Shakespeare em cordel

A história de A Tempestade, mostra o quanto a falsidade pode triunfar somente enquanto dorme a verdade

Por: Vanessa Campos  -  02/01/24  -  06:37
A trama conta a história de Próspero, duque de Milão, e de seu exílio em uma ilha remota na qual é servido por criaturas que ele domina mediante poderes adquiridos em livros e magia
A trama conta a história de Próspero, duque de Milão, e de seu exílio em uma ilha remota na qual é servido por criaturas que ele domina mediante poderes adquiridos em livros e magia   Foto: Reprodução

Dizem que quem planta vento colhe um dia tempestade. A história de A Tempestade, mostra o quanto a falsidade pode triunfar somente enquanto dorme a verdade, diz a apresentação da última obra escrita por Shakespeare, entre 1610 e 1611, que chega agora numa adaptação em cordel por Marco Haurélio e com ilustrações de Jô Oliveira, pela Editora Florear Livros.


Clique aqui para seguir agora o novo canal de A Tribuna no WhatsApp!


Destinada ao público juvenil ou mesmo adulto, a trama conta a história de Próspero, duque de Milão, e de seu exílio em uma ilha remota na qual é servido por criaturas que ele domina mediante poderes adquiridos em livros e magia. O cenário inicial da peça é um navio à deriva durante uma tempestade. No navio estão, além de Antônio, irmão de Próspero e usurpador de seu ducado, Alonso, rei de Nápoles, e seu irmão Sebastião, igualmente traidores, e também Ferdinando, filho de Alonso, em tudo diferente de seu pai. Na ilha, vivem Próspero, sua filha Miranda, Ariel, um espírito do ar, e Caliban, descrito por Shakespeare como um ser monstruoso.


Passada a tempestade, os náufragos são divididos em grupos distintos e, em seu devido tempo, terão de encarar Próspero, responsável por urdir o que, ao menos a princípio, parece ser uma exemplar vingança. Alternando momentos trágicos e cômicos, A tempestade foge às classificações habituais, sendo hoje considerado um romance, apesar da sua estrutura. Há também muita controvérsia em torno do real objetivo de Shakespeare, em especial no retrato de Próspero, vítima de uma injustiça, mas que, por vezes, excede-se tanto na busca por reparação quanto na forma como trata seus servos mágicos.


O fato de ele ter se assenhorado da ilha, em um tempo em que os europeus se apoderavam de outras terras, impondo aos povos nativos seus costumes e sua língua, serve de argumento para os que enxergam na relação entre o mago e Caliban (anagrama de canibal) uma alegoria dessa dominação e da desumanização dos povos originários pelo prisma dos conquistadores. Próspero representa, ainda, o homem do Renascimento, construtor de novos mundos, a um só tempo artista e mago, vagamente inspirado em John Dee (1527-1608 ou 1609), matemático, astrônomo, astrólogo e alquimista, conselheiro da rainha Elisabeth I.


Segundo o autor, outra possível inspiração é Rodolfo II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, arquiduque da Áustria, que dedicou-se às ciências ocultas e, acusado de negligenciar os seus deveres, foi deposto pelo irmão, Matias, em 1611, depois de uma longa e fracassada guerra contra o Império Otomano.


Marco acredita que há também muito de Shakespeare em Próspero, especialmente quando o protagonista acerta as contas com seus perseguidores, mostrando magnanimidade e faz do epílogo da peça um discurso de despedida.


O interessante dessa obra é a possibilidade de conhecermos a história de maneira mais leve, uma vez que o original é composto por cinco atos, contendo ao todo 2.341 versos.


Serviço: A Tempestade em cordel do autorWilliam Shakespeare. Adaptação de Marco Aurélio, Ilustrações de Jô Oliveira. Editora Florear Livros. 56 páginas. R$ 74,90.


Tudo sobre:
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter