Ajuste de contas no Brics

O Brasil não soube aproveitar sua posição nos emergentes para conquistar vantagens comerciais ou diplomáticas

Por: Da Redação  -  21/01/21  -  09:26

As dificuldades do governo para obter vacinas da Índia e a falta de diálogo com a China, que tem sua origem antes da crise da pandemia, provam que o Brasil não soube aproveitar sua posição no bloco dos emergentes para conquistar vantagens comerciais ou pelo menos diplomáticas. O País não conseguiu ter prioridade na fila do laboratório de imunizante da Índia, que deu preferência a nações vizinhas. Segundo notícias, a Índia não recebeu apoio brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC) em sua luta para quebrar patentes de vacinas, tema essencial para os asiáticos, que são grandes fornecedores mundiais dessa área. No caso da China, ironias e referências de cunho xenofóbico da ala bolsonarista e o adesismo à política externa do trumpismo cortaram o canal de comunicação do chanceler Ernesto Araújo com Pequim. Tanto que o Palácio dos Bandeirantes conversa por conta própria com a China para liberar insumos e destravar a segunda fase de produção da CoronaVac no Instituto Butantan. Um distanciamento político Brasil-China é algo inaceitável, considerando a participação chinesa nas exportações brasileiras, acima de 30%.


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O termo Brics, sigla formada pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi criado pelo economista Jim O’Neil para designar economias de rápido crescimento e que poderiam se tornar potências. Esse grupo ensaiou aproximação diplomática e formação de laços econômicos para reduzir a dependência bilateral com as nações já desenvolvidas. Porém, interesses conflitantes provocaram afastamentos ou desinteresse, como retaliações comerciais recentes entre China e Índia.


No caso brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro visitou os dois países asiáticos, sem grandes resultados. A aversão do bolsonarismo à China continua e não há sinais de que o comércio exterior brasileiro tenha conseguido entrar de cabeça no mercado indiano. A Índia também produz commodities e é um gigante da tecnologia e do setor farmacêutico, mais propenso a exportar. Daí a necessidade de desenvolver um trabalho de aproximação para quebrar as barreiras. Porém, por questões ideológicas e até religiosas, o governo investiu em poucas opções, como EUA, Israel e Japão, e agora está isolado internacionalmente com a ascensão do americano Joe Biden.


Seja no lado político ou comercial, a ação diplomática do atual governo é desastrosa. A promessa inicial era ser pragmático e não depender do Mercosul para fechar acordos – nesse campo não há resultados concretos, a não ser a grande possibilidade de naufragar o entendimento do Mercosul com a União Europeia.


Tamanha inabilidade agora tem reflexos na busca mundial por vacinas e erros nessa área só colaboram para aumentar a perda de vidas. Considerada a urgência sanitária, o Itamarati precisa rever sua política e retomar a tradição brasileira nessa área, da moderação, para se reaproximar dos emergentes.


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