O desafio da inflação

O BC deve saber dosar o rigor dos juros altos com seus efeitos sobre a população, que já é castigada pelo desemprego

Por: Redação  -  15/01/22  -  06:46
  Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O desfecho da inflação do ano passado, de 10,06%, é preocupante, ainda que a previsão dos economistas para 2022 seja de um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)entre 5% e 6% - mesmo assim, esse patamar estaria acima da meta buscada pelo Banco Central, de 3,5%.


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A subida dos preços tem raízes que vão da desorganização das cadeias de produção devido à pandemia até o impacto da seca no agronegócio. Por outro lado, o furo do teto, regra que limita os gastos de um atual exercício aos do ano anterior apenas corrigidos pela inflação, trouxe desconfiança ao mercado, pressionando o dólar e alimentando na outra ponta a inflação.


Dessa forma, o governo precisa ter muita responsabilidade agora, ainda mais em ano eleitoral, para evitar um rombo fiscal muito maior. Quando o Estado gasta mais do que arrecada, precisa oferecer juros elevados, tomando recursos da sociedade que antes iriam fazer a economia girar. Mas o Banco Central (BC) deve saber dosar o rigor dos juros altos com seus efeitos sobre a população, que já é castigada pelo desemprego.


Economista especializado em inflação, o coordenador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, explica de uma forma bem didática o estrago econômico e social que a alta acentuada nos preços traz ao brasileiro. Com o IPCA de 2021, de 10,06%, a cada R$ 1 mil que uma família ganhou no ano passado, R$ 100 foram destruídos pela inflação e, assim, não chegaram ao mercado consumidor. Portanto, deixaram de gerar negócios e empregos, além de diminuir o poder aquisitivo, causando grande mal-estar social, segundo explicou Braz em entrevista ao jornal Valor.


A previsão de que a inflação deste ano vai cair pela metade é uma boa notícia, mas para domá-la dessa forma há o remédio amargo da taxa Selic. Segundo economistas, o BC deverá subir os juros básicos para um pouco mais de 12% ao ano até maio, com a possibilidade dela recuar para apenas 11% até dezembro.


Com os juros básicos nessa estratosfera, o crédito fica mais caro, a renda fixa atrai recursos que iriam para o consumo ou o investimento produtivo e o desemprego persiste em níveis elevados, causando o mal-estar social citado por André Braz.


Apesar da inflação ter se disseminado pela economia, o motor das altas foi a gasolina, que subiu 47% no ano passado e nesta semana ganhou mais um empurrão de 4,85%. Além disso, a indústria ainda está com a produção atrasada, o que pressiona os preços, os materiais da construção fecharam 2021 com alta de 18% pelo Índice Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção) e a seca continua no Sul, reduzindo a oferta de alimentos. Algumas dessas pressões, como no caso do petróleo, são externas, o que dificultará o trabalho do BC. Isso vai exigir colaboração do governo por meio do rigor com seus gastos.


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