A Baixada Santista seguiu a tendência do País e completou em outubro dois meses seguidos de geração de emprego (admissões menos demissões com carteira, com saldo de 1.358 em setembro e 1.278 no mês seguinte). A notícia é excelente, considerando que Black Friday, Natal e temporada devem estimular a oferta de vagas em uma região essencialmente do setor de serviços, com exceção de Cubatão, de vocação industrial. Entretanto, é preciso observar o acumulado do ano e nesse quesito a estatística não colabora - o saldo da Baixada é de 13.397 postos negativos. Para reverter esse quadro será preciso que os prefeitos em final de governo e os sucessores implantem estratégias bem-sucedidas contra a covid-19. Se houver contínua disseminação da doença por descuido das autoridades, a tendência de criação de vagas vai ser frustrada e milhares de famílias não conseguirão recuperar seus padrões de renda – o efeito será dramático.
No Brasil, o mercado de trabalho gerou 400 mil empregos com carteira em outubro. O número é vistoso e se não fosse de recomposição após paralisação da economia, seria digno de Produto Interno Bruto (PIB) elevado. Porém, o pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe) e especialista em emprego, Hélio Zylberstajn, em entrevista ao Estadão, lembra que essa geração líquida ainda é pequena: na pandemia, 20 milhões de brasileiros perderam o emprego formal ou informal. Já o IBGE apontou índice de desemprego de 14,6% no terceiro trimestre, o maior nível desde 2012.
Essas contas deixam claro que não tem como o consumo dar uma reviravolta no próximo ano. A população está sem dinheiro para compras e o que aparecer daqui para a frente será de demanda reprimida, de insegurança para consumir que aos poucos vai sendo quebrada e das recontratações que devem aumentar gradualmente. As receitas com impostos também serão fracas, como efeito dessa roda que gira devagar.
Entretanto, o governo pode acelerar esse ritmo de recuperação se voltar o seu foco para o trabalhador e o empregador e não a eleição de 2022. Nesses casos, essa atenção depende do combate à covid-19, com vacinação e desestímulo a aglomerações enquanto durar a disseminação de infecções. Porém, de forma inacreditável, o presidente da República e seu entorno ideológico ignoram essa prioridade, em seu costumeiro negacionismo. Observando as últimas décadas, não surpreende a dificuldade também deste governo para realizar reformas e privatizações. O que assusta é a letargia com que o Planalto lida com assuntos do dia a dia, como os de saúde, educação e meio ambiente. Sem receita para destravar obras paradas dos outros governos ou financiar o Renda Cidadã, o governo parece confuso, sem saber para onde se voltar. O Planalto precisa dar sinais de alguma eficiência administrativa e política para gerar confiança na sociedade e acelerar a geração de emprego.