Governo criativo para uma economia criativa

Ao apoiar setores criativos e se pautar pela inovação, governos se tornam mais aptos a atender às necessidades das pessoas

Por: Paulo Alexandre Barbosa  -  09/02/21  -  17:00
Atualizado em 09/02/21 - 17:05
Governo criativo para uma economia criativa
Governo criativo para uma economia criativa   Foto: Arquivo Pessoal

A pandemia que ainda testemunhamos deixará muitos aprendizados. Um dos principais talvez seja aurgência de aprimorarmos a capacidade de reação de governo e sociedade a eventos que desafiam nossasabedoria. Estimular esses desenvolvimentos pelos vetores da criatividade e da inovação é a resposta maissustentável que governos podem oferecer atualmente.


Economias inovadoras e orientadas pela lógica da criatividade são mais resilientes, pois seus agentes são capazes de gerar valor mesmo nos tempos de vacas magras. Governos deveriam agir de maneira semelhante. Ao apoiar setores criativos e se pautar pela inovação, eles se tornam mais aptos a atender às necessidades das pessoas, sobretudo durante crises.


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Quando debates sobre economia criativa surgiram, nos anos 1990, estávamos mais próximos do mundo analógico. Por isso, o foco eram os setores da cultura. Big data, internet das coisas e criptomoedas eramtecnologias impensáveis, embora uma nova economia começasse a emergir.


As inovações tecnológicas dos últimos anos trouxeram mudanças conceituais e práticas. Do ponto de vista conceitual, economia criativa e inovação passaram a ser encaradas como partes de um mesmo processo.


Pelo ângulo prático, a primeira passou a incluir setores como o de programação. Portanto, não estamosmais diante de um nicho, mas de um novo modelo de organização econômica e social.


Como aponta a OCDE, a inovação será o grande vetor para o crescimento inclusivo. O Brasil, que pretendeunir-se à organização, precisa ainda provar sua capacidade de inovar e ser criativo, tanto no setor públicocomo no privado, de modo a reduzir suas profundas desigualdades. No entanto, enquanto governos comoo chinês e o alemão reorientam suas economias para a indústria 4.0, continuamos presos a discussões doséculo XX.


O que torna uma sociedade mais próspera atualmente é sua sustentabilidade econômica, social e ambiental, não a primazia de um setor. A agricultura, a indústria e os serviços não são os mesmos do pós-guerra. Uma agricultura de ponta como a brasileira possui mais tecnologia do que certos setores industriais. Omesmo vale para os serviços, como mostra o Reino Unido, que há muito trocou as chaminés deManchester pelos computadores de Londres. Mas, em todos esses setores, a mecanização acelera-se,destruindo certos empregos e profissões e criando outros. Essa dinâmica exigirá que as pessoasdesenvolvam cada vez mais a capacidade de transitar pelos setores da economia.


O papel do governo, então, é duplo: estimular a inovação e orientar suas próprias ações por esse paradigma. A inclusão de Santos na rede de cidades criativas da Unesco, por exemplo, teve como premissa o fato deque, apesar de seu imenso patrimônio imaterial, a cidade precisava traduzi-lo em renda, sobretudo para apopulação mais carente. Por razões históricas, o porto é uma grande fonte de receita. Mas, ao invés de noslimitarmos a essa circunstância, buscamos transbordar para outros segmentos, como cinema e gastronomia,a identidade que a atividade portuária desfruta, como fizeram Busan e Mumbai.


Outra medida foi ir além da dimensão cultural, com a criação da incubadora de Santos, que assegura um ambiente favorável à inovação tecnológica, ao articular capacidades de governos, empresas e universidades. Soluções ali desenvolvidas poderão ser replicadas e escaladas, o que mostra seus potenciais benefícios econômicos e sociais.


Pelo lado governamental, nos parece que a inovação é favorecida pelos seguintes fatores: participação social, valorização de servidores públicos, parcerias, comunicação efetiva e análise contínua de políticas públicas. Essas podem não ser condições suficientes para garantir uma cultura de inovação e criatividade no setor público e na sociedade, mas dificilmente deixarão de ser consideradas por governos que, focadosnas necessidades das pessoas, tenham sido bem sucedidos nesse esforço.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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