Dois anos de DATaPort: lições sobre os dados do setor portuário

Murillo Barbosa é presidente da ATP; colaborou Bárbara Rosa, analista de mercado da ATP

Por: Murillo Barbosa e Bárbara Rosa  -  25/06/22  -  06:16
Atualizado em 25/06/22 - 13:15
  Foto: Pixabay

Em julho de 2020, a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP) lançou a sua primeira plataforma de dados do setor portuário: o DATaPort. Inicialmente conjecturado para a oferta de informações dos Terminais de Uso Privado (TUP), o banco tinha a intenção de reunir todos os dados oficiais do setor em uma única base on-line. A ideia era aparentemente simples: trazer os dados fornecidos pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Marinha, Receita Federal e outras entidades nacionais e internacionais para a plataforma. O que não se esperava era a alta carência de dados oficiais do setor portuário.


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Universidades, bancos, empresas especializadas em investimentos e entidades do setor público demandavam desde informações mais complexas, como o total de investimentos (realizados e futuros), até dados relativamente mais simples e que deveriam ser de fácil acesso, como a quantidade de terminais portuários privados autorizados. A solicitação dos dados era realizada em sua maior parte diretamente aos órgãos públicos, via e-SIC (Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão), e a resposta padrão recebida sempre era: “tendo em vista a quantidade de processos existentes, a tentativa de consolidação seria desproporcional”. Limites de orçamento, carência de servidores e alta demanda no serviço público são problemas regulares e velhos conhecidos. Patrick Verhoeven, diretor da International Association of Ports and Harbors (IAPH), foi certeiro ao afirmar que “o setor portuário é notório por sua falta de dados (comparáveis)”.


No entanto, não conhecer nem ter acesso aos dados reduz a velocidade dos estudos que fundamentam a vontade de investimentos, bem como parcerias e pesquisas importantes para o setor. Soluções que auxiliam no aumento da produtividade, redução de custos e identificação de futuros gargalos ou oportunidades no setor portuário passam pelo exame e análise de dados. A urgência foi posta e a ATP abraçou a tarefa de captar, analisar e modelar os dados de todo o setor portuário e não apenas aqueles referentes aos TUP. O DATaPort se tornou um importante ativo da ATP e a plataforma se consolida cada vez mais como referência no setor. A associação recebe diariamente pedidos de informações de diversas entidades públicas e privadas, tais como BNDES, bancos, fundos de investimentos, universidades, Ministério da Infraestrutura, Antaq, Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais e Vias Navegáveis (Conportos), entidades internacionais e imprensa.


Hoje, a plataforma já possui dados de investimentos, especificando inclusive o destino. Traz informações individuais dos terminais, como quantidade de berços, acessos, calado e capacidades estática e dinâmica. Inclui informações históricas, como quantidade de terminais autorizados por ano e número de anúncios públicos. Mas ainda temos muito a evoluir. Carecemos dos dados chamados “sociais”. Como os portos estão investindo no diálogo porto-cidade, na inclusão e equidade de gênero, na infraestrutura resiliente ao clima, na energia, na segurança e na ética? O discurso da importância de ações ESG está saindo do papel e se tornando parte das ações do sistema portuário. Para isso, é necessário medir o que, de fato, fazemos e faremos. Precisamos de dados.


Para tanto, o setor portuário tem que mudar sua mentalidade. Dados não são ferramentas para aprimorar a infraestrutura, dados fazem parte do conjunto de serviços fundamentais que compõem a própria infraestrutura. Com sua função estratégica, o DATaPort amplia a transparência e promove o acesso à informação para o setor portuário, para a imprensa, tomadores de decisão e para a sociedade como um todo, além de contribuir, decisivamente, para o planejamento da logística nacional.


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