Meus amigos, a madrugada de sábado para domingo foi emocionante. Nunca fiquei tão feliz de ficar acordado o tempo todo. E o motivo não poderia ser melhor: ver os brasileiros em ação na Olimpíada de Tóquio. Era surfe, skate, handebol, ginástica, natação, vôlei de praia. Ufa. Uma maratona televisiva. Como é legal essa época. Comecei a noite torcendo pelos surfistas Ítalo Ferreira e Gabriel Medina, que se classificaram. Estou sonhando, desde ontem, numa final entre eles.
Depois a prancha ficou de lado para o skate ganhar espaço. Aí veio um cara descolado, que eu tive a sorte de conhecer numa visita dele ao estúdio da TV Tribuna, que o mundo desse esporte já conhecia, mas que estava com um pouco de receio, por causa de uma contusão recente. E lá foi o Kelvin Hoefler, com seu estilo, suas manobras perfeitas, e um carisma extraordinário.
Ele começou nervoso sim, mas quando foi se soltando, deu um verdadeiro show no street. As apresentações foram impressionantes. Ousado e seguro, Kelvin enfrentou adversários mais badalados mas não se intimidou. Foi mostrando sua categoria. Ele competiu pelo pai, seo Enéas, pela mãe, dona Roberta, pelas irmãs, pelos amigos. Da vida e do esporte.
O Kelvin passa uma energia tão positiva que até alguns adversários se empolgaram com a exibição dele, basta ver a imagem do peruano Angelo Caro comemorando a medalha de prata do brasileiro. A reação simpática do skatista do Peru dobrou o número de seguidores no Instagram. Os brasileiros invadiram as redes sociais do Angelo, que viu os números subirem de 74 mil para 150 mil seguidores.
Eu escrevi sobre a família mas deixei por último a mulher do Kelvin, a Ana Paula, de propósito. A Ana Paula não teve a chance de acompanhar o marido em Tóquio, mas esteve presente em todos os momentos. Pelo celular, com a ajuda da skatista Pamela Rosa, a Ana Paula foi acalmando e incentivando o maridão. Kelvin ouvia os conselhos da esposa. “Se acalma. Você é o melhor. Você pode fazer mais”. Lá do lado dele, a Pâmela Rosa dava as dicas técnicas e alguns toques práticos. “Sai do sol. Toma um pouco de água. Tenta aquela manobra”. Ele ouviu, agradeceu, e ganhou uma medalha inédita. A primeira medalha do Brasil na nossa Olimpíada.
O garoto que fazia barulho na casa dos pais, obrigando seo Enéas a pedir desculpas aos vizinhos, agora fez história. Obrigado, Kelvin. Chorei de madrugada. E já estou com os olhos cheios de lágrimas, novamente, de ver um cara tão simples mostrar ao mundo todo seu estilo e competência. Kelvin é de Guarujá. E Guarujá é celeiro de campeões. Voltaremos ao assunto ainda nesta semana.