Grupo da Baixada Santista trata de endometriose com mulheres e adolescentes

EndoTeens ajuda a cuidar da doença, que afeta uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva

Por: Natalia Cuqui  -  05/11/21  -  14:34
 Projeto tem como objetivo levar informação a adolescentes e professores da região e Vale do Ribeira
Projeto tem como objetivo levar informação a adolescentes e professores da região e Vale do Ribeira   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A endometriose é uma doença que afeta uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva. Os sinais geralmente são confundidos com dores que costumam surgir com a menstruação, como cólicas e dores de cabeça, mas em níveis tão intensos que, muitas vezes, impedem atividades simples, trabalhar ou ir à escola. (Confira matéria em vídeo, mais abaixo)


Duas mulheres que sofreram com a endometriose sem conseguir informações resolveram, na fase adulta, reunir o que sabem em um projeto: a Associação de Apoio às Portadoras de Endometriose, a EndoMulheres Baixada Santista. Em 2019, surgiu o EndoTeens, cujo objetivo é levar informação e conscientizar adolescentes e professores das redes pública e privada da região e do Vale do Ribeira.


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A vendedora Flávia Marcelino e a pedagoga Romilda Gadi, ambas de 48 anos, são, respectivamente, presidente e vice-presidente cofundadoras do projeto. Elas se conheceram em 2016, em um grupo no Facebook com mulheres de São Paulo que também sofrem com a doença.


Quando viram que eram da mesma cidade, São Vicente, marcaram um café e, em 2017 criaram um grupo no WhatsApp com mulheres da região que também têm endometriose. Em 2018, o projeto começou a ganhar as redes sociais para chegar a cada vez mais mulheres e, em 2019, a adolescentes.


“Eu mesma fiz tratamento e cirurgia porque tinha plano de saúde. A Romilda fez em São Paulo. Mas aqui na região não havia tratamento para as mulheres do SUS. Surgiu também a necessidade de falar sobre a doença. Então, fomos em busca de ONGs e instituições para falar sobre endometriose como portadoras. Fomos crescendo e, hoje, somos uma associação”, explicou Flávia.


 Flávia, Wanessa e Romilda atuam no EndoTeens, criado em 2019
Flávia, Wanessa e Romilda atuam no EndoTeens, criado em 2019   Foto: Alex Ferraz/AT

Avanço
Com Wanessa Carvalho, de 42 anos, que é coordenadora voluntária da EndoMulheres, foi dado um passo para se falar do problema também a adolescentes.Wanessa conheceu Flávia e Romilda anos depois de descobrir que também sofria com a endometriose.


“Descobri (a doença) depois de muitos anos buscando informação. Quando as encontrei, (o EndoMulheres) era um grupo de apoio onde a gente falava e elas nos ouviam, davam apoio, ajuda psicológica. Quando você descobre a doença, pensa que tudo acabou, e elas me deram muita força para continuar”, celebra.


Segundo Flávia e Romilda, o projeto é pioneiro na Baixada Santista e ajuda a capacitar profissionais, como professores, para evitar que mulheres e adolescentes sofram com a doença. O diagnóstico da endometriose pode levar de sete a oito anos e, devido à pandemia de covid-19, esse número deve ser ainda maior.


O EndoTeens faz parte de um programa de Santos chamado Jovem Doutor e conta com ajuda de profissionais como nutricionistas e psicólogas. A ideia é que seja um projeto contínuo no ambiente escolar.


 Quarenta por cento dos casos de infertilidade são por causa da endometriose, afirma Flávia Marcelino
Quarenta por cento dos casos de infertilidade são por causa da endometriose, afirma Flávia Marcelino   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Ajuda
Flávia cita o exemplo de uma menina de 13 anos que buscou o grupo de apoio porque sua mãe tinha os mesmos sintomas que ela havia escutado. “Esse é o público que a gente quer iniciar para que, no futuro, essas mulheres não passem o que a gente passou, porque a endometriose pode deixar a mulher infértil se não for tratada. Quarenta por cento dos casos de infertilidade são por causa da endometriose.”


Ela prossegue: “O professor tem que entender aquela aluna que falta. Eu passei por isso, repeti de ano duas vezes por falta, eu não conseguia ir por causa da dor. E várias vezes ouvi que eu ‘era mole’, que era só uma cólica. (...) Imagine uma mãe 30 anos atrás. Ela não ia levar a filha a um ginecologista jamais.”


“O projeto tem nove coordenadoras. Cada cidade possui um grupo de WhatsApp, e o núcleo tem uma coordenadora, que entra em contato com as meninas para saber como está o tratamento (...). Qualquer intercorrência, as mulheres podem entrar em contato com a gente e contatamos a Secretaria da Saúde.”


A professora de Português e Filosofia Silvia Figueiredo, de 39 anos, sofreu com a doença e descobriu o problema quando tentou engravidar e estranhou a demora. Para ela, o projeto é extremamente importante. “Eu acredito que esse tipo de iniciativa vai mudar muito a história das mulheres”, afirma.


Pandemia
Quando a pandemia começou, as criadoras do projeto sentiram a necessidade de se manter presentes na vida de mulheres que pedem ajuda. Os encontros, que não podiam ocorrer pessoalmente, passaram a ser virtuais, como a assistência e os pedidos de ajuda.


Romilda contou que a principal dificuldade foi descobrir como ajudar a distância mulheres com dores da endometriose. Profissionais como psicólogos e nutricionistas foram fundamentais ao EndoMulheres.


“Havia muito medo em ir ao hospital por causa da covid-19. (...) Conversamos com médicos e parceiros, que falaram que poderíamos fazer lives de orientações ou grupos, mas não deveríamos abandoná-las de forma nenhuma. Foi um momento em que a gente vivia o dia quase inteiro na internet, sempre conversando para que elas não se sentissem sozinhas, abandonadas”, diz Romilda.


Flávia completa: “A mulher adulta até lida melhor (com a doença), mas adolescente é diferente, pode sofrer bullying. O acompanhamento psicológico é muito importante.”


Confira abaixo a matéria no Endoteens em vídeo:



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