Comunidade em Ação: Contra o lixo nos oceanos, Ecofaxina

Criado em 2008, o Instituto trabalha para conscientizar sobre a importância dos mares e também em ações práticas contra a poluição

Por: Tatiane Calixto  -  20/11/20  -  23:37
Atualizado em 20/11/20 - 23:49
Entre as ações práticas, está a limpeza das praias, em várias cidades da Baixada Santista
Entre as ações práticas, está a limpeza das praias, em várias cidades da Baixada Santista   Foto: Instituto Ecofaxina

Sentar-se na areia e olhar a praia pode trazer a sensação de que o mar é infinito. Porém, a resistência dos oceanos às ações do homem é limitada e a linha vermelha parece cada vez mais próxima. Estudos apontam que os oceanos recebem, só de plástico, oito milhões de toneladas por ano e, se o descarte irregular não for freado,daqui a três décadas,eles terão, em peso, mais plástico do que peixe. Criado em 2008, o Instituto EcoFaxina trabalha para ser esse freio, lutando pela preservação do meio ambiente.


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O EcoFaxina atua em diversas frentes com o objetivo de informar, conscientizar,inspirar e garantir a preservação de mangues, rios e mares, combatendo a poluição marinha. Durante esses anos já promoveu diversos mutirões para recolher resíduos no manguezal e emáreas costeiras.


Tudo começou quando William Rodriguez Schepis, hoje diretor-presidente do Instituto, largou a Capital paulista e uma carreira ligada à tecnologia e resolveu adotar a praia como lar e cursar Biologia Marinha. “Aos poucos fui conhecendo as cidades da Baixada Santista e as praias. Logo, me chamou atenção as marcas dos tratores nas areias de manhã. Aquela necessidade das máquinas recolherem aquela quantidade de resíduo me fez refletir. Afinal, além do material deixado nas areias, uma parte grande é trazida pelo mar e o mar só devolve aquilo que foi lançado nele”.


Era a ponta do iceberg. Começava ali um trabalho que relaciona toda uma cadeia que integra informação, hábitos e políticas públicas não só ambientais, mas sociais, urbanísticas e de saúde.


A preocupação com o lixo nas praias levou Schepis a conhecer a situação dos manguezais e de comunidades que vivem em palafitas na região. A realidade e a falta de infraestrutura dessas famílias impactam diretamente o meio ambiente e, até então, essa relação era pouco debatida. Segundo ele, o descarte de resíduos por essa população acontece por diversos fatores. Falta de conscientização, informação, mas também de infraestrutura. 


Mutirões


Geralmente aos domingos, o EcoFaxina reúne voluntários para ações em comunidades como Dique da Vila Gilda, Jardim São Manoel ou praias. É a oportunidade de dar um alívio, ainda que momentâneo, à natureza e quantificar o impacto das ações humanas.


São sacos e mais sacos de tampinhas e bitucas de cigarros recolhidos nas areias. Nos manguezais, são embalagens e garrafas pets, além de móveis e uma quantidade impressionante de pinos de cocaína.“Em média, recolhemos meia tonelada de resíduo por mutirão. Mas, há vezes que ultrapassamos uma tonelada”, conta Schepis.


Ele garante que as crianças são as que mais se aproximam quando as equipes estão em ação. “O adulto tem sempre muita dificuldade em mudar de hábitos e enxergar possibilidades. As crianças acreditam mais nessa mudança, principalmente nas comunidades. Até porque aquele é o local onde elas brincam, se divertem. Então, elas também querem preservar”.


Nas ações e iniciativas, transformações sociais e ambientais


“Sempre estive envolvida com ações socioambientais,mas durante a graduação de Ciências Biológicas comecei a me aproximar da biologia marinha e as problemáticas que envolvem os oceanos, mares e comunidades pesqueiras e acabei conhecendo o Instituto”, conta Amanda Brambilla dos Santos, educadora ambiental. O contato com realidade, conta ela, trouxe a surpresa com o volume de plástico recolhido, especialmente os de ‘apenas um uso’. Um produto que se usa por pouco tempo, utiliza milhares de litros de água para sua produção e põe espécies milenares e essenciais para o planeta em risco, essa noção de tempo no manguezal é assustadora”diz


Amanda afirma esperar que as ações do instituto proporcionem transformações sociais e ambientais, levando mais saúde, dignidade, qualidade de vida e esperança às pessoas.“Afinal o oceano conecta todas as formas de vida no planeta”.


Participar das ações,também fez a advogada Luísa Fernandes Pires entender essa conexão e perceber a complexidade do tema.


Vários resíduos


"O problema é muito mais sério e complexo do que imaginava. Comfrequência, encontramos diversos tipos de resíduos em nossas praias, mas não temos noção de que a quantidade descartada no mangue é muito maior e o quanto estamos prejudicando os nossos ecossistemas. Não só a quantidade de materiais como também os diversos tipos de resíduos volumosos que são deixados lá, como sofá, televisão, brinquedos, roupas, sapatos”.


Para ela, as ações vão muito além de recolher os resíduos. Servem para a preservação do meio ambiente e conscientização da população sobre o impacto ambiental que o nosso lixo descartado de maneira errada causa. 


Projeto de ecobarreiras é sonho antigo 


Apesar de ser certeiro na conscientização ambiental, ao empilhar sacos de resíduos, fazendo com que todos visualizem o problema, os mutirões não resolvem de fato a questão. “Quando a maré sobe, já vemos mais material se aproximando”, conta William Schepis. Por isso, outra frente do Instituto Ecofaxina é o projeto de instalação de ecobarreiras para conter os resíduos e facilitar o recolhimento antes que cheguem aos oceanos, aliado a uma ação de geração renda para as comunidades.


Há anos o Instituto vem vencendo batalhas burocráticas para colocar o projeto em funcionamento. Hoje, conta com cessão de uma área no Jardim São Manoel, apoio da comunidade e parcerias com a iniciativa privada.“Ainda aguardamos aassinatura de um acordo de cooperação com a prefeitura”,detalha o diretor.


“A importância do Ecofaxina é que eles limpam tudo e até conseguiram trazer novamente a vegetação em alguns lugares”, conta o presidente da Sociedade de Melhoramentos do Jardim São Manoel, Edimilson de Almeida Duarte, o Didi. Mas, segundo ele, para que o trabalho se torne ainda mais eficiente, são necessárias as ecobarreiras.


Para Schepis, será a oportunidade de recolher o material antes que ele prejudique ainda mais o meio ambiente e também de gerar renda, principalmente, aos jovens da comunidade.


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O EcoFaxina atua em diversas frentes como objetivo de informar, conscientizar, inspirar e garantir a preservação de mangues, rios e mares, combatendo a poluição marinha. Durante esses anos já promoveu diversos mutirões para recolher resíduos no manguezal e em áreas costeiras.


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