Teatro do absurdo

É desolador saber que, em Manaus, pessoas estão sendo obrigadas a conseguir cilindros de oxigênio com recursos próprios

Por: Kenny Mendes  -  22/01/21  -  09:18
O mais indigno é que a população tem direito a contar com o insumo basilar nos postos de saúde
O mais indigno é que a população tem direito a contar com o insumo basilar nos postos de saúde   Foto: Pixabay

A imagem de um peixe se debatendo fora d’água, sofrendo por não conseguir respirar, é sempre incômoda. Em pleno século 21, causa revolta saber que pessoas em Manaus sejam submetidas a experimentar essa mórbida sensação.


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Oxigênio é um item básico em hospitais. Soa até redundante frisar. Não é um insumo que costuma faltar em unidades de saúde. Porque não é normal que falte. Por isso o caso na capital do Amazonas – onde a floresta ironicamente é conhecida como ‘pulmão do mundo’ – chama tanto a atenção. Não só pelas vítimas desse teatro do absurdo, mas pela negligência e descaso que originaram o fato. Que a Justiça identifique e puna com rigor os responsáveis por tal calamidade.


O problema não me é totalmente desconhecido. Durante a campanha eleitoral de 2018, eu estive em Borborema, a 390 quilômetros da Capital. Tive a oportunidade de conhecer o administrador do Hospital Municipal São Sebastião, unidade que desenvolve um importante trabalho na região central do Estado. Ele me relatou, angustiado, as dificuldades que enfrentava devido à escassez de oxigênio no local, em razão do custeio do produto. Quem sofre os efeitos, claro, é o paciente.


Aquilo ficou na minha cabeça. Imagine saber que um parente, amigo, seja quem for, está se ‘afogando’ na cama de um leito por... falta de ar. Assim que assumi a cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no ano seguinte, reservei uma das emendas impositivas a que tinha direito (R$ 250 mil) para que o hospital de Borborema construísse uma usina própria de oxigênio.


É desolador saber que, em Manaus, pessoas estão sendo obrigadas a conseguir cilindros de oxigênio com recursos próprios para tentar garantir a vida de seus familiares internados. E aqueles que não têm condições de arcar com o gasto? O que torna tudo mais indigno é o fato de que a população, que já paga seus impostos, tem direito a contar com o insumo basilar nos postos de saúde. É o mínimo.


Atualmente, estou estudando com minha equipe algum mecanismo que garanta ou, pelo menos, incentive a autossuficiência dos nossos hospitais nesse quesito. Repito: não é algo trivial a falta de oxigênio na rede hospitalar. Mal comparando, é como uma cozinha não contar com o fogão. Só não queremos que as cenas degradantes que assistimos nos últimos dias, pela TV, se repitam em Manaus, São Paulo ou qualquer lugar. É algo desumano.


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