Porto-Indústria desvendado

Aproximar condomínios industriais e portuários faz todo o sentido

Por: Luis Claudio Santana Montenegro  -  27/10/23  -  06:16
Como parte de um sistema de transporte, o objetivo do porto é sempre o de garantir o fluxo eficiente de mercadorias em uma relação comercial
Como parte de um sistema de transporte, o objetivo do porto é sempre o de garantir o fluxo eficiente de mercadorias em uma relação comercial   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Atualmente, muito se fala sobre a conexão entre os portos e a indústria nacionais. Realmente há muitas sinergias, mas é preciso entender bem essa relação para tomarmos decisões acertadas e que favoreçam esse processo. Primeiramente, deve ficar claro que o porto não tem um fim em si mesmo. Como parte de um sistema de transporte, o objetivo do porto é sempre o de garantir o fluxo eficiente de mercadorias em uma relação comercial. Assim, o principal propósito de qualquer discussão que envolva portos é o comércio.


A constatação de que estamos errando historicamente em nossas políticas sobre o tema é que temos apenas 1,14% de participação no comércio global. Essa média só não é pior porque acaba puxada pelos setores agrícola e de mineração, ambos com forte presença no mercado mundial. Contudo, o fato é que nossa participação industrial no comércio global é realmente muito pequena.


Assumimos, no passado, que nosso mercado interno seria suficiente para sustentar indústrias fortes e apostamos todas as nossas fichas em uma política de substituição de importações. Porém, temos constatado que as escalas gigantescas de produção das indústrias que participam de cadeias globais de valor fazem com que as mercadorias produzidas fora do país cheguem no nosso mercado com preços imbatíveis, mesmo considerando todos as despesas logísticas envolvidas na importação dessas mercadorias.


Temos que corrigir urgentemente esse rumo. É necessário que possamos construir políticas industriais que nos permitam participar dessas cadeias globais de valor, das quais estamos fora em quase todos os segmentos. Isso só será possível com os incentivos corretos para atração delas, de forma a produzir aqui em larga escala, para o mercado mundial, com tecnologia, qualidade e eficiência.


É nesse ponto que os nossos portos entram na equação. Grandes cadeias produtivas, inseridas em mercados globais, só se instalarão no país e em parceria com nossa indústria local se tivermos a oferecer energia de baixo custo, mão de obra qualificada abundante e uma logística eficiente.


Qualquer solução, portanto, deve considerar conjuntamente esses três fatores, promovendo todos os esforços e incentivos para o desenvolvimento da cadeia energética nacional, para uma qualificação sólida e intensiva da nossa mão de obra, e para o aprimoramento da nossa logística.


No que diz respeito a portos, temos um sistema portuário invejável em uma nação continental, mas ainda é preciso melhorar na nossa capacidade de atrair investimentos, reduzindo burocracia e aumentando segurança jurídica nos nossos processos decisórios relacionados à infraestrutura logística.


A boa notícia é que um fator essencial, o tratamento tributário para esse modelo de desenvolvimento, já está definido na nossa Lei de Zonas de Processamento de Exportações (ZPE). Ouviremos falar cada vez mais da instalação de ZPEs próximas aos diversos portos brasileiros. Trata-se da tarefa de casa sendo feita para a variável logística de nossa equação de desenvolvimento. Aproximar esses condomínios industriais dos condomínios portuários faz todo o sentido na redução de custos e inseguranças operacionais, já que a proximidade da produção ao ponto de escoamento permite movimentos just-in-time e redução de estoques.


Abro parênteses para identificar a consequência natural desse processo: a movimentação cada vez maior de contêineres. Isso significa que, com a evolução do porto indústria, mais terminais de contêineres serão instalados nas diversas regiões do país. É chegada a hora de conectarmos, de uma vez por todas, portos e indústrias. Parabéns aos pioneiros desse movimento!


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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