Fora, Tite?

Pedidos pela demissão do treinador da Seleção Brasileira a um ano e meio da Copa do Mundo não fazem sentido

Por: Bruno Rios  -  16/07/21  -  07:18
 O treinador Tite está no comando da Seleção Brasileira desde 2016 e irá para sua segunda Copa do Mundo
O treinador Tite está no comando da Seleção Brasileira desde 2016 e irá para sua segunda Copa do Mundo   Foto: Lucas Figueiredo/CBF

A derrota para a Argentina na decisão da Copa América, no Maracanã, foi extremamente dolorosa para a Seleção Brasileira, principalmente pela forma como ocorreu: sem conseguir jogar bem e contra um adversário que também não fez uma grande exibição, criando a rigor apenas duas chances reais de gol. Mas, após o apito final, entendo que algumas críticas a Tite passaram do ponto. Que o treinador brasileiro cometeu erros, acho que todos concordamos. Só que, convenhamos, demiti-lo a um ano e meio da Copa do Mundo faria algum sentido ou, principalmente, permitiria ao Brasil jogar melhor? Ao meu ver, a resposta é não.


Tite está há cinco anos no comando da Seleção e já aprendeu como funciona o dia a dia na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para o bem e para o mal. Já viu um presidente da entidade ser banido do futebol, outro acabar trancado num hotel durante o Mundial da Rússia para não fazer mais bobagens e o terceiro ser suspenso após denúncias de assédio moral e sexual. Queiram ou não, lidar com estes bastidores em eterna ebulição não é tarefa para qualquer um e são poucos os treinadores com casca suficiente para aguentar o tranco e, ainda assim, seguir trabalhando em meio a tanta falta de lisura na entidade nacional.


No campo, o Brasil apresenta um futebol consistente e que, em linhas gerais, é suficiente para superar as demais equipes da América do Sul. De vez em quando, como no último sábado (10), tropeça contra a Argentina, mas isso é normal, pois estamos falando de uma das escolas futebolísticas mais famosas, brilhantes e competitivas do mundo. Concordo com quem diz que o desempenho brasileiro poderia ser melhor, pois em determinados momentos da última Copa América, por exemplo, as partidas chegavam a dar sono, mas colocar Renato Gaúcho, Cuca ou qualquer outro técnico brasileiro no lugar dificilmente faria a situação mudar.


Nem considero a possibilidade de um treinador estrangeiro assumir o lugar de Tite por dois motivos: uma eterna birra dos cartolas nacionais com profissionais gringos e se haveria alguém realmente disposto a assumir o abacaxi de trabalhar num ambiente tão espinhoso como o da CBF. Na teoria, é claro que gostaria de ver um Pep Guardiola comandar a Seleção, mas quem pensa que, em sã consciência, ele deixaria o alto salário e as garantias oferecidas pelo Manchester City para se jogar numa realidade tão maluca como a nossa? Por aqui, não se esqueçam, os campeonatos locais sequer param durante as convocações na Data Fifa.


Aos mais supersticiosos e racionais, outro ponto que me faz defender o trabalho de Tite. O tetra e o penta vieram depois de fracassos na Copa América e a manutenção dos treinadores. Carlos Alberto Parreira balançou após o Brasil perder para a Argentina em 1993 e teve um início pífio nas Eliminatórias, mas seguiu no cargo e ganhou a Copa de 1994. O mesmo ocorreu com Felipão, que em 2001 viu a Seleção sair da Copa América depois de perder para Honduras, porém teve respaldo e faturou a Copa de 2002. Isso significa que o hexa está garantido em 2022? Longe disso. Mas voltar à estaca zero é a certeza de adiá-lo para 2026.


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