Enfrentamento à violência doméstica é cada vez mais urgente

Após o conhecimento sobre o assunto, a mudança de comportamento se faz necessária

Por: Marcia Atik, psicóloga  -  18/07/21  -  14:50
 Diferentes tipos de violência afetam a mulher e devem ser combatidos
Diferentes tipos de violência afetam a mulher e devem ser combatidos   Foto: Pixabay

Nunca se falou tanto em violência doméstica como hoje em dia. Esse fenômeno cruel sempre existiu, mas desde que as mulheres entraram em contato com seus direitos, a violência doméstica tomou contornos e foi sendo desvelada e entendida. Após o conhecimento, a mudança de comportamento se faz necessária.


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Estão previstos cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher na Lei Maria da Penha: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
Física: Entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher.
Psicológica: É considerada qualquer conduta que: cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões.
Sexual: Trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
Patrimonial: entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
Moral: É considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.


Portanto aproveito esse espaço de reflexão para trazer a público algumas mensagens que recebo e que fazem com que tenhamos um olhar mais acurado e realista para que essa mudança de comportamento que não atinge apenas a mulher, mas contamina a família toda, seja mudada.


Um homem que me bateu um dia poderá repetir isso? Não terá sido um dia de estresse e descontrole?


Não se pode garantir que um episódio isolado seja o caráter da pessoa, mas posso afirmar que se a mulher estiver atenta aos sentimentos com certeza após um episódio desses ela olhará e sentirá esse homem diferente, creio que ao invés de esperar para saber, vale a pena conferir seus sentimentos, após um episódio tão traumático e desrespeitoso como esse.


Sofro agressão física, mas tenho medo de largá-lo e nunca mais arrumar outro homem. O que fazer?


A questão envolvida vai muito além da dor física; creio ser a sensação de incompetência diante da vida que assusta, e isso está intimamente atrelado a ideia ultrapassada de que uma mulher só tem valor se tiver um homem ao seu lado. Isso mostra para o mundo que ela não foi rejeitada que um homem a escolheu, mesmo que o preço a pagar seja o da sua dignidade. Essa mulher que coloca sua dignidade numa banca de feira com certeza terá dificuldades em arranjar uma parceria de qualidade, mas aquela que escolhe se valorizar atrairá olhares de admiração.


Tenho medo de denunciar meu parceiro e ele ficar com muito ódio e acabar com a minha vida. O que me aconselha?


O medo é a grande armadilha em que as mulheres se prendem e fazem com que a situação de violência se perpetue. Não estou falando que deva se entregar ao leão sem uma organização e um planejamento. Se quiser mesmo romper esse vínculo de dor e sofrimento, não faça como o seu agressor que entra apenas com a emoção, planeje, se oriente, se proteja, e principalmente organize provas irrefutáveis, utilize a razão pois isso desmonta o agressor, porque ao agir assim você o confrontará com a realidade e não será apenas uma explosão de raiva por um lado e medo pelo outro.


Sofri violência por parte do meu marido. Se eu denunciá-lo ele irá preso, segundo a Lei Maria da Penha. Meus filhos não ficarão com raiva de mim?


Além do que foi dito na resposta anterior, quando os filhos não veem ou fingem não ver as agressões vale a pena reuni-los, falar de como se sente e como sofre, e que está resolvendo tomar uma atitude. Independente da idade dos filhos, mas se forem adultos provavelmente participarão disso de uma maneira mais atuante, de repente conversando com o pai e se isso não for possível a denúncia é o melhor caminho. Isso não quer dizer que ele será preso, pois sempre existe a possibilidade de reeducação e hoje em dia existem muitos projetos nessa área que ajudam o agressor a restaurar uma masculinidade que não seja tóxica, calcada na violência, aliás eu acho sinceramente que o agressor é tão vítima quanto o agredido e alguns desses serviços inclusive tem possibilidade de dar apoio ao agressor ,visando uma mudança de atitude.


Sofro agressões dos meus filhos. Tenho 69 anos e não sei o que fazer. Moro com eles e não tenho para onde ir.


Essa situação é muito sensível e delicada, pois ela expõe muito mais do que agressão, ela expõe desamor e dependência emocional, pois sabemos que nossos filhos são nosso projeto de vida, mas que nós não fazemos parte do projeto de vida deles. Por isso, sem saber, nos deixamos inconscientemente ser um ônus para o filhos, o que não justifica a agressão.


Aconselho-a buscar ajuda calçada no estatuto do idoso, com apoio de um advogado. Se não tiver condições financeiras em todas as cidades em que exista uma Faculdade de Direito tem assistência jurídica gratuita, e numa tentativa mais construtiva e menos traumática a ajuda de um terapeuta familiar, pois nesse caso a família toda precisa de uma redefinição e reestruturação afetiva e de papéis.


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