No Arsenal, em Cubatão, a arma é o esforço coletivo

Aulas de futebol são oferecidas na Vila São José para crianças a partir de 6 anos

Por: Rosana Rife  -  26/11/21  -  08:55
Atualizado em 08/12/21 - 17:33
Para 50 crianças que fazem parte do projeto Arsenal Vila São José, em Cubatão, nenhuma dificuldade importa
Para 50 crianças que fazem parte do projeto Arsenal Vila São José, em Cubatão, nenhuma dificuldade importa   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Os treinos ocorrem duas vezes por semana na quadra emprestada pela escola do bairro. Nem todo mundo tem chuteira para as partidas de futebol. Às vezes, até tênis faltam para correr atrás da bola. Mas, para 50 crianças que fazem parte do projeto Arsenal Vila São José, em Cubatão, nenhuma dificuldade importa.


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“O projeto existe há 14 anos e atende crianças a partir de 6 anos. Começou como time de futebol de bairro e depois veio a parte social. Queremos que eles saiam daqui cidadãos”, explica o vice-diretor Gilberto Vieira de Matos.


O nome do grupo nasceu em homenagem ao time inglês. Sem o glamour e o dinheiro do Arsenal oficial, eles sobrevivem com a coragem e a força de vontade dos diretores e voluntários.


O objetivo é evitar que as crianças da comunidade fiquem na rua, sem atividade. Então, além de treinos, há passeios e palestras. “A gente que mora em comunidade sabe que é um pouco difícil mantê-los longe de situações de perigo. Mas, se todos derem as mãos, a gente consegue vencer.”


Batalha
No começo, o futebol era em um campinho de terra do bairro. Agora, os treinos ocorrem às terças e quintas-feiras, na quadra da escola João Ramalho, que atende a comunidade.


A sede, que era um quartinho, ocupa um espaço maior. Os troféus conquistados têm lugar especial. “A gente faz palestras e a festinha dos aniversariantes do mês. Tem criança que, muitas vezes, não tem nem um bolinho para comemorar.”


Técnico
Fábio Alencar dos Santos, de 44 anos, trocou as mãos pelos pés. Estudante do curso de Educação Física, fazia estágio dando aulas de natação até ser convidado para as aulas de futebol e conhecer a turma.


Ele conta que trabalhou muito para virar técnico da garotada, em 2017. “Meu ramo não era esse, porém, como tinha que estar no meio dos esportes, decidi abraçar. Daí, fui estudar, fazer perguntas para quem já dava aula. E, de lá para cá, viraram uma família. É como se fossem meus filhos.”


Santos diz que pega no pé da criançada. “Procuro saber com a diretora da escola as notas deles. Se não se comportarem na escola, não podem estar aqui.”


Mudar destinos
A luta de todos não é só para realizar sonhos, mas transformar destinos. “É um orgulho ver essa criançada bem, estudando. A gente cobra isso. É muito gratificante. Quero que o projeto cresça mais e ajude mais crianças e a comunidade também. Tudo é possível”, diz Matos.


Os gêmeos de 12 anos, e Micael Silva, de 17
Os gêmeos de 12 anos, e Micael Silva, de 17   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Idênticos na vida e no gosto pelo futebol
Os gêmeos Pedro e Miguel Rolim, 12 anos, estão há três ano projeto. Jogar bola é mais que um esporte para eles, que sonham se tornar atletas profissionais. Enquanto a vontade não se concretiza, eles se dedicam aos treinos e ao aprendizado — além dos campos.


“Respeito, colaboração, amizade. A gente aprende a importância de tudo isso no projeto”, conta Miguel.


Pedro destaca a influência positiva do Arsenal na comunidade. “É um bairro que não tem muita estrutura. Nossa comunidade é humilde, e eles ajudam muito.”


O pai deles, o encarregado de caldeiraria, Milton Rolim, de 60 anos, é só elogios para o programa. Tanto que pensa, quando se aposentar, em dedicar algumas horas como voluntário. Afinal, é no Arsenal que os meninos ensaiam uma possível carreira.


“O projeto é gratuito. Ajuda a comunidade. Não tem coisa melhor para as crianças do bairro, porque elas não têm tempo para ficar na rua aprendendo o que não devem.”


Quanto aos filhos, ele fica orgulhoso com o desempenho dos dois. “Eles têm habilidade e adoram futebol. Quando tem jogo, eles nem dormem direito.”


Se o futuro transformar sonho em realidade, os irmãos brilharão em campos distantes. “Quero jogar no Santos”, revela Miguel. Pedro planeja trocar de continente. “Sonho em jogar no Paris Saint-Germain.”


As meninas
Stefany Heloisa Ferreira de Sena, de 10 anos, aprendeu a gostar do esporte com os irmãos e, há três anos, entrou no projeto. “Sempre brincava com eles e gostei. O projeto é muito bom para a gente.”


Evellyn Vitoria Souza Bandeira, de 11 anos, participa dos treinos desde os 7. O irmão também foi uma influência para descobrir o futebol, mas ela sente dificuldade em ver mulheres se destacarem ao longo do tempo.


“Eu me inspiro na Marta. As meninas precisam de mais espaço. Ser mais valorizadas. Mas quero jogar mesmo que as partidas não passem na TV e chamem a atenção.” Elas também têm vez nesse campo. E querem mais.


Sonha e ajuda
Micael da Silva, 17 anos, é um dos mais antigos alunos do Arsenal. Como a maioria dos garotos daqui, sonha ganhar a vida nos gramados. Mas, enquanto corre atrás dos sonhos, conta como o projeto fez toda a diferença na vida dele.


“Comecei aos 9 anos. Vi eles tirarem muitas crianças da rua. A gente aprende muita coisa boa, além do esporte. Educação é o principal. Vejo o Gilberto (vice-presidente) como um pai, porque não tive muito contato com o meu.”


No caminho trilhado por ele no projeto, Micael já ajudou o Arsenal a ganhar dois títulos e garantir o segundo lugar em campeonatos em Cubatão e em Santos.


“O Arsenal é mais que um time, é um projeto que muda vidas.”


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