Obras de infraestrutura são uma excelente forma dos governos estimularem a economia em tempos difíceis – o que espanta é que o Brasil contraria os bons exemplos de fora. O resultado de décadas de baixo investimento nessa área é que rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas, entre outros sistemas, não acompanharam as necessidades do País. A deterioração da infraestrutura, inclusive, é um dos principais fatores do custo Brasil. Mesmo com eventual eficiência, a vantagem perante os concorrentes externos praticamente desaparece após o transporte das mercadorias.
A estratégia do investimento em infraestrutura já foi adotada pelos EUA. Ela ajudou a tirar o país da depressão nos anos 1930 e deve ser adotada agora pelo Governo Biden para projetos de pegada ambiental. A China também costuma investir em peso na infraestrutura. Aliás, esse foco do país demanda aço, o que sustentou nas últimas décadas a expansão da Vale, com bons resultados para o saldo da balança brasileira devido à exportação de minério de ferro.
No Brasil, há falta de recursos no Orçamento, condição que não é de agora, para investir em infraestrutura. O alto endividamento também inibe o uso do crédito para alavancar projetos, o que impõe a necessidade de contar com a iniciativa privada. O problema é que corrupção, editais malfeitos, que geram insegurança jurídica, e morosidade nas obras, que esticam os prazos de conclusão, aumentam os custos e paralisam os canteiros. Estima-se que no momento o País tenha pelo menos 4 mil obras inacabadas, herdadas de gestões anteriores e até agora o governo não conseguiu recursos para terminá-las.
Por isso, deve-se comemorar quando algo é feito. É o caso do VLT, que está com a segunda fase em execução entre a Avenida Conselheiro Nébias e o Terminal Valongo, em Santos. O investimento é de R$ 31 milhões e até o momento gera 170 empregos, com previsão de conclusão no próximo ano.
Também nesta semana, o Ministério da Infraestrutura conseguiu tocar três dias de leilões. O primeiro concedeu 22 aeroportos e arrecadou R$3,3 bilhões. O segundo dia contou com a vitória da Bahia Mineração (Bamin), única interessada por trecho da Ferrovia Leste-Oeste. O pagamento será baixo, de R$ 32 milhões, mas viabiliza projeto de R$ 14 bilhões. Segundo o professor da FGV Transportes, Marcus Quintella, investimentos em ferrovia são indutores de futuros projetos, gerando empregos. Na sequência, cinco terminais portuários foram concedidos à Santos Brasil e Tequimar, da Ultracargo, sinalizando disposição do mercado para investir no setor portuário.
Pena que esses casos são exceções e o nível dos investimentos no País esteja baixíssimo. A pandemia obviamente limita o crescimento da economia, mas as concessões lideradas pelo ministério ou as obras conduzidas pelo Governo de São Paulo indicam que muito mais já poderia estar sendo realizado.