O desfecho da sanção do Orçamento, divulgado no começo da semana, expôs o predomínio dos interesses políticos e eleitorais sobre as demais urgências e também a falta de planejamento de uma nação. Uma prova disso é que o noticiário sobre os bastidores até se chegar ao aval do Palácio do Planalto à lei orçamentária foi quase todo dominado pelo Fundão, que patrocinará com recursos públicos as campanhas dos candidatos.
E também se R$ 1,7 bilhão seriam reservados para o aumento salarial dos policiais federais, considerados um reduto de votos pelo bolsonarismo. Porém, só foi lembrado que o Orçamento versa sobre saúde, educação e infraestrutura quando saiu a conta dos cortes nessas áreas, entre outras tão essenciais ao País.
Sob essa análise, percebe-se o tempo precioso que foi perdido sem discutir o curto prazo de setores fundamentais ao País. No caso da educação, o Orçamento sancionado traz cortes de R$ 740 milhões, atingindo programas de apoio ao desenvolvimento do ensino básico e transporte escolar.
Se o País passa por uma crise forte e a gestão federal realmente precisa empregar a tesoura, que isso ocorra de uma forma negociada com as partes interessadas e não apenas pelo crivo financeiro dos técnicos da equipe econômica e da costura do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que assumiu a palavra final sobre assuntos orçamentários.
É óbvio que Nogueira, um dos líderes do Centrão, deu prioridade às negociações para favorecer o apoio dos partidos dessa aliança, que cobra, em troca, cargos e emendas parlamentares para garantir a reeleição de seus membros.
Já o entorno do ministro da Economia, Paulo Guedes, mira o equilíbrio fiscal. Caberia aos titulares da Saúde e Educação, ou da Ciência e Tecnologia e Trabalho e Previdência, as outras duas pastas que mais sofreram cortes, entrarem com o contraponto e argumentar que seus ministérios não podem abrir mão de recursos sob risco de suspenderem serviços aos brasileiros. Se eles se manifestaram em defesa ou foram consultados, não se tem notícia.
O que impressiona é que a campanha eleitoral está próxima e educação, saúde, emprego e ciência com certeza estarão no discurso dos candidatos. Mas é desapontador que ao longo das legislaturas ou dos governos esses temas não sejam encarados com tanta eloquência ou efeitos práticos.
O predomínio da discussão de questões partidárias ou de corporações, em detrimento do foco em áreas sociais, expõe o fracasso do País no planejamento e execução das políticas públicas. De tempos em tempos, propostas sobre ensino, pesquisa científica ou capacitação profissional ganham exposição por questões pontuais ou alguma crise, são tocadas no afogadilho e depois se perdem de um mandato para outro.
Porém, para desenvolver o País de forma sustentável, é preciso ter foco em seus grandes temas e dar a eles o espaço merecido na arena política.