Robi da Curly Curve

O casal de suíços Paul e Ruth Emmenegger emigrou para o Brasil em 1954 e juntos tiveram três filhos

Por: Gabriel Pierin  -  19/03/24  -  06:21
Em fevereiro de 1978, Robi viajou para o Havaí com amigos e registrou ondas enormes
Em fevereiro de 1978, Robi viajou para o Havaí com amigos e registrou ondas enormes   Foto: Reprodução

O casal de suíços Paul e Ruth Emmenegger emigrou para o Brasil em 1954 e juntos tiveram três filhos. O segundo filho do casal, Roberto Emmenegger, nasceu em São Paulo, no dia 16 de junho de 1957.


Estudante do tradicional Colégio Humboldt, de origem alemã, Robi, conheceu Helmuth, tornaram-se grandes amigos e futuros sócios. Foi Robi quem introduziu Helmuth ao mundo do surfe. Ele frequentava a Praia das Pitangueiras com seu irmão Paulo, dois anos mais velho, e o pequeno George, o caçula, que se tornaria seu companheiro de surfe. Era na praia do Centro do Guarujá, onde a família mantinha um apartamento, que Robi surfou suas primeiras ondas sobre uma Glaspac MK3 e conheceu os paulistanos que marcaram presença no surfe da década de 1970, entre muitos outros, Dragão e Roberto Teixeira.


Em 1974, Robi e o amigo Helmuth Bormann começaram a fabricação das pranchas Curly Curve num barraco vizinho à casa dos Emmenegger, no número 750 da rua Verbo Divino, Granja Julieta, em 1974. Robi se dedicava ao shape, enquanto Helmuth fazia o acabamento.


O nome surgiu pela música. Os dois amigos perambulavam pelas lojas de disco Hi-fi, Museu do Disco, Facci, ou mesmo pelo Carrefour da Marginal Pinheiros, quando viram a capa de um disco da banda underground alemã de rock psicodélico, Curly Curve.


Sem capital para iniciar o negócio, a Curly Curve Surfboards firmou parceria com a loja Aerojet, na rua da Paz. Eles forneciam os blocos de poliuretano da Clark Foam, o tecido e a resina. A contrapartida, realizada com as pranchas fabricadas pela Curly, tornou a Aerojet o primeiro ponto de revenda da marca.


Tempos depois a Curly passou para os fundos da fábrica de massa folhada Arosa, propriedade de Paul e Ruth Emmenegger, pais de Robi, na rua Capitão Otávio Machado. Era o primeiro marco de expansão da marca.


Ingresso na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo em Mogi das Cruzes, em 1976, Robi conheceria o surfista Chico Preto e o renomado fotógrafo e cineasta Klaus Mitteldorf, produtor do primeiro filme de surfe brasileiro Terral. No ano seguinte, os dois fizeram parte de uma surftrip pelo Chile que rendeu uma matéria inédita na revista Brasil Surf, intitulada "Surf para pinguins?".


Em fevereiro de 1978 Robi viajou para o Havaí com Klaus, Reinaldo "Dragão" Andraus, Carbone e outros surfistas. Klaus fez registros incríveis em Super 8 das ondas enormes de Honolua Bay, em Maui. A experiência foi documentada em uma reportagem espetacular de 12 páginas na Brasil Surf: Paulistas no Hawaii. O destemido Robi guarda na sua trajetória uma das mais icônicas filmagens de um surfista brasileiro no Havaí, na década de 1970.


O visionário Robi ficou atraído também por uma outra onda e voltou contando sobre surfistas que corriam em pranchas com velas. Convencido, o pai Paul Emmenegger importou uma prancha de Windsurf da Holanda e a partir daí a ideia de produzir esses equipamentos foi ganhando forma.


A primeira dificuldade foi expandir um bloco de 4 metros de poliuretano. O molde de madeira foi construído na garagem da casa da avó de Helmuth, à rua Miranda Guerra. Nascia a primeira prancha Windsurf Curly Curve. Com o protótipo pronto, Helmuth correu suas primeiras regatas.


O processo de fabricação da Windsurf era diferenciado, tornando as pranchas mais leves e melhor acabada em relação aos concorrentes. O ritmo de produção permitia até 10 pranchas, e assim uma nova e maior fábrica da Curly surgiu na Avenida Rio Bonito, em Interlagos, em 1979. Fernando Feijão, amigo de Robi, foi um dos atletas que competiu com a Windsurf Curly Curve.


Em 1992 Robi conheceu Nuna no Canto do Moreira, em Maresias, com quem se casou e viveu por 30 anos. Depois da morte de Robi, em 22 de setembro de 2020, Nuna mudou-se para a praia de Ibiraquera, em Imbituba, Santa Catarina, onde o casal construiu uma casa e Robi gostava de velejar nos finais de semana e feriados.


Helmuth viveu em Hamburgo, na Alemanha, onde dedicou-se ao comércio automotivo. Depois de 10 anos de Mercedes-Benz e 20 de Porsche, Helmuth se aposentou em 2022. Atualmente mora em Ericeira, em Portugal, treina diariamente e pretende voltar ao windsurf.


Acompanhe nossas publicações nas redes sociais @museudosurfesantos. Coordenador de pesquisas históricas do Surfe @diniziozzi - o Pardhal.


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