Não à guerra

O charmoso Wimbledon, torneio de tênis, também entrou na guerra contra a Rússia.

Por: Marcio Calves  -  09/06/22  -  10:06
A primeira edição de Windenblon ocorreu em 1877, com apenas 22 participantes
A primeira edição de Windenblon ocorreu em 1877, com apenas 22 participantes   Foto: Divulgação

O All England Lawn Tennis and Croquet Club, responsável pela organização do tradicional e mais antigo torneio de tênis do mundo, o charmoso Wimbledon, entrou na guerra contra a Rússia. A primeira edição ocorreu em 1877, com apenas 22 participantes. Na onda das condenações mundiais contra as ações militares na Ucrânia, a organização anunciou que os tenistas russos e bielorrussos serão proibidos de participar da competição, prevista para 28 de junho, em Londres (Inglaterra).


Por sua tradição e até o piso de grama, além de integrar o chamado Grand Slam, série que reúne os quatro principais torneios do circuito, Wimbledon é sem dúvida também a principal competição do tênis mundial. É o sonho de todo grande tenista, independentemente da conquista da condição de número 1 do mundo.


É óbvio que a conquista do mais alto posto do ranking é um feito histórico, que consagra qualquer tenista, porém, ser o número 1 e não conquistar Wimbledon é uma grande frustração. É como ir a Roma e não ver o Papa. A história mostra a obsessão de muitos jogadores na luta por ganhar tal torneio na quadra central, que conta até com camarote real e muitas vezes com a presença de membros da realeza.


Novak Djokovic, na maioria das seis vezes que venceu no “templo sagrado do tênis”, na comemoração, literalmente fez questão de comer um pouco de grama.


A decisão da diretoria do All England Club, num primeiro momento, atinge tenistas como Danil Medved e Andrey Rublev, dentre outros, respectivamente números 2 e 8 do mundo. No feminino, as principais vítimas são a russa Anastasia Pavlyuchenkova, atual top ten, e a carismática bielorrussa Victoria Azarenka. Um duro golpe também pelo prêmio em dinheiro e pelo número de pontos que Wimbledon oferece.


Andrey Rublev se tornou o mais recente jogador a criticar a decisão de banir jogadores russos e bielorrussos de Wimbledon e eventos de quadra de grama no Reino Unido, dizendo que "isso não mudará nada". Tem razão!


Novak Djokovic, atual número 1 do mundo, ao tomar conhecimento de tal decisão, qualificou de “loucos” os organizadores do torneio. Depois de lembrar o que viveu na Sérvia, em 1999, “Djoko” acrescentou em uma entrevista à CNN que “todas as vezes em que os políticos interferem no esporte o resultado não é bom”.


Nesse ponto, o líder do ranking mundial tem total razão, é fato que na maioria das vezes a interferência política causa grandes danos ao esporte. Por questões po líticas, EUA e a então União Soviética boicotaram até Jogos Olímpicos, punindo atletas que treinaram anos, ou quase uma vida, na busca do da medalha de ouro.


Foi assim em 1956, pela primeira vez, em Melbourne, 20 anos depois na África do Sul, em função do apartheid, e durante a chamada “guerra fria”, em 1980, quando os Estados Unidos lideraram 62 países capitalistas e se recusaram a participar das Olimpíadas de Moscou, em protesto contra a invasão do Afeganistão pela então União Soviética, em 1979.


É inegável que o mundo tem que reagir contra o verdadeiro massacre de civis que está ocorrendo na Ucrânia. Não é possível observar passivamente o caos humanitário, para alguns até um “genocídio”. Medidas como boicote comercial e financeiro, rompimento de relações diplomáticas e até apoio militar à Ucrânia são importantes e necessárias, a questão maior é punir a população de forma geral.


No caso dos esportistas, talvez fosse correto proibir a participação como representantes de tais países, a tal atuação “sem bandeira”, caracterizando o protesto. A regra, porém, teria que ser geral, a não apenas em relação ao tênis. A Fifa de pronto foi ao extremo, anunciando a exclusão da Rússia na Copa do Catar.


Sem dúvida, Wimbledon seguiu essa linha. Os efeitos, porém, serão diretos aos atletas, ainda que atinjam a imagem do país e oficializem o protesto. Uma pena, eles não têm culpa, com certeza, se fossem ouvidos, diriam não à guerra.


Dessa vez, “Djoko” acertou, apesar da perda de prestígio pelo vexame que protagonizou na Austrália, em janeiro, quando acabou deportado por se negar atomar a vacina contra a covid-19.


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