursos da instituição e também a interessados que não tenham vínculo com a Unisanta.
“Na hora, veio a ideia de que era nosso dever de educadoras conversar abertamente sobre esse assunto, mais no sentido de estimular a formação de uma rede de apoio para outras alunas que talvez estivessem passando pela situação. E, juntas, contribuir também com uma nova narrativa jornalística sobre essa temática, tão retratada de forma distorcida muitas vezes, culpando ou até mesmo expondo ainda mais a vítima”, conta.
“O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo e isso precisa ser conversado. Não é possível naturalizar tantas mortes, sem falar nos estupros que são cotidianos, principalmente aqueles contra crianças e adolescentes. Nem estatística tem porque é muito difícil a vítima denunciar. Muitos dos ataques ocorrem dentro de casa. E, agora, quando se prega uma sociedade mais armada é que a coisa complica”, analisa Raquel.
Caixas escutatórias são espalhadas por diversos lugares. A intenção é que as mulheres que já viveram ou estão passando por processos de violência escrevam suas histórias e depositem nas caixas, que estão na Unisanta, no Juicy Hub e na Estação Cidadania. Elas não precisam se identificar.
“A partir desses relatos, vamos criar uma instalação sonora, que será ativada em 25 de novembro, o Dia Mundial pela Eliminação da Violência Contra a Mulher”, revela Nara. “Ainda neste ano, queremos colocar de pé uma linha de pesquisa universitária voltada para os temas ligados à mulher”, emenda.
Os planos futuros do Observatório Chega estão calcados em várias vertentes, como desenvolver o pilar acadêmico, criando uma linha de pesquisa e produzindo trabalhos acadêmicos com essa temática, e ampliar o conteúdo jornalístico. E há um sonho ainda mais ambicioso.
“Queremos fazer uma grande pesquisa de campo para entender como se dá a violência contra a mulher na nossa região”, afirma Raquel. “Temos visto casos estarrecedores, mas seria importante compor os números de feminicídios, de queixas contra agressores, denúncias. O que temos hoje é uma visão geral do que ocorre no Brasil ou no Estado, mas não conhecemos em profundidade os números da Baixada Santista e o que pensa a nossa gente sobre este tema”, emenda.
Gestora de mídias sociais e estudante de Produção Multimídia da Unisanta, Izabella ouve as histórias das mulheres sobre abuso e violência, além de também ser engajada nas atividades de divulgação, criando artes digitais sobre o tema e participando dos eventos promovidos.
“O Observatório Chega mudou minha visão sobre o tema de violência contra mulher, pois agora percebo que vai muito além da agressão física", afirma. "Entendi que não é preciso estar sozinha para encarar momentos difíceis como esses. Estaremos sempre com a mão estendida caso uma mulher precise de ajuda e queira compartilhar com a gente tudo o que vive e já viveu”, emenda.
Perfil: Observatório Chega!
O que é: Observatório da Violência Contra Mulher é um projeto multidisciplinar dentro da Universidade Santa Cecília, em Santos, que visa informar, mapear e ampliar o debate sobre a violência contra a mulher na Baixada Santista. Os participantes são voluntários que se reúnem semanalmente na sede da instituição para debater e produzir conteúdo. Um dos objetivos é contribuir ativamente na construção de uma nova narrativa que aborde a temática.
Onde fica: Rua Oswaldo Cruz, 277, Boqueirão, Santos (Universidade Santa Cecília)
Contatos: www.observatoriochega.com.br, Facebook (/observatoriochega), Instagram (@observatoriochega) e e-mail (observatoriochega@ gmail.com)