'Seo João' e os boleiros do BNH

Meus amigos, o Conjunto Residencial Humberto de Alencar Castelo Branco está completando 50 anos de vida. E durante um bom tempo eu vivia por ali, na quadra da Rua Alexandre Martins, no campo do Centro Comunitário, nas festinhas, nos bailes da vida, e principalmente, na casa dos meus parceiros de turma: João Antonio, Nilton Marcos, Carlos Eduardo Valente, Rogério Lopes Sales, José Carlos Gomes, o Passarinho, entre outros colegas queridos.

E nessa convivência sadia passamos boa parte do nosso tempo jogando bola. Em qualquer canto, em qualquer calçada. Além da quadra e do campo do BNH, também jogamos muito na velha sede do Brasil Futebol Clube. Era na quadra, na areia, e algumas vezes, no “campão” que para aqueles garotos dos anos 70 e 80 parecia maior do que o Maracanã.

Mas voltando as lembranças do BNH, conheci, convivi ou apenas vi alguns caras que jogavam muita bola. O nosso time era o Grêmio Recreativo Venezuela, criado pelo saudoso João de Carvalho. Seo João virou uma lenda no bairro, porque criou o time, tirou um monte de garotos da rua e ele mesmo pintava os uniformes. Muito caprichoso ele transformou um time humilde do condomínio 31 da Rua Jurubatuba numa referência para a garotada e muitos dos seus pais, que confiavam no seo João.

E não era para menos. Ele e a esposa, a também saudosa Dona Luzia acolhiam a todos como verdadeiros filhos. Com seus gênios diferentes. Ele mais durão. Ela mais doce, mas com um amor igual e verdadeiro. Foram duas das melhores pessoas que eu conheci na minha vida. Ela me chamou de “filho” várias vezes com um carinho que eu só recebi igual da minha própria mãe. Seo João era um contador de histórias dos melhores, bom papo, amigo fiel e foi um pioneiro no trabalho social.

Ninguém falava disso naquele tempo, mas ele dentro da sua simplicidade já era mestre na arte de ensinar o caminho certo. Foi o seo João que revelou muitos meninos que viraram profissionais. Ali sempre foi um celeiro de bons jogadores. O mais famoso hoje, sem dúvida, é o Emerson Palmieri, o campeão da Liga dos Campeões e Eurocopa, ele, e o irmão Giovanni também cresceram no BNH.

O Émerson sempre escreve, com orgulho, nas redes sociais, que cresceu jogando bola no BNH. O Émerson é bem novo e, claro, não conheceu seu João, mas certamente se encantaria com ele. Com suas histórias e com o seu bom coração. Seo João era um cara bem simples, mas de uma sabedoria sem igual. Sinto falta das conversas. Das broncas e conselhos. Foi um amigo especial, que já partiu há 21 anos, mas que eu lembro quase todos os dias.