O inverno é a estação que mais aquece o coração
Encontro beleza e encanto mesmo nos dias mais nublados e gélidos
Nesta semana tivemos a oportunidade de contemplar o início do inverno. E as previsões são as mais alarmantes para aqueles que não gostam do clima mais frio, pois teremos temperaturas baixas nesses próximos três meses. No meu caso, como membro de uma absoluta minoria, aprecio essa estação do ano e encontro beleza e encanto mesmo nos dias mais nublados e gélidos que possa vir a experimentar.
O céu escuro, o vento suave, as pessoas elegantemente vestidas com os seus casacos e luvas são apenas algumas das belezas trazidas pelo inverno. As comidas e bebidas que nessa parte do ano parecem ainda mais saborosas dão o tom e aquela sensação de felicidade. Amigos reunidos, conversa fiada, enfim, em tempos tão difíceis como os atuais, sonhar ainda não é proibido e lutar para viver ou reviver momentos de alegria é obrigação para aqueles que ainda procuram manter a sanidade.
Apesar disso, o que toca a minha emoção nesses meses não diz respeito exatamente ao presente. Quando revisito momentos da minha vida lembro-me com muito carinho desse período do ano. São nas férias escolares de julho que vivi e guardo inúmeras lembranças da infância que mexem com o coração e com a alma ano após ano, ainda mais pelo fato de gozar de férias exatamente no mesmo período em razão da minha atividade acadêmica. Sinto-me numa viagem no tempo.
Quando criança empinando pipa, jogando bola na praia ou mesmo futebol de salão no saudoso Caiçara Clube - jogando é força de expressão, pois nunca me notabilizei por ser um exímio jogador, muito ao contrário - encontrar os amigos era um motivo de festa inexplicável. Vivíamos num tempo sem aparelhos celulares, no qual o nosso único compromisso era voltar cedo para jantar. Já enquanto adolescente, íamos aos shoppings para passear e ao cinema conferir os principais lançamentos. Um tempo em que o medo e a violência experimentados atualmente era algo inimaginável.
Era época, igualmente, de passar parte das férias na casa dos avós, brincar com os primos, passear com a família, acompanhar o meu pai no trabalho - momentos que jamais sairão da minha mente e marcaram a alma para sempre. Não sabia naquele instante quão especiais e raros eram esses capítulos da vida e quão difícil seria repeti-los na fase adulta. Não consegui constatar, em razão da inexperiência e pouca idade, que esse tempo seria único, mas certo de que aproveitei ao máximo.
Atualmente, além das “coisas de adulto” que mencionei no início deste singelo texto, que são ótimas e tem seu valor e significado na minha vida, procuro viver momentos lúdicos que formaram o meu caráter na infância e adolescência. Estar ao lado da família, dos amigos, estar “presente” na vida das pessoas que amo é o compromisso que firmei comigo mesmo. Não posso ser surpreendido daqui a 20 anos com a constatação de que o que vivo hoje foi especial e não aproveitei. Tenho consciência disso e procuro construir memórias afetivas como essas que carrego desde a infância.
Apesar do frio, chuva, vento e todas as agruras que experimentamos no inverno, estas não foram suficientes para impedir a amizade, o amor, o carinho e as lembranças colhidas neste curto espaço da minha existência. Um abraço caloroso, uma fogueira acesa, ter amigos e comida à mesa são os ingredientes para uma vida feliz, independentemente da temperatura marcada. Nossos pais, avós, filhos, primos e amigos não estarão conosco para sempre e não há nada mais urgente que desfrutar das suas companhias e do seu amor. O inverno é a estação mais quente para o coração.
