Associação Espaço Tia Ju é sinônimo de apoio e transformação social em Mongaguá

Local oferece atividades culturais e esportivas para 40 estudantes com idade entre 7 e 14 anos

Por: Rosana Rife  -  15/10/21  -  16:38
Atualizado em 08/12/21 - 17:23
A aula de taekwondo é feita na frente da casa
A aula de taekwondo é feita na frente da casa   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Recuperação escolar e incentivo à leitura e ao desenvolvimento de crianças e adolescentes carentes. A Associação Espaço Tia Ju, em Mongaguá, põe foco nesses pilares para transformar a vida dos pequenos que procuram a instituição. Atualmente, com a retomada das atividades devido à redução de casos e mortes por covid-19, são atendidos cerca de 40 estudantes entre 7 e 14 anos.


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O trabalho é feito com dedicação, sacrifício e ajuda de seis voluntários. As aulas de recuperação ficam por conta da criadora da instituição. Juçara Maria Silva, a Tia Ju, de 64 anos.


Professora por formação, ela explica que, no início, havia apenas aula de reforço e, para incentivar a leitura, também se dedicava a contar histórias. Isso porque o espaço de que dispunha era apenas a sala da casa dela, na qual dava aulas particulares, sua fonte de renda. Por isso, atendia poucos estudantes.


“Eu contava história e criava personagens que transmitissem algo para eles, que tivesse a ver com a realidade deles e oferecia livros. As crianças iam descobrindo o mundo da leitura e ficavam fascinadas.”


Ampliação
Mesmo sem um espaço adequado, o projeto foi, aos poucos, ganhando o formato. “No início, não tinha nem lousa, era uma mesa improvisada. Foram momentos bem difíceis.”


Há dois anos, quando o pai dela morreu, Ju conseguiu se dedicar exclusivamente ao programa. “Pago aluguel e dava aula particular para reforçar a renda. Meu marido é aposentado e ganha pouco. Não sobrava nada para o projeto. Mas meu pai me deixou um pecúlio e, com isso, consigo também ajudar as crianças. Não tenho auxílio de governo”, descreve.


Mesmo assim, somente em julho do ano passado, no meio da pandemia, foi possível ampliar o atendimento. Ju acompanhava as dificuldades dos estudantes com aulas on-line. Muitos estavam sem recursos para se adaptar. Então, ela sentiu necessidade de abrir as portas para mais gente.


“Foi uma missão na minha vida. Sinto não poder atender mais crianças, porque a demanda é grande. Mas não tenho espaço nem condições para fazer mais”, lamenta.


Hoje, a maior parte da residência dela é destinada ao reforço, que ocorre de manhã e à tarde, no contraturno escolar. Há, ainda, as atividades especiais. A aula de taekwondo é feita na frente da casa. Também há uma pequena sala para o artesanato e o teatro.


A aula de grafite ocorre no corredor e está entre as mais concorridas. “A gente quer dar uma visão de mundo diferente para eles, e o desenho ajuda nisso. Estimula a criatividade, eles conseguem se expressar ao colocar formas e cores durante a aula”, diz o professor de grafite Dênis Bento.


A contação de histórias manteve seu espaço e sua importância, diz a coordenadora pedagógica, Elaine Cordeiro. “Estimula muito a leitura, abre a mente, e eles ficam encantados. Todo o trabalho que fazemos aqui é multidisciplinar. Trabalhamos a leitura, com a arte e as outras matérias também. Muitos chegaram aqui tímidos e foram se soltando aos poucos. Os pais nos relatam essa evolução.”


Tia Ju (à esq.), desde o começo, tem apoio de Maria Madalena
Tia Ju (à esq.), desde o começo, tem apoio de Maria Madalena   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Aprender e brincar
Além de aprendizado, a Associação Espaço Tia Ju também é um espaço no qual as crianças têm momentos de recreação, conta Maria Madalena Moraes, que cuida da parte administrativa da entidade.


Ela está auxiliando Tia Ju desde o começo e acompanhou a luta para atender mais crianças e tornar o espaço uma referência em aprendizado e diversão para os pequenos. “Uma vez por mês reuníamos as crianças para contar histórias e realizar brincadeiras antigas para que eles saíssem um pouco do celular, do videogame.”


A diversão era acompanhada por um lanchinho,cujo custo saía do bolso delas e da ajuda de comerciantes do Município. “Era algo simples, mas, para eles, era um banquete.”


Com a pandemia e o aumento de alunos atendidos, os lanchinhos passaram a ser mais necessários. Muitas vezes, até fundamentais para os pequenos. “Cheguei a tirar comida de casa, a passar fome para ajudá-los. Como eu ia deixar uma criança minha ir para a casa sem comer?”, conta, emocionada, Tia Ju.


O sonho dela, agora, é ampliar o espaço para conseguir receber mais estudantes. “Quando eles estão aqui, não estão na rua, no celular, estão aprendendo, tendo um novo tipo de conhecimento e se conhecendo. É o mais importante. Fico feliz e me sinto realizada. Mas meu sonho é ter um espaço maior para atender mais crianças e dar melhores condições para elas, porque tudo aqui é improvisado”, reforça Tia Ju.


Daiane está tão satisfeita com evolução do filho que, hoje, é voluntária
Daiane está tão satisfeita com evolução do filho que, hoje, é voluntária   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Progresso
Desempregada, Daiane Aparecida de Oliveira França, de 35 anos, viu no projeto a chance para o filho Davi, de 9, progredir nos estudos e começou a levá-lo à associação. O caminho é feito, na maioria das vezes, a pé. Ela mora no Bairro Flórida Mirim e os dois andam 45 minutos até o Agenor de Campos, porque, geralmente, falta dinheiro para o ônibus.


“Trouxe o Davi porque ele estava com dificuldades para ler, e matemática também representava um desafio na vida escolar dele”, conta Daiane.


A partir do momento em que o pequeno começou a frequentar as aulas de reforço, as dificuldades foram sendo superadas. “A tabuada do nove era muito difícil. Eu não conseguia aprender na escola. Agora, sei todinha”, conta Davi.


E foi assim que ele passou a elevar as notas na escola, mesmo com a pandemia. No boletim, no qual as notas caminhavam na média, agora oito passou a ser o mínimo que ele obtém em uma prova. A letra e a coordenação motora dele também melhoraram, diz Daiane.


A satisfação fica estampada no rosto do pequeno ao contar como o desempenho no colégio deslanchou. “Sou um dos primeiros da classe. Aqui, gosto da aula de grafite e passei a desenhar muito mais. Adoro animes (um tipo de desenho japonês).”


Acompanhar toda essa evolução encheu o coração da mãe de alegria. “Até a forma como ele se relaciona com as pessoas mudou. O Davi começou a se envolver mais com as crianças.”


Foi por isso que Daiane decidiu virar uma das voluntárias na associação. “Comecei como voluntária neste ano, porque queria retribuir todo esse carinho que eles têm com o Davi. Fazer pelas outras crianças tudo o que fizeram pelo meu filho.”


Acolhimento
A ideia do projeto começou em 2014 quando Tia Ju recebeu o pedido de uma mulher que não tinha dinheiro para pagar aula particular para as netas, após ver a faixa que havia na porta da casa da criadora da associação.


“Era o meu ganha-pão. Mas essa senhora estava desesperada e contou que as duas meninas, de 7 e 9 anos, não conseguiam ler. Ela queria muito ajudar as netas. Porém, não tinha dinheiro, pois os pais das crianças estavam presos”. Tia Ju sentiu, a partir daí, que sua missão era ajudar. “Aquilo cortou meu coração. Depois delas, vieram outras crianças, e não parou mais.”


Perfil
Associação Tia Ju
O que é?
Projeto proporciona reforço escolar e aulas de grafite, teatro, taekwondo e artesanato a crianças e adolescentes carentes
Onde
Em parte da casa da Tia Ju (Rua Santa Cecília, 560, Agenor de Campos, Mongaguá)
Contato
(13) 99638-4626


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