Luis Claudio Santana Montenegro: Logística no metaverso

Montenegro é engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia

Por: Luis Claudio Santana Montenegro  -  28/01/22  -  10:35
Atualizado em 23/02/22 - 12:12
  Foto: Freepik

Um dos grandes desafios da logística de comércio exterior brasileira é o da interação das diversas autoridades atuantes nos portos, os chamados anuentes. Enquanto andamos a passos lentos no aprimoramento dos nossos processos burocráticos, a velocidade da evolução tecnológica tem indicado um potencial enorme de ferramentas que podem turbinar a eficiência dos processos na logística internacional.


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Na década de 80, tentou-se aplicar nos portos e aeroportos nacionais o conceito de “guichê único”, com a proposta de abrigar em um mesmo local físico as principais autoridades. A ideia se assemelhava ao de um modelo que funcionou e ainda funciona para agilizar a regularização documental dos cidadãos, os chamados Poupatempo, Na Hora e etc.


Era previsível que esse esforço não funcionaria. Além do grande número de anuentes – na época contava-se cerca de 25 a 30 autoridades atuando no comércio exterior – também o fato de que a cultura e dinâmica dos diversos processos eram extremamente distintas.


Já nos anos 2000, tentou-se evoluir, aproveitando os avanços computacionais e buscou-se desenvolver um “Sistema Único” de comércio exterior. O projeto também não teve efetividade, já que o sistema unificado atingiu um nível de complexidade tão alto que impossibilitou sua execução.


Com a criação da Secretaria Especial de Portos, em 2007, iniciou-se a discussão do que seria uma Single Window Portuária, o Projeto Porto sem Papel, e que posteriormente foi evoluindo para a Single Window de Comércio Exterior, agora capitaneada pela Receita Federal.


O conceito de Single Window proporcionou importantes avanços, pois preserva as características individuais dos processos de cada anuente e concentra todas as informações prestadas pelos usuários e processadas pelas autoridades em uma única base de dados. O modelo permite enxergar ineficiências e, portanto, uma atuação da gestão pública na busca de aprimoramentos que possam reduzir a burocracia e simplificar as exigências documentais.


Mas qual seria o caminho da evolução, para tentarmos pegar o bonde tecnológico e usar as ferramentas disponíveis para acelerar as soluções e melhorar nosso processo de comércio exterior?


Para responder essa pergunta, é necessário entendermos os motivos para a nossa burocracia excessiva, e eles estão praticamente todos associados à inseguranças processuais e à tentativa de ampliar exigências para a proteção contra irregularidades.


A partir desse diagnóstico, fica mais fácil identificar que a criação de ambientes mais confiáveis de informação permitiriam uma série de avanços, como a criação de uma taxa única para todas as autoridades, a possibilidade de inspeções aduaneiras unificadas, da automação da liberação de cargas e veículos por meio de processos de rastreamento, a antecipação de informações para desafogar o fluxo documental no momento das operações alfandegadas, dentre vários outros.


As ferramentas já estão disponíveis, e precisamos debater o seu uso e avançar rápido na sua imple-mentação, com tecnologias como: etiquetas de radiofrequência; certificações via blockchains; uso do 5G para a comunicação entre equipamentos integrados de inspeção; e por que não a realidade virtual para processos de fiscalização à distância.


A transformação digital acontece quando o que consideramos tecnologia se transforma em meio ambiente. Estou certo que o leitor já consegue visualizar todo o processo aduaneiro inserido no Metaverso. Só nos falta compreender que o avanço tecnológico é um caminho sem volta para a logística nacional.


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