Clubes x seleções: um confronto em que todos perdem e a Fifa nada faz para resolver

Rebelião de times da Inglaterra, Espanha e Itália escancara que o calendário mundial do futebol precisa de mudanças

Por: Bruno Rios  -  27/08/21  -  11:57
 Confronto entre Brasil e Argentina, em 5 de setembro, pode ter seleções desfiguradas
Confronto entre Brasil e Argentina, em 5 de setembro, pode ter seleções desfiguradas   Foto: Lucas Figueiredo/CBF

A confusão envolvendo a liberação ou não de jogadores que atuam nas ligas da Inglaterra, Espanha e Itália para as Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo, que ocorrerão a partir da próxima quinta-feira (2), só escancara que a cartolagem da Fifa precisa resolver para ontem pontos polêmicos do calendário do futebol. É impossível que a entidade que comanda o esporte mais popular do planeta não perceba que faltam dias no ano para tantas partidas, ainda mais em meio à pandemia e com todas as restrições de deslocamento que ela acaba provocando.


Aliás, é bom lembrar que os clubes desses países europeus não estão fazendo jogo duro para a liberação de seus atletas por birra. Trata-se de uma questão sanitária e financeira, pois eles pagam fortunas aos atletas, que precisariam (ou precisarão, pois tudo pode mudar nos próximos dias) se deslocar a locais como Brasil e Argentina, que no caso da Inglaterra fazem parte de uma lista vermelha. O que isso significa? Que no retorno ao solo inglês, por exemplo, eles teriam de encarar uma quarentena de dez dias, perdendo vários jogos pelas suas equipes.


Claro que quem elabora o calendário das Eliminatórias na América do Sul é a Conmebol, mas a Fifa passa a mão na cabeça dos dirigentes sul-americanos por aprovar, há décadas, uma fórmula de disputa absurda para essa competição: turno e returno, com cada uma das dez seleções fazendo 18 jogos para, no final das contas, metade delas obter uma vaga direta ao Mundial ou a chance de disputar a repescagem. Quase todo torcedor já percebeu que isso só ocorre para que seja possível faturar mais com publicidade e direitos de transmissão para TVs.


Ciente de que este copo está para transbordar e que os clubes não aguentam mais ceder seus jogadores por tanto tempo às equipes nacionais, a Fifa vem trabalhando na criação de um novo calendário, que entraria em vigor a partir de 2024 ou 2025. Algumas ideias parecem simpáticas, como restringir os jogos de seleções a um ou dois meses por ano, mas com todo mundo ciente de que seria necessário realmente paralisar os torneios nacionais no período - algo que duvido que aconteça no Brasil, mas convenhamos isso é história para um outro texto.


E me chama atenção, negativamente, o fato de a entidade trabalhar nos bastidores com uma ideia que, na verdade, é uma ameaça ao bom senso e não resolve o excesso de jogos que tanto incomoda: a diminuição do intervalo entre duas Copas do Mundo, dos atuais quatro para dois anos. No momento em que os clubes europeus se unem para uma rebelião contra as partidas dos times nacionais, cortar pela metade o espaço entre dois Mundiais soa como uma aberração por dois motivos: tratar os atletas como máquinas e banalizar a maior competição do planeta.


Sinceramente, eu espero que em meio a tantos dirigentes que olham só para o próprio umbigo, haja um acordo pontual e até a pavimentação de um cenário mais tranquilo e que permita o convívio harmônico entre clubes e seleções. Uma paixão não deveria eliminar a outra, mas os problemas são tantos que, ultimamente, fica cada vez mais difícil defender as confederações continentais.


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