Copa América no Brasil se torna uma perigosa armadilha para Tite

Ganhar a competição é quase "obrigação" e perdê-la pode dar início a uma perigosa crise um ano antes da Copa do Mundo

Por: Bruno Rios  -  04/06/21  -  06:42
 O técnico Tite chegou pressionado à Copa América de 2019 e conquista melhorou o clima
O técnico Tite chegou pressionado à Copa América de 2019 e conquista melhorou o clima   Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Além de todos os óbvios riscos sanitários que envolvem a realização da Copa América no Brasil, a atabalhoada mudança de sede da competição feita pela Conmebol após as desistências de Argentina e Colômbia se torna uma pegadinha perigosa para o técnico Tite e seu futuro no comando da Seleção.


De cara, é possível traçar um paralelo entre o papel do torneio continental para o Brasil e o que ultimamente o Campeonato Carioca representa para um dos grandes do futebol nacional, o Flamengo - se ganhar, não fez mais que a obrigação; se perder, mergulha na crise.


Por si só, esse clima não é nada bom a uma Seleção que tenta reencontrar seu papel de protagonista e chegará ao Catar, no ano que vem, lutando para encerrar um jejum de duas décadas sem ganhar uma Copa do Mundo, ficando cada vez mais para trás em relação a outras equipes.


Tudo o que Tite precisava era de um pouco de tranquilidade para testar novidades no esquema tático e até na escalação, e não uma segunda Copa América realizada em solo brasileiro em três anos, com a inevitável pressão para não passar vexame dentro de casa e, claro, tentar manter a taça em solo brasileiro. Até porque o papo de que ninguém liga para essa disputa só vale até a bola rolar, anotem e me cobrem.


Para completar a armadilha que cerca o treinador, ainda há o caso Neymar a ser resolvido. Assim como na última Copa América, o craque desembarcou no Brasil com seu nome envolvido num caso de abuso sexual. Em 2019, uma lesão o tirou do torneio e, por vias tortas, acalmou o clima na Seleção na caminhada rumo ao título. Mas, agora, ele fala em ir para o ataque contra a Nike, onde trabalha a mulher que o denunciou pelo suposto assédio em 2016.


A Tite, sobram missões neste momento: tentar blindar o grupo de atletas, não deixar a cabeça de Neymar ferver a ponto dele esquecer o que precisa fazer em campo, achar um time que finalmente consiga traduzir em gols o domínio que demonstrou nas últimas vezes em que atuou e reconectar-se à torcida brasileira, até agora frustrada com a eliminação na Copa do Mundo de 2018 e tudo o que cerca a CBF e o futebol nacional.


Dentro das quatro linhas, gosto da intenção do treinador em colocar Gabigol ao lado de Neymar no ataque, dando um tempo para Gabriel Jesus. Não entendo como se perde tanto tempo com o atacante do Manchester City, que há quase dois anos não balança as redes pela Seleção e passou em branco na Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Camisa 9 que não consegue fazer gol não pode ter vida longa, infelizmente.


Espero que o jogo desta sexta-feira (4), contra o Equador, em Porto Alegre, pelas Eliminatórias do Mundial, termine com uma boa vitória do Brasil, tire um pouco da pressão que acabará recaindo sobre Tite e seja o cartão de visitas para mais uma conquista da Copa América. Até porque, convenhamos: se perdê-la e houver pressão pela sua demissão, não há à disposição um outro nome que seja unanimidade. E o que está ruim pode ficar pior.


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