ESG desperta consciência de um número crescente de empresas e de pessoas

Três letras, infinitas possibilidades: melhorar o mundo requer atitudes

Por: Redação  -  10/10/21  -  14:55
 Desenvolvimento, social e governança: os aspectos que remetem às atitudes que garantem a sustentabilidade socioeconômica trazem benefícios à população de todo o mundo
Desenvolvimento, social e governança: os aspectos que remetem às atitudes que garantem a sustentabilidade socioeconômica trazem benefícios à população de todo o mundo   Foto: Noah Buscher/Unsplash

O universo corporativo vem se acostumando a essas três letras, ESG, há algum tempo. O acrônimo que vem do inglês enviromental, social e governance (desenvolvimento, social e governança), no entanto, ainda é pouco conhecido do grande público. Mas pode influenciar, e muito, na vida de todos –e da melhor maneira possível. E o momento de falar do impacto dessa sigla norteia os debates em torno do tema.


É o que propõe mais uma edição do projeto A Região em Pauta, cuja live foi realizada na última terça-feira no Facebook do Grupo Tribuna (www.facebook.com/grupotribuna). Mediado pela gerente de Projetos e Relações Institucionais, Arminda Augusto, o encontro contou com especialistas que debateram o tema. Este caderno amplia a discussão, com outros aspectos.


Adotar as práticas de ESG não deve ser encarado como um diferencial para as empresas, mas como um compromisso, que pode representar a própria sobrevivência. E o momento pede avanço não só nos debates, mas nas ações práticas.


A preocupação se justifica: de acordo com a Agência Bloomberg, o montante mundial ligado, de alguma forma, a essa temática, representou US$ 38 trilhões (R$ 209,7 trilhões) em 2020 e deve chegar, em 2025, a US$ 53 trilhões (R$ 292.5 trilhões), equivalente a um terço dos ativos de investimentos.


“O que o ESG traz de novo é a perspectiva do setor financeiro com relação à sustentabilidade. Ele sempre foi o binômio risco x retorno. E a questão do risco é analisada para além dos fatores tradicionais para também as questões ambientais, sociais e de governança”, explica Carlo Linkevieius Pereira, diretor do Pacto Global da ONU, gênese desse conceito.


Ele conta que a implementação do ESG ganhou impulso em 2015, com a realização de três eventos principais no âmbito das Nações Unidas: a discussão sobre financiamento da agenda sustentável; a adoção da Agenda 2030; e o que formatou o Acordo de Paris.


“O que vem acontecendo, e o porquê dessa pressão tão forte, se dá por alguns motivos claros. Como sociedade, não nos enganemos: se pegarmos questões sociais e econômicas, a sociedade avançou muito ao longo dos séculos e das últimas décadas. Antes, morria-se por fome, peste e guerra. Hoje, morremos mais por doenças oriundas da obesidade do que de fome, mas tem muita gente ainda sendo deixada para trás”, complementa.


Crise intergeracional


Pereira observa que o atual momento apresenta uma crise de confiança entre vários setores da sociedade e, principalmente, uma crise intergeracional.


“As gerações atuais têm outros valores, quando comparados aos nascidos das décadas de 40, 50, 60.... É isso que passa a imperar. Em 2030, 70% da força de trabalho será de pós-millenials. E 40% da riqueza da Terra na mão dessas pessoas. É o que a gente chama de A Grande Transferência”, relata.


Essa nova mentalidade, na visão do diretor do Pacto Global da ONU, será decisiva na implantação das práticas ESG: a conexão com as necessidades atuais do mundo encaminhará o processo a bom termo.


“Tudo isso faz com que as empresas passem a ser pressionadas de forma bem forte, para que possa ser revertido o jogo nas questões ambientais, sociais e de governança. Mas não se engane: não é fácil. Mas o espírito da época, a contemporaneidade, exige isso. Precisamos sair da fase de negação e entender quais as oportunidades estão na mesa, e que são muitas”, complementa.


Indivíduo, uma peça-chave na transformação


O planeta tem, atualmente, 7,8 bilhões de habitantes, de acordo com o portal WorldOMeter. E já produziu 27,8 bilhões de toneladas em emissões de gás carbônico neste ano. Dois dados que conversam entre si: nunca fomos tantos, mas precisando uns dos outros. A transformação proposta pelas práticas de ESG passa essencialmente pelo indivíduo, peça-chave nesse processo.


“Não tem como a gente transformar uma sociedade sem pensar no nosso quintal se a gente não tiver a consciência do nosso papel como indivíduo e do impacto das nossas ações e omissões, falas e pensamentos, tanto para nossa vida individual quanto para a vida coletiva”, pontua Luiz Fernando Lucas, escritor e especialista em ESG e compliance.


Para ele, caso o indivíduo exercer papel de liderança, então, essa responsabilidade é amplificada por seu poder de comunicar com um número maior de pessoas. “Ele tem um holofote e um megafone na mão para falar com as suas pessoas, todos aqueles que o seguem e o admiram. Além de todos os consumidores que, dependendo da potência que é essa marca, fala para o mundo inteiro. Seja como indivíduo consumidor ou indivíduo cidadão, é papel de cada um e de todos nós termos a consciência do que melhorar para o todo”.


Lucas, que é autor do livro A Era da Integridade – Homo Conscious - A Próxima Evolução (Editora Gente), acredita que o ESG não é uma pauta para empresas. Ela está dentro de um guarda-chuva muito maior, que é a busca por uma cultura de valores.


“Todas as decisões de vida, as ações que sejam feitas por um indivíduo, por uma corporação ou uma sociedade como um todo. Levem em conta se isso projeta ou auxilia na felicidade de todos, se isso está embasado em valores, regras, leis e questões éticas. E se isso, de certa forma, vai contribuir para o todo. Tem uma frase que eu gosto: ‘Não tem jeito: o único jeito de dar certo é fazendo o certo’”, frisa.


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