O recado das petroleiras

Chamou a atenção o vazio das ofertas pela Bacia Potiguar, que há poucos dias gerou comoção entre os ambientalistas

Por: Redação  -  11/10/21  -  06:39
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.   Foto: Divulgação/ANP

O fracasso do último leilão de petróleo e gás mostra que as petroleiras estão sensíveis aos novos tempos de intensa batalha pela proteção ao meio ambiente e à busca por novas fontes energéticas, inclusive com pretensões para diversificar seus negócios e obviamente lucrar com isso. O governo e até os órgãos reguladores, pelo jeito, ainda não entenderam que o jogo mudou. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizou, na quinta-feira, a 17a Rodada de Licitações, ofertando 92 blocos nas bacias de Campos, Pelotas, Santos e Potiguar. Mas apenas cinco foram arrematados – todos em Santos. Apenas Shell e Ecopetrol, da Colômbia, participaram. Há várias explicações para o resultado pífio, como a resistência das empresas a disputarem Campos, talvez pelo fracasso de aquisições anteriores, nas quais não foram confirmadas as reservas esperadas – o risco de não achar petróleo é das companhias.


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Entretanto, chamou a atenção o vazio das ofertas pela Bacia Potiguar, que há poucos dias gerou comoção entre os ambientalistas por englobar o Atol das Rocas e Fernando de Noronha, ambos de riquíssima importância ecológica. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, essa bacia mais a de Pelotas dependeriam de aval do Ibama, outro risco que as empresas não querem correr. Foram os casos da britânica BP e da francesa Total, que pagaram bônus à União para explorar a Foz do Amazonas – elas não conseguiram licenciamento ambiental, desistindo dessa área.


Há ainda outras explicações para o malogro da 17a Rodada. De acordo com o jornal Valor, gigantes como a própria Shell, Total e BP, além da Equinor, que tem áreas no Litoral Paulista, desviaram parte de seus recursos de exploração para energias solar e eólica.


Portanto, ainda que o petróleo seja uma matéria-prima com incrível capacidade de multiplicação de capitais, sendo insumo para inúmeras indústrias, essa matriz vai enfrentar mais concorrência.


Apesar de no curto prazo o barril atingir uma incrível valorização, de US$ 51 em 4 de janeiro para atuais US$ 82, um salto de 60% (cotações do tipo Brent), as petrolíferas se planejam para o longo prazo, com uma tendência de regras cada vez mais duras em relação às operações de grande impacto ambiental. Por isso, essas empresas aceleraram seus projetos por novas fronteiras petrolíferas nos últimos anos e estão razoavelmente bem servidas de reservas.


A impressão que se tem é de que as autoridades brasileiras estão sem sintonia com as tendências do mundo dos negócios, inclusive do formidável impacto que o ESG (sigla em inglês para meio ambiente, preocupações sociais e governança) passou a ter nas companhias internacionais. Por outro lado, o movimento ambiental é visto pela ala ideológica do governo como algo da esquerda, de entrave da economia. Há muita burocracia nessa área e é preciso combatê-la, mas a exploração a todo custo se tornou inaceitável.


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