Escola da Baixada Santista ensina crianças a cuidar da natureza através de brincadeiras

Em uma gincana, cada turma responde por um tipo de reciclável, e a coleta seletiva vai ganhando sentido para os alunos

Por: Rosana Rife  -  19/10/21  -  09:38
Atualizado em 08/12/21 - 17:03
Uma ideia transformada em brincadeira mudou a rotina e a consciência dos alunos
Uma ideia transformada em brincadeira mudou a rotina e a consciência dos alunos   Foto: Matheus Tagé/AT

Uma ideia transformada em brincadeira mudou a rotina e a consciência dos alunos da escola municipal Pablo Trevisan Perutich, em Praia Grande. Ensinar a cuidar do meio ambiente de forma lúdica foi o caminho encontrado pela direção e pelos funcionários do colégio para que os pequenos aprendam e nunca mais esqueçam lições que transformam a escola, a comunidade e todo o planeta.


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É vestida como se tivesse saído de uma revista de quadrinhos que Silvia Valadão, de 49 anos, se transforma em Super Diretora, uma super-heroína que precisa da ajuda dos heróis mirins para dar o destino correto ao lixo. Em uma gincana, cada turma responde por um tipo de material, e a coleta seletiva vai ganhando sentido para os estudantes.


O trabalho começou ainda na fase do ensino remoto e virou competição quando as aulas presenciais recomeçaram. “Tínhamos um prejeto para desenvolver. Lembrei que tinha lixeira para recicláveis e saí distribuindo material para se transformar em capa de super-heróis paros funcionários. Disse: ‘Vamos cantar, pular e jogar lixo no lugar certo para ensinar as crianças’. Daí, fizemos essa parte lúdica.”


Funcionários da escola viram super-heróis em defesa do meio ambiente e defendendo gerações do futuro
Funcionários da escola viram super-heróis em defesa do meio ambiente e defendendo gerações do futuro   Foto: Matheus Tagé/AT

Detetives
Também foi na pandemia que surgiu a ideia de inserir a turma em outro projeto ambiental. A escola precisa desenvolver o tema para o Gincana Verde, um programa do Município, cujo tema deste ano era a preservação da água.


“Daí, surgiu a ideia do detetive da água. Peguei umas coisas que tinha em casa, mudei a voz e falei: ‘Precisamos de fatos, porque ciência é feita de fatos’. Quando acendi a luz, elas (as crianças) se encantaram.”


Foi assim que eles entenderam a importância de não desperdiçar água. “Propus que eles se vestissem de detetive e procurasse maneiras de economizar água. Mandaram fotos escovando os dentes com torneira fechada, aguando planta com borrifador, lavando calçada com balde e não com torneira.”


Todo trabalho desenvolvido tem um objetivo, relata Silvia. O colégio atende crianças do berçário até os 6 anos. “A gente tem que educá-las para que sejam formadoras de opinião. (...) Têm que se apropriar dessas ideias, e nada melhor do que o lúdico, que o brincar para isso.”


Comunidade
Ela explica ainda que o projeto político-pedagógico da escola foi impulsionado pelo Gincana Verde. Em 2019, eles venceram. E foram surgindo ideias. Porém, sempre se propõe que haja retorno para a comunidade. O colégio fica na Terceira Zona, área considerada de população mais carente.


“Já fizemos caminhada levando nossos alunos daqui até o Ecoponto, que é aqui perto. Daí, a gente mostrou que não precisa jogar sofá, cadeira velha ou pneu na rua, e fazemos de uma forma muito lúdica, para que o aprendizado seja prazeroso e eles levem esse conhecimento para casa”.


Julia Lopes Santos da Silva tem 6 anos e já entende bem o recado que fica após cada atividade realizada na escola.


“Se a gente não joga o lixo certinho, ele vai para o mar e pode matar os peixinhos. Ou pode fazer mal para as plantas e os bichinhos. Reciclar o lixo ajuda todas as pessoas da minha casa, da minha cidade e do mundo.”


Aline Lopes da Silva passou a separar o lixo por incentivo de Júlia
Aline Lopes da Silva passou a separar o lixo por incentivo de Júlia   Foto: Matheus Tagé/AT

Crianças dão lições
Sempre que tem uma apresentação do projeto, a artesã Aline Santos Lopes da Silva, de 31 anos, acompanha de perto. Ela conta que a rotina na casa dela mudou após a filha, Julia, de 7, entrar na escola Pablo Trevisan Perutich. O lixo de casa passou a ser tratado de forma diferente. “Eu achava que bastava pôr em sacos, e o trabalho de coleta do Município fazia o resto. Não tinha dimensão do que acontecia depois.”


Mas a Julia, que aprendeu a lição direitinho, tratou logo de explicar a importância de separar o material e destiná-lo de forma correta. “Agora, o lixo orgânico é colocado separado dos demais. Ainda divido o reciclável conforme ela aprendeu: metal, vidro, papel, e repasso para uma pessoa que vende e sobrevive dessa coleta.”


A professora Denise Dias, de 38 anos, também adquiriu o hábito de selecionar o lixo de casa após pressão da filha, Julia Gomes, de 5 anos, desde bebê no colégio, “Eu não fazia ideia. Não tinha esse hábito. Mas tudo mudou em casa. Ela sabe identificar e separar tudo. Diz que o meio ambiente depende dela.”


Foi igual com a atendente de educação Debora Rolim, de 27 anos, e Bernardo, de 6. “Também mudei de atitude depois do projeto. Ele sempre me diz: ‘Mãe, isso é plástico, tem que separar’. Não pode ver lixo no chão. Então, para eles, aprender tudo isso é diversão. Se não fosse assim, achariam chato e seria mais difícil criar essa consciência desde cedo”. Não só as crianças demonstram que aprenderam a lição: na vizinhança, não se vê mais sujeira na rua.


Os funcionários da escola notam o desenvolvimento das crianças
Os funcionários da escola notam o desenvolvimento das crianças   Foto: Matheus Tagé/AT

Desenvolvimento
Os funcionários da escola notam o desenvolvimento das crianças. A educadora infantojuvenil Ana Kelly Soares da Silva Albuquerque, de 36 anos, comenta que, “na hora do lanchinho, por exemplo, você não vê papel jogado no chão. Tudo vai para o lixo.”


A auxiliar de desenvolvimento infantojuvenil, Rosiane Cristina da Silva, 34 anos, concorda. “O desenvolvimento é gigantesco. Eles se envolvem, se entregam”. E ela vê tudo isso até com a filha, Ana Vitória, de 2 anos e 7 meses, que também estuda na unidade. “Eles tiveram o projeto relacionado ao trânsito. Na hora de a gente atravessar a rua, ela disse: ‘Mamãe, para, presta atenção e, agora, pode ir’. No lúdico, eles realmente aprendem sem perceber. É maravilhoso.”


Todo esse trabalho faz parte da rotina da escola desde sua criação, e o meio ambiente sempre foi a espinha dorsal dos projetos, diz a assistente técnico pedagógica, Caroline Neves.


“A gente tem os segmentos de Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Então, desde o berçário, os projetos pedagógicos envolvem meio ambiente, leitura, leitura de mundo, e isso é muito importante para desenvolver a percepção de preservação do meio ambiente e da sustentabilidade”, menciona.


Por isso, cada ação tem um propósito especial. “A gente tem que pensar a longo prazo. Pensar em um mundo melhor para nossas crianças, e temos de começar por meio deles, que são nossos maiores multiplicadores. E eles terão uma nova visão de mundo e um respeito enorme com o planeta.”


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