Da caça incondicional aos bandidos ao patrocínio da impunidade

Em 2018 eu e mais de 50 milhões de brasileiros abraçamos a pauta do combate à corrupção

Por: Júnior Bozzella  -  23/05/22  -  07:02
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/   Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados

A capacidade de indignação é muito provavelmente o combustível mais poderoso de um político. É ela que nos dá a motivação para acordar de manhã todos os dias e lutar lá na Câmara dos Deputados em Brasília, nos estados e mesmo juntos aos prefeitos e lideranças dos municípios, pelos interesses do povo que nos elegeu.


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Em 2018 eu e mais de 50 milhões de brasileiros abraçamos a pauta do combate à corrupção, encampamos essa bandeira e acreditamos que estávamos dando um passo no sentido contrário de tudo que havia acontecido no Brasil nos últimos anos. Nós acreditamos que estávamos indo na contramão do mensalão e ao encontro das bandeiras da Lava Jato, a maior operação de combate à corrupção que esse país já viu.


Contudo, logo em 2019 ficou claro que havíamos sido enganados e que o Brasil continuaria seguindo o caminho da impunidade, mas agora guiado por outro motorista. Mudou-se a rota, mas não o destino! Abrir os jornais e ver todos os dias uma nova manchete de negociatas com o Centrão, de dinheiro público sendo usado para pagar aliados políticos em vez de estar sendo investido em saúde, segurança e educação enoja, mas não dá para explicar a indignação de ver que como se não bastasse ter se corrompido e se vendido ao sistema, este governo segue indo absolutamente na contramão de tudo que prometeu ao Brasil e ao povo brasileiro. E assim, ao contrário de endurecer as leis para os bandidos, vem alterando a lei para facilitar a vida dos criminosos.


Desde 2019 uma série de decretos publicados pelo presidente Jair Bolsonaro para flexibilizar a compra e o uso de armas no Brasil vem beneficiando centenas de traficantes e criminosos de todos o país. Nos últimos anos acessórios como carregadores, miras e lunetas, que aumentam a precisão e a capacidade de uma arma e que são frequentemente apreendidos em poder de organizações criminosas, deixaram de fazer parte da lista de Produtos Controlados pelo Exército (PCE).


Com as mudanças nas leis promovidas pelo atual governo, a compra, a importação e o uso desses acessórios não dependem mais de autorização militar e eles não são mais considerados restritos ou proibidos. Por exemplo, em uma portaria de janeiro de 2001, o Exército havia determinado que ficaria proibida a fabricação, a importação e o comércio de carregadores de pistolas com capacidade igual ou superior a 20 (vinte) cartuchos. Em fevereiro de 2021, um decreto publicado por Bolsonaro liberou carregadores com qualquer capacidade de munição. Agora façamos uma rápida reflexão… quem você acredita que sejam os principais consumidores de carregadores estendidos? Quem precisa de 20 cartuchos? Um cidadão de bem que faz a aquisição de uma arma para a sua própria segurança ou um bandido? A resposta é óbvia! Os maiores beneficiados pelas mudanças armamentistas no governo Bolsonaro seguem indiscriminadamente sendo traficantes e todo tipo de bandido. Um pai de família para proteger a sua casa precisa de carregadores, miras e lunetas? É certo que não!


A realidade das ruas está aí e não nos deixa mentir. O crime não diminuiu no Brasil, pelo contrário. O desemprego e a fome se transformaram nos grandes aliados da criminalidade para cooptar novas almas para o mundo do crime. A corrupção também não diminuiu no Brasil, em vez disso ela ganhou um novo e poderoso patrocinador que a cada decreto sancionado facilita ainda mais a vida dos malandros. Foram mais de 30 decretos e portarias alterando de forma brutal a comercialização de armas no nosso país e promovendo medidas que claramente facilitam o acesso do crime organizado a itens que lhes são de alto interesse, como carregadores de alta capacidade e acessórios que aumentam o poder de fogo de fuzis.


O cidadão comum, na maioria das vezes, não se dá conta do quanto essas mudanças “burocráticas” impactam o seu dia a dia, de como a flexibilização indiscriminada de alguns tipo de armamentos favorecem traficantes e a bandidagem em geral. Não foi para isso que eu saí às ruas com a bandeira do Brasil nas costas pedindo por mudanças! Certa vez eu disse: obrigado, presidente, mas nãos estamos à venda. Isso serve para qualquer um. Não “negociamos” com bandido! Buscamos aliados que acreditem e defendam as mesmas bandeiras que nós, que não se corrompam e nem se acovardem. Buscamos pessoas como você, que ainda acredita que com honestidade, união e trabalho nós vamos sim conseguir mudar o Brasil!


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