Sem registro não tem ocorrência

Somente com a formalização dos boletins se terá um retrato fiel da criminalidade nas cidades do País

Por: Redação  -  19/10/21  -  06:47
  Foto: Reprodução

Um fato passou quase despercebido na semana passada, em que o feriado pelo Dia da Padroeira do Brasil trouxe às cidades da região centenas de milhares de turistas já a partir da sexta-feira anterior, dia 8. As câmeras de monitoramento de uma das vias que dão acesso ao Morro do Sorocotuba, em Guarujá, levaram para toda a região imagens dramáticas de dois veículos que foram parados por uma dupla de bandidos. Saídos da mata e armados, eles abordaram os motoristas e passageiros de ambos os veículos, fazendo todos deitarem sobre o asfalto enquanto recolhiam celulares, carteiras e demais objetos de valor. Acuados, permaneceram imóveis no chão durante a ação.


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Uma das vítimas do assalto não registrou boletim de ocorrência, embora todas as evidências e pistas sobre a autoria do crime tenham ficado suficientemente registradas nas imagens, fornecendo subsídios para o esclarecimento. O fato, porém, merece algumas análises.


Todos os meses, a Secretaria de Segurança Pública divulga dados da criminalidade das regiões do Estado: homicídios, furtos, roubos, estupros, roubo de carro e outros. É com esses dados que não só a própria secretaria planeja suas ações, como formata políticas públicas mais amplas, que combatam eventual crescimento desta ou daquela modalidade de crime. Não há como planejar ações se não se tem uma fotografia real de cenários. Não registrar boletim de ocorrência, porém, é fato bastante corriqueiro por parte das vítimas, especialmente nos casos em que não houve perda material significativa ou agressão física. Estão incluídos nesse contexto roubos em geral, como de celulares, de carteiras, joias e até mesmo invasão de domicílio em que só se verificou supressão de valores de menor relevância. São muitas as justificativas das vítimas para não fazer o registro: medo de represália por parte do criminoso, desconhecimento de que boa parte dos delitos pode ter seu registro feito de forma eletrônica, no site da secretaria, e até descrédito no trabalho de investigação e apuração policial.


Na semana passada, a pesquisa “Onde Mora a Impunidade”, divulgada pelo Instituto Sou da Paz, revelou que 17 estados esclareceram 44% de homicídios; PR, com 12% de esclarecimento, e RJ, com 14% são os piores do ranking. São Paulo conseguiu esclarecer 46% dos casos. Os números revelam que o descrédito tem algum respaldo em números.


Há que se ter um foco maior nessa questão, no sentido de conscientizar as vítimas de qualquer tipo de ato criminoso a registrá-lo, ainda que não tenha havido violência física ou retirada de objetos de maior valor. Pelos canais digitais já é possível formalizar o boletim e, com ele, fazer o devido acompanhamento da investigação, exigir providências e solução para os casos. Somente com registros seguros de todas as ocorrências se terá um retrato fiel da criminalidade nas cidades, nos estados e no Brasil. Sem maquiagem ou subnotificações.


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