O furo do teto

É muito compromisso virando uma bola de neve para o curto prazo sem saber se vai haver reformas para suportar impacto

Por: Redação  -  23/10/21  -  06:36
 Ações econômicas do Governo Federal foram notícias durante a semana
Ações econômicas do Governo Federal foram notícias durante a semana   Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

O governo tentou se descolar da narrativa de furo do teto de gastos, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que o fez - na verdade, cedeu à pressão da ala política. O estrago no mercado financeiro, foi grande e quatro técnicos do Tesouro se demitiram, alegando não poderem contrariar as regras fiscais. O que impressiona é a quantidade de improvisos para garantir ao Auxílio Brasil um pagamento médio acima de R$ 300, até então o limite considerado aceitável pela equipe econômica. Chegou-se finalmente aos R$ 400, embutindo na proposta de emenda constitucional (PEC) dos precatórios um espaço extra de R$ 83,6 bilhões nas despesas federais do próximo ano - R$ 51,1 bilhões ficarão com o programa social. A medida abriu brecha também para destinar mais recursos às emendas parlamentares.


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Hoje, na Baixada Santista, 194.421 habitantes (10,2% do total de 1,897 milhão) recebem pagamento mensal do Bolsa Família, agora o Auxílio Brasil. A previsão das prefeituras é de que seus serviços sociais enfrentarão uma corrida de pretendentes ao benefício federal. Apesar do governo considerá-lo estratégico para angariar votos nos redutos lulistas, na atual gestão se formou uma fila de espera de 2 milhões de solicitantes no País, que o ministro da Cidadania, João Roma, disse que vai zerar de uma vez. Em Itanhaém, a cidade que tem a maior proporção atendida pelo Bolsa Família na região, de 12 mil famílias em situação de pobreza, apenas 8.667 são atendidas. Portanto, além da parte financeira de fechar os rombos do programa, será preciso atingir uma formidável agilidade administrativa para cadastrar tantas pessoas em pouco tempo, considerando que muitos hoje se sustentam apenas com o Auxílio Emergencial, que paga até R$ 350 por mês e termina no próximo dia 31.


A necessidade da expansão do programa é indiscutível e até o ex-presidente Lula disse, espertamente, que o valor ideal médio seria de R$ 600. O que preocupa é como serão reservados recursos para o benefício em 2023. Definitivo mesmo, houve um aumento de 20% sobre o atual Bolsa Família, mas a diferença até R$ 400 é temporária e expira em dezembro de 2022. Para pagar essa conta, o governo vai postergar uma parte dos precatórios do próximo ano que vai se somar a outras dessas dívidas judiciais em 2023. É muito compromisso virando uma bola de neve de gastos para o curto prazo sem saber se vai haver reformas para suportar todo esse impacto. Além disso, o teto, uma regra disciplinadora que obriga o governo a gastar no ano corrente o mesmo do ano anterior mais a inflação, foi maculado e o mercado financeiro vai cobrar uma compensação por isso - mais juros para sustentar o rombo. E juros altos aniquilam o crescimento da economia. Será preciso torcer para uma queda rápida da inflação, redução do desemprego e recuperação acentuada dos parceiros mundiais do Brasil.


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