Se o Governo se esforçou tanto para trocar o comando da Petrobras, é esperado que invista em um represamento de preços, pelo menos até o fim do ano. Nas contas do Palácio do Planalto, mesmo considerando os aumentos adotados na semana passada pela estatal, será possível obter até um decréscimo.
Segundo reportagens, no fim de semana a gasolina subiu R$ 0,20 e o diesel, por volta de R$ 0,60. Antes desse reajuste, com a retirada dos impostos federais e a limitação do ICMS a 17%, no Congresso a estimativa era de queda, respectivamente, de R$ 0,76 e R$ 1,65. Mesmo assim, ocorrerá uma sobra, mas que poderá desaparecer em alguns meses se o novo presidente Caio Paes de Barros não segurar os ganhos da petrolífera.
O problema é que essa estratégia pode não se sustentar. A começar pelos postos, que são livres para definir preços. Seus donos podem abusar da ganância ou serem influenciados pelo histórico da inflação inercial, quando o comerciante remarca porque acha que todos ao seu redor farão o mesmo.
Mas o que é mais arriscado ao Governo é o diesel, que já está em falta na Argentina e pode sofrer escassez mundial até setembro, conforme preveem importadores. Se o presidente tiver sorte, fatores externos desse combustível poderão colaborar: se a guerra da Ucrânia terminar nas próximas semanas, com a Rússia retornando ao mercado mundial; se os Estados Unidos entrarem em recessão devido à subida dos juros e se a China mantiver sua política de covid zero, fechando as metrópoles. São condições que, de um lado, melhorariam a oferta e, por outro, reduziriam a demanda.
Por último, há próprio mercado interno de diesel – 25% de sua oferta é importada, em sua maioria, por três distribuidoras do setor privado. Se a Petrobras segurar seus preços, essas empresas não aceitarão comprar um produto lá fora para vendê-lo aqui mais barato, tomando prejuízo. Por isso, analistas acham arriscada a estratégia do Governo de reduzir os custos com combustíveis apenas por meio do corte de tributos.
Porém, passada a eleição, independentemente do vencedor do pleito, o que será feito nas semanas posteriores? Algum tarifaço, como nos governos Sarney e Dilma Rousseff? O impacto político seria devastador, causando impopularidade no primeiro ano de Governo, a melhor época para implantar reformas, com a maioria dos eleitores da parte vencedora mais suscetível a mudanças, o que por tabela ajuda a angariar apoio no Congresso.
No fim das contas, o plano de ação do Governo contra a subida dos combustíveis se dá sobre bases incrivelmente frágeis.