Sem critério do gol fora, Uefa abre portas para a chatice no futebol

Entidade europeia acaba com histórico critério de desempate; prepare-se para onda de prorrogações

Por: Bruno Rios  -  25/06/21  -  10:41
 Sem o critério do gol fora, virada do Barcelona que tornou Sergi Roberto um herói catalão sequer existiria
Sem o critério do gol fora, virada do Barcelona que tornou Sergi Roberto um herói catalão sequer existiria   Foto: Arquivo/AP

A Uefa anunciou na quinta-feira (24) uma importante mudança para os jogos de mata-mata de suas competições continentais: a abolição do gol marcado fora de casa como critério de desempate. É notório que muita gente detesta essa regra e considera um absurdo ver o time que venceu um jogo eliminatório por 2 a 1 em seu estádio, por exemplo, ficar sem a vaga na fase seguinte após perder de 1 a 0 na segunda partida. Afinal, matematicamente, o duelo acabou 2 a 2. Após anos de luta, isso chegará ao fim.


Tudo é muito bonito no papel, porém eu temo duas consequências desanimadoras após o anúncio: a multiplicação das prorrogações arrastadas e sem emoção e uma ebulição das disputas por pênaltis em partidas de mata-mata. Se eu tivesse a caneta na mão na Uefa, sinceramente, não mexeria em nada. Mas, se começasse a alterar as coisas, faria o serviço completo e eliminaria o tempo extra de 30 minutos dos confrontos desse tipo, levando-os diretamente às penalidades máximas.


A novidade entra em vigor agora. Assim, nas próximas edições da Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conference, não haverá a regra do gol fora. Considero isso ruim e um dos aspectos é o calendário encavalado que seguimos notando no futebol mundial, devido à pandemia. Ele permanecerá caótico nos próximos anos, com o agravante da Copa do Mundo de 2022 estar programada para dezembro, bagunçando a rotina de clubes e seleções. Com a tendência de mais prorrogações, haja pernas aos atletas.


Por mais que o futebol tenha se modernizado e jogar fora de seus domínios não seja mais um bicho de sete cabeças a diversos clubes europeus, espero estar muito enganado, mas a abolição da regra aumenta a probabilidade de equipes entrarem em campo com um único objetivo: se trancar na defesa, abrindo mão do ataque e diminuindo o nível de emoção das partidas eliminatórias. Afinal de contas, tanto faz voltar para casa tendo feito ou não gol como visitante.


Partindo para a questão histórica, como esquecer que algumas partidas entraram para as galerias de honra do futebol justamente pelo critério do gol fora, seja para o bem ou para o mal?


A emocionante goleada de 6 a 1 do Barcelona sobre o PSG pela Champions de 2017, por exemplo, só ocorreu porque, devido a um gol marcado pelos franceses no jogo de volta, na Espanha, nenhum placar levaria aquele confronto para a prorrogação. Se fosse hoje, depois de ter levado 4 a 0 em Paris, o Barça faria esforço para seguir no ataque assim que marcou 5 a 1? Duvido. Muito provavelmente os catalães se acomodariam com o empate no saldo e poupariam esforços visando o tempo extra. Pura chatice.


E antes que você pense que esse é um problema que atinge só os europeus, atenção: o Brasil foi um dos primeiros a cortar essa regra em âmbito nacional, no final da década passada, e desde então pressiona a Conmebol a fazer o mesmo na Copa Libertadores e na Copa Sul-Americana. Contudo, a entidade continental resistia a abraçar a causa. Com a nova postura da Uefa, aposto que será questão de tempo para a novidade desembarcar na América do Sul. Vocês estão preparados?


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