Se você não tem pressa, pode comer num restaurante à la carte.
E esperar o moço da cozinha fazer os paranauês todos.
Você tem tempo.
Pode aguardar comendo umas azeitonas pretas e enchendo o bucho de pão com aquelas manteigas que servem no café da manhã em hotel.
E beringela.
Eu não como beringela.
Beringela de couvert parece cérebro de zumbi, xuxado no vinagre.
À la carte é uma expressão típica do francês que significa "como está no cardápio".
Calma.
Não falo francês, mas procurei no Google.
Voltemos ao motivo do texto.
O mundo urge.
Os boletos te cobram.
Os pix´s voam.
Você tem pressa.
E quem tem pressa, come num restaurante por quilo.
Porque é prático.
É rápido.
Não precisa esperar.
Mas o mundo não é perfeito.
Se fosse perfeito não teríamos pandemia, ômicrons e afins.
Nem gente correndo na ciclovia.
Não existiria e TIM e nem esse calor que faz em Santos.
E como não é perfeito, quando você chega no restaurante por quilo, sempre tem uma pessoa na sua frente.
E essa pessoa que está na sua frente, decide fazer uma sessão de terapia com os leguminosos, carboidratos e proteínas que estão expostos naquela imensa bandeja de opções.
Ela olha.
Pensa.
Calcula.
Ameaça pegar.
Desiste.
Pega concha.
Desiste.
Procura o pegador de macarrão.
Desiste.
Imagina essa pessoa, jogando numa final de Copa do Mundo, com 3 bilhões de pessoas assistindo.
Pressão total.
Empate de 0x0.
Final de jogo.
O lateral dribla o marcador, vai na linha de fundo e cruza.
A bola vai em sua direção à 140km/hora.
Ela tem segundos para decidir se cabeceia, se mata no peito, se antecipa ao zagueiro.
E ela fica pensando.
A bola passa.
O jogo acaba.
O time dela perde nos penaltys.
O juiz vai embora.
Os times vão embora.
As pessoas vão embora.
As luzes se apagam.
E ela perguntando: “pego arroz ou macarrão?”.
Pqp.
Será que essas pessoas esperam um sinal divino das comidinhas?
Que o arroz comece a falar e diga “me pega, me pega, me pega!!!!”
Que o frango dê uma cambalhota pra chamar a atenção?
E você?
Ah, você espera.
Como se estivesse num restaurante à la carte.
Mas sem azeitonas pretas.
Nem manteiguinha.
Aí, a pessoa se senta na mesa do seu lado, depois de participar desse aprofundado estudo gastronômico e diz: “Acho que eu deveria ter colocado feijão”.
Jesus Amado.