Cidades e cidadãos

Não há defesa para refutar o progresso, desde que ele venha acompanhando de transparência e informação

Por: Redação  -  16/10/21  -  06:32
 Novos avanços do VLT são motivos de reclamações de moradores de Santos
Novos avanços do VLT são motivos de reclamações de moradores de Santos   Foto: Arquivo/AT

Sim, todos - ou a maioria - já entenderam que nem sempre é possível conciliar 100% da preservação do meio urbano e garantir o desenvolvimento, a chegada de novos empreendimentos e o necessário progresso. Ocorre que, às vezes, a falta de comunicação e transparência gera conflitos entre pessoas e governos. E é legítimo que assim seja. O episódio mais recente é a queixa de moradores do bairro Encruzilhada, em Santos, pela retirada de árvores em um dos trechos por onde passará o Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT, nesta fase ligando a Conselheiro Nébias ao Valongo.


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As árvores foram suprimidas em poucos dias, deixando os moradores perplexos com o corte de espécies antigas no bairro, que promoviam sombra e habitat para vários pássaros. O corte foi feito de tal forma que inviabilizou o replantio, ou seja, as árvores foram trituradas e somente parte do tronco sobrou.


Segundo a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), responsável pela implantação do VLT, para cada uma das 226 árvores que serão retiradas no decorrer do projeto, 10 mudas serão plantadas na Cidade, totalizando 2.260 até a conclusão de todos os trajetos. A conta decorre de lei municipal e é aplicada a todos os empreendimentos que precisam suprimir árvores para se viabilizarem.


Não se discute a relevância do VLT e a promessa de que funcionará como indutor de desenvolvimento para os bairros por onde vai passar, notadamente a região central de Santos. Também não se discute que, para efeito de mobilidade urbana, é solução assertiva, pouco poluente e vista como transporte de massa. A questão não é essa. A questão diz respeito à relação que os moradores desenvolvem com suas cidades, seus bairros, suas ruas e quarteirões. É a mesma justificativa que se dá para situações em que é necessário remover famílias de áreas periféricas para outras localidades porque novos empreendimentos estão se instalando em seus terrenos, um processo conhecido como gentrificação.


As cidades são vivas, os espaços urbanos são dinâmicos e, de tempos em tempos, é natural que sejam remodelados, recebam novos equipamentos, tenham parte de seu perfil alterado para acompanhar as novas necessidades. Esse fluxo será tão mais natural quanto maior for a relação das empresas públicas com os moradores atingidos pelas mudanças. Não há defesa para refutar o progresso, desde que ele venha acompanhado de transparência e acomodação de interesses. Se é preciso remover árvores e se a lei exige o plantio na ordem de dez vezes mais mudas do que o total retirado, por que não garantir que parte dessas novas mudas fique no próprio bairro, em locais escolhidos pelos próprios moradores?


Em uma cidade que pulsa como Santos, outros episódios como esse surgirão. Que a transparência e o fluxo de informação estejam presentes antes dos fatos consumados.


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