A banalização da Copa do Mundo em debate

Congresso da Fifa autoriza discussão sobre mudança no intervalo de disputa do torneio, de quatro para dois anos

Por: Bruno Rios  -  28/05/21  -  07:41
 A última vitória do Brasil na Copa foi em 2002; com torneio a cada dois anos, jejum já teria acabado?
A última vitória do Brasil na Copa foi em 2002; com torneio a cada dois anos, jejum já teria acabado?   Foto: Divulgação/Fifa

Enquanto os olhares de boa parte dos torcedores estavam voltados à reta final das ligas europeias, às definições na Copa Libertadores e à expectativa pela decisão da Liga dos Campeões da Europa, a Fifa deu sinal verde para a elaboração de um estudo que mostrará se há viabilidade ou não de seu principal evento, a Copa do Mundo, passar a ocorrer de dois em dois anos. Há quem defenda a mudança, mas não consigo enxergar vantagens. Mais que isso: ela soa como uma aberração na estrutura atual do futebol, com jogos além da conta num calendário já abarrotado.


A sugestão foi apresentada pela Federação de Futebol da Arábia Saudita, que claramente não deu um ponto sem nó nessa história toda. Tanto que o presidente da Fifa, Gianni Infantino, tagarelou em seguida que os cartolas precisam ter a mente aberta ao analisar o assunto, mas garantiu que o mérito esportivo será o norteador desse estudo. Belas palavras, mas ficou claro o que está em jogo: dinheiro.


Com sua galinha dos ovos de ouro passando a ter metade do intervalo de tempo para realização, a Fifa pode arrecadar ainda mais com tudo o que envolve uma Copa do Mundo - de direitos de transmissão a propagandas e comercialização de ingressos, entre outros pontos. Só que alguém parou para analisar o que faz do Mundial o evento esportivo mais aguardado em boa parte dos países? Além de toda a emoção que proporciona, a espera para vivenciá-lo torna o pacote ainda mais especial.


Copa do Mundo não é como um Campeonato Brasileiro ou a própria Champions, que uma equipe perde numa determinada temporada e já pode pensar em conquistá-la no ano seguinte. Um resultado tem a força de marcar uma geração inteira de atletas e torcedores, seja positivamente ou não. Isso só faz aumentar o envolvimento de todos com o torneio. Ou alguém vê as ruas de seu bairro ou sua cidade serem pintadas, por exemplo, para a decisão de uma Libertadores, por mais importante que seja? Ou o Brasil parar por duas horas, várias vezes num intervalo de quatro semanas, para torcer, sofrer, gritar e comemorar?


Recentemente, o mundo do futebol teve um choque ao se deparar com o fracassado projeto da Superliga Europeia, bombardeado de todos os lados por deixar de lado os critérios esportivos na definição de deus participantes, mas que também preocupava por banalizar os duelos entre os principais times do futebol mundial. Confrontos que hoje têm capacidade de atrair os olhares do mundo quando ocorrem, como Real Madrid x Manchester United ou Barcelona x Milan, seriam semanais, acabando com parte da graça que os envolve.


Aí o que faz a Fifa logo depois? Abre a porteira para que o mesmo ocorra com a Copa do Mundo. Concordo com Infantino quando ele fala em ter a mente aberta e por isso já não vejo com tanta restrição assim o Mundial passar a ter 48 seleções a partir de 2026, dando o gostinho do evento a mais países. Talvez a fórmula de disputa possa ser ajustada, mas isso democratiza a Copa e mantém a sua essência, que tem na espera de quatro anos um pilar de sucesso. Banalizar isso pode ser o maior gol contra em décadas.


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