Projeto leva arte a pessoas com deficiência em Cubatão

Com as aulas de pintura, novos talentos foram desvendados

Por: Nathália de Alcantara  -  02/11/21  -  13:53
Atualizado em 08/12/21 - 17:06
Projeto Pintando sonhos é realizado na Casa da Esperança de Cubatão
Projeto Pintando sonhos é realizado na Casa da Esperança de Cubatão   Foto: Matheus Tagé/AT

A cada pincelada em uma tela em branco, crianças, adolescentes e adultos com deficiências múltiplas viajam para lugares novos e inimagináveis. As limitações físicas ficam para trás e a imaginação vai longe durante a aula de Artes na Casa da Esperança de Cubatão. O Projeto Pintando Sonhos, que é na prática uma aula de pintura, tem lhes dado asas para alcançar o que antes parecia longe e inatingível.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!



Com a chegada da pandemia de coronavírus, as aulas, que envolviam diversos alunos, tiveram de ser adaptadas. Com poucos pacientes por hora, novos talentos foram desvendados na entidade, que abriga 500 pessoas de diversas idades.


A assistente social Fernanda Braga Ribeiro Portela, de 40 anos, está há 12 na entidade. Diariamente, ela faz o exercício de olhar para o deficiente e enxergar o que ele consegue fazer. “Normalmente, as pessoas veem a limitação e a dificuldade. Aqui, olhamos a potencialidade de cada um. Os que não andam, por exemplo, voam quando começam a pintar no Projeto Pintando Sonhos.”


Para ela, é naquela sala de aula com espaço para quatro alunos que eles vencem as limitações de acessibilidade, como a da cadeira de rodas. “Além de trabalhar a questão motora de uma maneira muito mais prazerosa, a atividade também serve como geração de renda para muitas famílias, pois eles vendem os quadros que produzem aqui e ganham um dinheirinho com isso.”


Voo com Asas


A assistente social explica que a intenção do projeto é expor a capacidade interior de cada um, além de qualquer deficiência aparente. “Ninguém é definido por um CID (Código Internacional de Doença). Queremos mostrar que eles têm possibilidades e podem muito mais, e que ninguém deve se limitar por alguma deficiência”, diz.


A gerente administrativa Rosa Maria Rodrigues da Silva, de 51 anos, revela que, a cada dia, aprende mais do que ensina a cada um deles. Nas aulas de Artes, eles têm um complemento de outras atividades e reabilitação. “Ainda não temos determinado quanto tempo cada um deles deve ficar nessa atividade. É quanto tempo houver de disponibilidade e enquanto ainda observarmos que acontece um aprendizado.”


As aulas


A professora de Artes Arlete da Silva lembra que um incentivo consiste em os quadros deles serem expostos, com pedidos para rifas a fim de levantar fundos para a entidade. “A pintura é tudo. Ela levanta a autoestima deles e mostra o trabalho que eles são capazes de fazer. Eles relaxam e se esquecem da vida, se esquecem o horário da próxima terapia”, brinca ela, que é chamada a todo tempo pelos alunos, com dúvidas e pedidos de ajuda.


Com ela, os pacientes ficam por volta de uma hora uma vez na semana, diz a profissional, que atua na entidade há 22 anos. “Temos observado o talento e as habilidades de cada um. Dos 150 alunos de Artes, cerca de 50 fazem pintura em telas e levam muito a sério cada atividade. Eu trago revistas para eles olharem e escolherem o que gostariam de pintar.”


Expressão do pensar e do sentir


De todos os alunos, Wanderley Santos Cruz, de 43 anos, é o pintor que mais vende quadros. Ele, que tem paralisia cerebral e tetraplegia, diz que pinta sempre com sentimento e dando o seu melhor.


A técnica adotada para que ele possa aplicar seu dom é a professora ir girando a tela. Isso porque Wanderley tem uma limitação motora que o permite fazer só um movimento com o pincel. Ele, aliás, é um dos pacientes mais antigos. “Pintar os quadros é bom. Gosto de pintar casa, barcos e paisagens que vejo.”


Quem também é antigo na casa é Welton Dutra Portela, de 36 anos. Enquanto pintava uma árvore em uma paisagem de por do sol, explicou que tem paralisia cerebral. “Pintar é bom para a mente e tira o estresse.”


Além das aulas de Artes, Ana Beatriz Gonçalves dos Santos, de 14 anos, também gosta de desenhar. “Gosto das pessoas aqui e canto na igreja”, contou ela, que tem autismo, muito empolgada.


Isaias Ferreira Soares, também de 14 anos, prefere as cores mais vivas para pintar. O garoto, que tem autismo, se dedica às aulas. “Gosto de rios, montanhas e árvores coloridos.”


Talentos e habilidades são revelados


Para as mães, o projeto foi além do benefício motor: ele revelou talentos e habilidades até então desconhecidos. A mãe de Wanderley, Selma dos Santos, de 59 anos, aprendeu a pintar para ajudar o filho. “Descobrimos um talento, e ele sempre se interessou muito. Então, passamos a pintar juntos. Eu quis aprender para estar junto.”


A dona de casa Luci Gonçalves dos Santos, de 50 anos, vê a filha Ana Beatriz mais tranquila após as aulas de pintura. “Em casa, ela desenha muito. Ela gosta bastante das aulas de pintura também. Com certeza é algo importante para ela, para a gente. Também vimos uma evolução grande. Ela se desenvolveu bastante nesse tempo, por causa da aulas.”


Mãe de Isaias, a dona de casa Selma Ferreira Soares, de 49 anos, acompanha de perto os quadros do filho e faz questão de elogiá-lo, para lhe dar incentivo. “Ele sempre gostou de desenho e pintura. Ele demora uns dois dias, mas sempre mostra o que fez na aula”, relata.


Logo A Tribuna
Newsletter