Acordar para a realidade

A atual situação do Santos é motivo de grande preocupação

Por: Marcio Calves  -  09/06/22  -  09:55
Atualizado em 09/06/22 - 09:56
Rueda pediu desculpas, reconheceu alguns erros e prometeu buscar ajuda financeira
Rueda pediu desculpas, reconheceu alguns erros e prometeu buscar ajuda financeira   Foto: Ivan Storti/SFC

Em longa entrevista ao UOL nesta semana, o presidente Andrés Rueda fez revelações importantes, principalmente do ponto de vista financeiro. Abordou, também, a situação do time, motivo de grande preocupação de toda a comunidade santista.


Em relação ao futebol, especificamente, o dirigente mais uma vez reiterou que não está preocupado com a possibilidade de rebaixamento para a Série B, no Campeonato Brasileiro iniciado ontem, contra o Fluminense, no Rio de Janeiro. Para justificar seu otimismo, o presidente deu a impressão de que está muito longe da realidade.


Seus argumentos são pífios, como, por exemplo, que o Santos não cairá “por força da camisa”. E mais: que “não vai acontecer, como não aconteceu”, numa referência indireta às ameaças no último Campeonato Brasileiro e no Paulistão 2022. É óbvio que a ele cabe sempre demonstrar fé e tentar transmitir otimismo, porém, negar os sinais e evidência chega a ser absurdo.


Os exemplos são muitos, envolvendo clubes de tanta tradição no futebol brasileiro como o Santos, entre eles, Palmeiras, Corinthians, Grêmio, Fluminense, Botafogo e outros cujos dirigentes não tiveram sensibilidade para avaliar corretamente o momento.


Sem dúvida, é preciso mais bom senso e sensibilidade para observar o quadro geral, incluindo o Conselho Deliberativo e o tal Comitê de Gestão. Nesse último órgão, já ocorreram quatro renúncias importantes, entre elas a de Walter Shalka, que, segundo consta, era seu fiel parceiro na área de finanças. Esse movimento não pode ser ignorado, pelo contrário, tem que ser muito bem interpretado. No mínimo, pode demonstrar insatisfação e divergência com a atual filosofia.


Sobraram cinco, dois deles o presidente e o próprio vice-presidente, eleitos estatutariamente.


No Conselho, segundo informações de um dos “grandes cardeais”, o ambiente não é diferente. Há pressões até para a renúncia imediata, incluindo nesse quadro o presidente do Conselho Deliberativo, Celso Jatene, que não estaria correspondendo à expectativa da grande maioria dos conselheiros. Sua insistência em realizar reuniões híbridas teria o objetivo de evitar o debate direto sobre o difícil momento do clube e ainda preservar a diretoria executiva. Com certeza, a renúncia seria traumática e talvez até mais prejudicial. Não cabe, porém, ter como argumentos a “força da camisa” e que “não vai acontecer, como nunca aconteceu”. Parece até brincadeira, sem responsabilidade. Nos últimos dias, foram contratados cinco jogadores, incluindo dois equatorianos, com certeza indicados pelo técnico Fabián Bustos. A questão é se efetivamente acrescentarão ao time. O ideal seria contratar atletas de qualidade comprovada, até para evitar desperdício financeiro. O “caixa”, contudo, não permite.


Em relação ao quadro financeiro, finalmente o grande público teve acesso aos números oficiais da dívida, que, segundo o presidente, estão na casa de R$ 670 milhões. E mais: que, em razão de acordos, já houve uma redução. Rueda deixou claro que sua prioridade é a gestão financeira, destacando a quitação das dívidas com Robinho e com o ex-treinador português Jesualdo Ferreira. Por fim, descartou qualquer possibilidade de o Santos se transformar numa SAF (Sociedade Anônima do Futebol), como ocorreu com Cruzeiro, Vasco e Botafogo. E depois de dizer que o Santos é “incomprável”, ressaltou que o clube quer investidor e não um comprador.


Muito bonito, soa bem, em termos midiáticos, para o ego dos santistas. Impõe-se, porém, em termos de contexto geral, literalmente acordar para a realidade. Negá-la pode ser fatal.


Em tempo: essa semana, após mais um show do Real Madrid na Champions League, dessa vez com o Chelsea, o craque francês Karin Benzema deu uma grande lição para os que insistem em priorizar o individual, ao invés do coletivo. Depois de mais um Hat Trick (3 gols em apenas um jogo), ao ser indagado se sonhava com o título de melhor jogador do mundo, foi claro: “Não jogo para ser o melhor o melhor do mundo”.


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