O ovo ou a galinha – parte I

Um terminal bem equipado para receber navios de grande porte, com certeza atrai mais cargas

Por: Patrícia Lia Brentano  -  23/04/24  -  06:27
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Os terminais de contêineres desempenham um papel importante no comércio global, facilitando o movimento eficiente de mercadorias entre diferentes regiões do mundo. No entanto, uma questão fundamental permanece: o que realmente torna um terminal de contêineres atrativo? Será que é a capacidade de atracação para navios de grande porte ou a existência de carga na sua retroárea?


Quando é feito o investimento em um terminal de contêineres, com cifras cada vez maiores, o principal objetivo é atrair os navios para a realização da operação portuária (descarregar os contêineres que estão a bordo e embarcar os que estão depositados no pátio), entretanto, além dos ganhos com a operação em si, os demais serviços agregados contribuem para o aumento do faturamento, principalmente a armazenagem (tema para um outro artigo).


A capacidade de um terminal de contêineres em receber navios maiores, como os porta-contêineres de última geração, exigindo infraestrutura portuária adequada, incluindo berços de atracação com profundidade suficiente e equipamentos para movimentação de contêineres de alta capacidade, tem um papel significativo em sua atratividade. O terminal, ao receber e despachar esses navios de forma eficiente, tem um potencial maior para atrair linhas de navegação que buscam otimizar suas operações e reduzir os custos logísticos.


Por outro lado, a carga é um determinante supremo da atratividade de um terminal de contêineres. Empresas exportadoras e importadoras buscam rotas rápidas e confiáveis para movimentar seus produtos pelo mundo. Portos estrategicamente localizados, com acesso a mercados produtores e oferecendo serviços logísticos integrados, são altamente valorizados pelos stakeholders da cadeia de suprimentos. A disponibilidade de infraestrutura multimodal, como conexões ferroviárias (raras ainda no Brasil) e rodoviárias eficientes, também desempenha um papel importante na decisão das empresas em utilizar um determinado terminal.


Embora o navio e a existência de carga na retroárea sejam fatores distintos na determinação da atratividade de um terminal de contêineres, é importante reconhecer a interdependência entre eles. Um terminal bem equipado para receber navios de grande porte, com certeza atrai mais cargas devido à sua capacidade de oferecer regularidade e economia de escala. Da mesma forma, a existência de serviços acessórios para a carga na retroárea (ex.: depot de vazios) atrai grandes volumes de contêineres garantindo as escalas regulares (e com menos omissões) das linhas de navegação.


Em última análise, a atratividade de um terminal de contêineres é resultado da interação complexa entre o navio e a carga. Enquanto a capacidade de atracação para navios de grande porte é fundamental para atrair linhas de navegação, a demanda por serviços associados à logística da carga é fundamental para garantir a sustentabilidade econômica do terminal e a garantia de volume para o armador. Portanto, investimentos em infraestrutura portuária e serviços logísticos devem ser equilibrados para maximizar a competitividade de um terminal de contêine-res no mercado global.


A discussão sobre quem vem primeiro, se é o ovo ou a galinha, é simples se conseguirmos visualizar um terminal de contêineres como parte integrante da cadeia logística dos clientes (navio e carga), onde um não existe sem o outro e a interdependência é a essência do sucesso (para todos).


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