A crise hídrica e a multimodalidade

Setor de transporte precisa ficar atento às questões voltadas às mudanças climáticas

Por: Flávia Takafashi  -  03/10/23  -  06:08
De maneira muito semelhante ao Brasil, cerca de 95% de todas as importações e exportações dos EUA passam pelos portos e hidrovias
De maneira muito semelhante ao Brasil, cerca de 95% de todas as importações e exportações dos EUA passam pelos portos e hidrovias   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Recentemente, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) fez uma missão para os Estados Unidos para se aprofundar no conhecimento sobre o Rio Mississipi e o seu potencial para impulsionar a multimodalidade do país norte-americano.


De maneira muito semelhante ao Brasil, cerca de 95% de todas as importações e exportações dos EUA passam pelos portos e hidrovias. Com um papel de conectar os maiores centros industriais e populacionais com os portos costeiros do país, as hidrovias norte-americanas funcionam como verdadeiras artérias drenantes de multimodalidade. E o Rio Mississipi e todos os seus canais navegáveis fazem parte dessa importante rede de transporte aquaviário local.


Foram cinco dias discutindo temas como dragagem, controle de sedimentação dos rios, navegabilidade, eclusas, modelo de exploração portuária, aproveitamento dos recursos naturais e, claro, crise hídrica. Se a água é um bem essencial quando falamos de navegação, falar de crise hídrica e dos desafios enfrentados pelos países para superar os efeitos das mudanças climáticas não poderia ficar de fora.


Dentre os vários conhecimentos adquiridos durante a missão, o monitoramento e a adoção de estratégias e obras de engenharia para minimizar os impactos da falta de chuvas e evitar a paralisação da navegação foram temas recorrentemente tratados.


Na mesma semana em que estávamos discutindo e aprendendo como trazer para o Brasil toda a expertise voltada à navegação da região do Rio Mississipi (que atua como um “funil” para a terceira maior base de drenagem do mundo, perdendo apenas para o Rio Amazonas e o Congo), o Governo Federal, que monitora atentamente a estiagem que assola os rios do Amazonas e Rondônia, liberou R$ 41 milhões para as obras emergenciais de dragagem no canal de navegação do Rio Solimões e reforçou que já liberou R$100 milhões para as ações voltadas à contratação das obras nas regiões do Rio Madeira, que atingiu o seu menor nível desde 2005 e está com a navegação já impraticável em alguns trechos.


Quem acompanha as notícias referentes ao setor aquaviário internacional sabe que o Canal do Panamá, importante conexão entre o Oceano Pacífico e o Mar do Caribe, vem enfrentando desafio semelhante por causa da escassez das chuvas e da redução do seu nível de navegabilidade.


Não é coincidência que todos estejam falando e tomando ações para resolver o problema da navegabilidade de seus países e regiões, pois de fato a crise hídrica e os efeitos das mudanças climáticas têm gerado a necessidade de um olhar bastante atento para essas questões, especialmente se elas têm o poder de impactar o transporte de bens pelos rios e canais hidroviários.


Como fruto concreto dessa troca de experiência internacional, a Antaq está na fase final de fechamento de uma parceria com a Usace (United States Army Corps of Engineers) para o desenvolvimento de atividades conjuntas voltadas à formação de um corpo técnico capacitado para elaborar, contratar, analisar e aprovar estudos e projetos relacionados à infraestrutura hidroviária.


Essa parceria é fruto do aporte orçamentário feito pelo Ministério de Portos e Aeroportos para impulsionar ainda mais a execução de estudos e ações voltados a fomentar a implementação da política pública voltada ao transporte aquaviário nacional.


Não restam dúvidas de que a criação (e manutenção) de corredores logísticos multimodais é uma medida necessária para aumentar a eficiência logística e diminuir os custos de escoamento da nossa produção. E se temos a certeza (e a temos) que uma melhor utilização dos rios e hidrovias para o transporte de mercadorias é essencial para o país, todo o setor de transporte precisa ficar ainda mais atento às questões voltadas às mudanças climáticas, especialmente a crise hídrica.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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